Seis ou sete meses. Esse foi o prazo estimado pelo presidente Jair Bolsonaro para o Brasil se recuperar dos efeitos da crise provocada pela pandemia de coronavírus.
Nesta quinta (19), em sua tradicional live transmitida pelo Facebook, Bolsonaro – utilizando máscara — fez projeções para o pico dos casos da Covid-19 no País e sobre o fim da crise.
“A gente espera, acha, que três ou quatro meses essa crise, esse pico do vírus, diminuirá e a partir de uns seis ou sete meses os países, o Brasil no caso, entra na normalidade”, declarou.
Críticas e ironia
O presidente abriu a transmissão comentando que, dentro de dois dias, comemorará seu aniversário.
Fez ironias a jornalistas que criticam o governo.
“Daqui a dois dias vai ter uma festa aqui em casa. Meu aniversário. Eu, minha esposa e minhas duas filhas. Atenção, imprensa. Ou será que estou proibido de comemorar meu aniversário?”.
Parte da live de Bolsonaro, que durou cerca de 11 minutos, também foi direcionada para criticar as medidas de alguns governos estaduais para conter a propagação da Covid-19.
“Algumas autoridades estaduais estão tomando medidas, e têm tido reclamação e elogio também. Mas eu deixo claro que o remédio quando é em excesso pode não fazer bem ao paciente”, disparou, para, na sequência, explicar.
“Uns querendo fechar os supermercados, outros querendo fechar os aeroportos, outros querendo botar uma barreira entre as divisas dos estados, fechando as academias. A economia tem que funcionar, porque, caso contrário, as pessoas vão ficar em casa e se alimentar do nada. Tem que buscar meio de sobrevivência e, se faltar emprego, falta o pão em casa e os problemas se acumulam”, concluiu.
“Panelaços” contra e a favor do governo
O presidente Jair Bolsonaro foi o centro de “panelaços” por três dias seguidos. As manifestações contra o governo aconteceram em algumas das principais capitais do País, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife.
Ocorreram durante a entrevista coletiva que ele concedeu nesta quarta à tarde, ao lado de ministros, e à noite, no mesmo dia. Os protestos foram marcados pelas redes sociais.
Na terça os protestos começaram após o governo enviar pedido para que o Congresso reconhecesse o estado de calamidade pública por causa da crise da pandemia.
Vídeo dos panelaços circularam massivamente pelas redes sociais. Viraram trending topic no Twitter.
Foram tema, na quarta, de matéria de cinco minutos no Jornal Nacional e no Jornal da Globo.
Nesta quinta-feira, durante a live que transmitiu via Facebook, o movimento foi menor, mas gritos de “Fora, Bolsonaro” puderam ser observados nas janelas dos prédios das mesmas capitais.
Houve manifestações de apoio também, na quarta, em menor número, feitas na janela de edifícios. Moradores gritaram “Mito” enquanto batiam panelas.
Medidas contra o coronavírus
Na quarta-feira, em entrevista coletiva concedida ao lado de seus principais ministros, Jair Bolsonaro anunciou mais uma série de medidas para conter o avanço do coronavírus e da Covid-19.
“Teremos dias difíceis, dias duros pela frente. Serão menos difíceis se cada um de vocês se preocupar consigo, com seus parentes e com os seus amigos. Seguindo os preceitos ditados pelo Ministério da Saúde, podemos alongar a curva da infecção”.
O ministro Paulo Guedes, incumbido de anunciar as medidas de âmbito econômico, iniciou sua participação afirmando que “a saúde dos brasileiros está acima de outros interesses” e que, por isso, o governo recorreu ao artigo 65 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que libera recursos públicos para o combate ao coronavírus”.
Guedes reafirmou medidas emergenciais já anunciadas, que somam R$ 147,3 bilhões em recursos.
Entre elas, estão os desembolsos de R$ 83,4 bilhões à população mais vulnerável e R$ 59,4 bilhões para manutenção de empregos. Também há R$ 4,5 bilhões em rubricas específicas para o combate à pandemia.
Entre as principais medidas já adotadas e anunciadas pelo governo brasileiro estão englobados o 13º salário dos aposentados, a suspensão da prova de vida dos beneficiários do INSS e o crédito consignado.
Pacote de R$ 15 bi
Guedes ressaltou ainda que haverá uma proteção adicional aos trabalhadores autônomos e informais, com um valor de benefício de R$ 200 para quem não recebe outra assistência, como o Bolsa Família ou o BPC.
As medidas, segundo o ministro, terão um custo de R$ 5 bilhões ao mês.
Esse pacote somará no total R$ 15 bilhões a “pessoas desassistidas”.
Anunciou que para proteger os trabalhadores informais, o governo distribuirá vouchers (cupons) por três meses.
A medida que consumirá R$ 15 bilhões – R$ 5 bilhões por mês – terá como objetivo, segundo o ministro, amparar as camadas mais vulneráveis à crise econômica criada pela pandemia de coronavírus.
O benefício terá valor equivalente ao do Bolsa Família e começará a ser distribuído nas próximas semanas.
Vouchers para trabalhadores “informais”
Os vouchers poderão ser retirados por pessoas inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, instrumento administrado pelo Ministério da Cidadania que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, desde que o beneficiário não receba nenhum benefício social, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Os recursos servirão para garantir, segundo o ministro, auxílio mensal de R$ 200 para autônomos durante a crise causada pela pandemia.
O dinheiro será destinado para trabalhadores sem rendimentos fixos e que não recebem benefícios da previdência.
“Não tem ninguém mais tomando táxi? O chofer pode passar na Caixa Econômica Federal, ou no INSSpara sacá-lo. Poderá fazer isso virtualmente também”, explicou o ministro.
Esse volume de recursos, no entanto, só será autorizado quando o Congresso aprovar o decreto de calamidade pública, que permite ao governo aumentar a meta fiscal.
Os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), declararam que vão apoiar a medida. Avisaram ainda que vão acelerar votações no Congresso.
Aviação: socorro a empresas do setor aéreo
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, afirmou que o governo vai socorrer as empresas do setor aéreo e que não quer que “elas quebrem”.
“Não queremos a quebra abrupta da demanda, e as empresas tem custo em dólar, e vamos adotar medidas para preservar o caixa das empresas”.
Segundo Freitas, a “quebra” e a descontinuidade das empresas trará problemas de oferta, com impacto nas tarifas.
“Precisamos preservar as empresas regionais pequenas”, disse, acrescentando que haverá um medidas para melhorar o fluxo de caixa das empresas.
O líder da infraestrutura afirmou ainda que estão em análise medidas nos portos, para que se mantenham e funcionamento, e aos caminhoneiros.
Adiamento do recolhimento de tarifas
De acordo com o setor, a queda do número de voos internacionais chegou a 85%, enquanto a demanda doméstica caiu 50%.
Durante a coletiva de imprensa do governo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas citou as medidas que foram adotadas, entre elas a postergação do recolhimento de tarifas de navegação aérea e do pagamento das outorgas aeroportuárias, que são as parcelas pagas ao governo na privatização dos aeroportos.
Outra medida é a prorrogação das obrigações de reembolso de passagens em dinheiro.
“Caiu absurdamente a quantidade demandada, tanto no internacional, quanto no doméstico. As empresas têm custo em dólar, dificuldade de caixa, e algumas medidas estão sendo tomadas para preservar o caixa das empresas”, disse Freitas.
Ele também falou em adotar prazo maior para renovação da validade de documentos como a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), já que os atendimentos de consulta e procedimentos presenciais de renovação estão sendo suspensos nos estados.
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