O varejo de vestuário foi um dos mais impactados pela pandemia de Covid-19. Isso por causa das medidas de isolamento social que levaram ao fechamento de lojas físicas.
Mesmo com a reabertura após a fase mais aguda da pandemia, as vendas nas varejistas de vestuário com ações em bolsa, como Lojas Renner (LREN3), Guararapes-Riachuelo (GUAR3), C&A (CEAB3) e Hering (HGTX3) no terceiro trimestre ainda ficaram abaixo do registrado no mesmo período de 2019.
Mas e o que esperar agora para os próximos meses das ações das empresas do setor?
De acordo com análise do BTG, deve haver a continuidade da tendência de recuperação já observada desde o início do segundo trimestre de 2020.
O Índice de Confiança do Empresário (ICEC) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) reforça otimismo com a recuperação do setor. Isso porque o índice voltou ao patamar dos 100 pontos e fechará o mês de novembro em 100,6 – alta de 4,8% em relação a outubro.
Porém, as incertezas ainda são muitas, e não é possível, por exemplo, esperar para esse Natal, uma data importante para o varejo de vestuário, resultados acima dos anos anteriores. Isso porque a pandemia ainda influencia a confiança do consumidor.
Menos dinheiro na praça
Trabalhadores que tiveram ou têm o contrato suspenso pela empresa receberão um valor menor de 13º salário em 2020, tendo menos dinheiro em mãos para consumir.
De acordo com projeção do Insper, com o corte deixarão de ser injetados na economia aproximadamente R$ 15 bilhões, informou reportagem da Folha. Fora isso, há R$ 24 bilhões de beneficiários do INSS que não serão pagos em dezembro. O valor se refere à segunda parcela do décimo terceiro salário antecipada em meio à crise.
Desta forma, são quase R$ 40 bilhões a menos circulando no fim do ano.
O fim do auxílio emergencial e de outras medidas do governo para mitigar os impactos da crise pioram a percepção do consumidor, além do aumento do desemprego e a redução da renda.
A Associação Comercial de São Paulo prevê que as vendas de final de ano devem empatar com os resultados do ano passado ou, em um cenário mais otimista, crescer entre 1% e 2%.
No entanto, o economista Altamiro Carvalho explica que os dados representam uma média do varejo e setores passam pelo período de forma distinta. A maior parte do crescimento virá de alimentos (supermercados). Vestuário, por exemplo, vai ter desempenho muito inferior.
Mudança digital no vestuário
Na frente estrutural, a tendência desde o início da pandemia foi de migração de off-line para consumo on-line, com mais vendedores, tráfego, variedade e frequência, movimento que persistiu no terceiro trimestre deste ano. O BTG vê isso como um legado para os próximos anos, avançando no desenvolvimento do e-commerce.
Lojas Renner, por exemplo, registraram um aumento de mais de 200% nas transações digitais, o que representou 16% no total de vendas. O fluxo de clientes no período aumentou 196% em relação ao trimestre anterior, mas metade desse crescimento foi pelo app.
A C&A (CEAB3) registrou uma elevação das vendas omni channel de 441%. O app superou 3 milhões de usuários ativos mensais. E as vendas pelo whatsapp foi instalada em 260 das 289 lojas da rede.
Com relação à Riachuelo (GUAR3), as vendas realizadas no canal digital cresceram 380,3% no terceiro trimestre e representaram 12,3% das vendas totais. ante cerca de 2% em igual período do ano passado. O ticket médio de compra por cliente em canais digitais foi de R$ 389, avanço de 33% sobre igual período de 2019.
A Hering (HGTX3) viu suas vendas pelo e-commerce cresceram 161% e representarem 17% do faturamento.
Importante frisar que essa expansão do comércio eletrônico se deu mesmo com as lojas físicas abertas desde meados de agosto.
Na avaliação do banco, o e-commerce deve crescer em um ritmo secular em 2020 e é razoável supor uma tendência de desaceleração nos próximos trimestres. Primeiro porque a base de comparação passa a ser mais forte e depois porque deve acabar a ajuda emergencial no próximo ano.
Lojas Renner (LREN3)
Para a corretora Ágora, a Lojas Renner superou bem os desafios da pandemia durante o terceiro trimestre e agora há luz clara no fim do túnel, dada a declaração de perspectiva otimista da administração.
As falas dos gestores devem dar aos investidores alguma confiança de que o segmento de roupas está começando a voltar à normalidade após seis meses muito difíceis. Os argumentos apresentados foram o crescimento das vendas mesmas lojas em setembro; o tráfego de consumidores estar quase no mesmo patamar em relação ao ano passado; as novas coleções foram bem recebidas em setembro; e a crença de que no quarto trimestre a empresa poderá retornar a um patamar de vendas e lucratividade “próximo do normal”.
Embora as vendas no negócio de varejo (-15%) e o lucro bruto (-25%) tenham sido fracos no terceiro trimestre, a administração da Renner disse que está vendo um cenário muito diferente no final do trimestre e no início do importante trimestre de pico.
Assim, a Ágora espera que isso será visto como uma leitura positiva também para os outros varejistas de roupas listados. Além disso, a aceleração do crescimento do e-commerce deve dar aos investidores a confiança de que a Renner pode executar tão bem neste canal quanto historicamente tem executado em suas lojas físicas.
Com as ações negociadas em quase 30 vezes Preço / Lucro (P/L) estimado para 2021, a corretora mantém recomendação neutra por enquanto.
C&A (CEAB3)
Da mesma forma que a Lojas Renner, a C&A, apesar do momento desafiador para o varejo de vestuário e calçados no Brasil, tem sido capaz de navegar pela crise e acelerar importantes iniciativas digitais.
A C&A reportou no terceiro trimestre um lucro menor do que o estimado pelo BBI, na linha Ebtida (R$ 65 milhões contra R$ 79 milhões pela metodologia IFRS16), reforçam o progresso da empresa na sua transformação digital.
A receita caiu 14%, em linha com o esperado pelo BBI e veio um pouco melhor que a da Renner e a queda da margem bruta da mercadoria de 2 p.p. também foi melhor que a da Renner (-6,6 p.p.), Guararapes (-4,6 p.p.) e Marisa (-8,8 p.p.).
De acordo com a Ágora, a varejista de moda continua a investir em iniciativas de cadeia de suprimentos, um pilar fundamental do IPO do ano passado, embora este seja um plano de longo prazo de vários anos que mostrará resultados graduais em vez de imediatos.
No curto prazo, a época chave do Natal está no horizonte e, do jeito que as coisas estão, pode ser um período relativamente normal, o que é um bom presságio para os resultados.
A corretora considera que, olhando para o próximo ano, com investidores preocupados com a ressaca do programa de estímulo do governo, vestuário não é um segmento ruim para se posicionar no setor de varejo, dado o menor impacto positivo na comparação com outras categorias este ano.
Por fim, no longo prazo, a Ágora continua otimista com a revitalização da C&A. Assim, mantém recomendação de compra para o papel.
Hering (HGTX3)
A Hering também teve um resultado gradualmente melhor no terceiro trimestre na comparação com o segundo embora ainda fracos, na avaliação do BTG Pactual. O destaque positivo, segundo o banco, foi o canal webstore.
Apesar do recente desempenho inferior (HGTX3 caiu 52% no acumulado do ano, negociando a 18 vezes P/L 21E), o BTG continua a ver uma recuperação gradual para a companhia nos próximos trimestres (como para todos os varejistas de vestuário sob sua cobertura). Isso porque a empresa ainda é atingida pelo menor tráfego nas lojas, aumento das taxas de desemprego e menor intenção de compra por parte das famílias.
Dessa forma, o banco sustenta sua recomendação neutra para a Hering.

Fonte: BTG
Guararapes (GUAR3)
A Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, assim com suas rivais, aposta no e-commerce para superar a crise do Covid-19.
Em teleconferência com analistas, o presidente da varejista, Oswaldo Nunes, disse que a tecnologia representou 75% dos investimentos no acumulado do ano até setembro, incluindo omnichannel, superaplicativo, inteligência artificial, segurança e adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A exemplo das concorrentes, a companhia prevê a continuidade de expansão do comércio eletrônico. No entanto, também investe em novos formatos de loja física, com a Carter’s, de roupa infantil, marca norte-americana que era vendida nas lojas por meio de um contrato de licença. Tem ainda a recém-lançada Casa Riachuelo, com itens para casa e decoração.
Consolidação
No Brasil, o pequeno varejo responde por 37% do faturamento do setor e 97% de todas empresas mais expostas aos efeitos negativos da Covid-19, que levaram ao fechamento de lojas e a queda livre nos gastos do consumidor. Muitos varejistas tiveram que fazer duras escolhas, incluindo desligamento temporário ou permanente e licença de funcionários.
Na crise de 2015 e 2016 no setor de varejo do Brasil, aproximadamente 200 mil varejistas (principalmente empresas menores) fecharam.
Em 2020, desde o início da pandemia, 135 mil lojas abaixaram as portas, principalmente players menores. Até o início de 2020, a visão otimista do setor foi baseada em uma recuperação econômica gradual e na correlação com o desempenho das empresas. Agora, com alguns segmentos não voltando aos níveis de vendas de 2019 no próximo ano, o BTG vê o varejo muito mais como uma consolidação (ou de mais ganhos de market share) envolvendo empresas bem administradas e capitalizadas.
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