Outro dia me deparei com mais uma estranheza dos mercados nos dias atuais:
“[…] um terço de todas as negociações de ações do S&P 500 tem sido executada nos últimos 10 minutos do pregão. E esse padrão também se verifica na Europa, onde estudos empíricos sugerem que a tendência pode estar distorcendo a formação de preços e produzindo efeitos adversos na liquidez, em termos de spreads relativos mais dilatados e menor profundidade no livro de ordens (Bender et. al, 2024).”
Esse trecho veio da última carta da Dynamo, uma gestora tradicional, conhecida por suas análises profundas e abordagem bottom-up – ou seja, investigam investimentos a fundo, olhando para os negócios e a gestão das empresas antes de tomar decisões.
Eles estarem preocupados com isso me chama atenção por vários motivos:
1) Velocidade x Precisão
A própria carta explica que grande parte desse comportamento vem do crescimento dos fundos passivos e da automação das negociações. Hoje, estima-se que 70% do volume negociado nos EUA seja feito por robôs. Quanto maiores as gestoras de fundos passivos – os mesmos ETFs que você provavelmente tem na carteira –, mais esse problema se agrava.
O ponto é que os algoritmos de alta frequência buscam padrões no mercado que, por sua vez, dependem dos traders mais lentos. Isso faz com que os movimentos fiquem cada vez mais bruscos e sem sentido.
Lembra do Flash Crash de 2010, quando o S&P 500 caiu 9% e se recuperou em minutos? Pois é, os estudos mais recentes mostram que o crescimento dos algoritmos ajudou a empurrar os preços ainda mais longe dos fundamentos.
2) Preços autorreferenciados
A consequência disso é que, no curto prazo, os preços estão sendo mais influenciados pelo volume de negociação do que pelos fundamentos das empresas.
Um estudo de Bouchaud (2018) reforça essa ideia: modelos quantitativos sugerem que 80% da variação dos preços vem de efeitos autorreferenciados, ou seja, o próprio mercado alimentando sua volatilidade.
Tentar agir rápido nesse ambiente pode ser mais perigoso do que oportunista. É tipo discutir com o ChatGPT: você pode até achar que está ganhando, mas não necessariamente está certo.
3) O que o preço está dizendo, tornou-se mais difícil de digerir
Para quem, como eu, tem um viés fundamentalista, essa nova dinâmica não é necessariamente ruim. Quanto maior a discrepância entre preço e valor, maior a oportunidade.
O problema é que ficou mais difícil comparar sua visão para um ativo com a “opinião” do mercado. Não é raro uma empresa divulgar seus resultados à noite e, no dia seguinte, as ações oscilarem forte entre positivo e negativo várias vezes antes do meio-dia.
É tipo tentar contar de 1 a 1 mil assistindo um stand-up.
4) Adapte-se ou morra
Ver a Dynamo falando sobre isso mostra que até os mais tradicionais estão se abrindo para data science e analytics no suporte às decisões de investimento.
Minha dica? Evite operar na abertura e no fechamento do mercado, especialmente se você não for trader. Deixe esses momentos para os robôs e os alucinados.
Prefira a precisão à velocidade. Sempre.
Converse com seu assessor para garantir que sua carteira está calibrada a partir de uma análise precisa e capaz de capturar oportunidades.
Dinheiro não aceita desaforo.
Por Felipe Paletta, analista CNPI da EQI+.
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