À primeira vista, a oscilação do valor do dólar tem um impacto óbvio para quem vai viajar: quem vai para Nova York curtir a virada de ano provavelmente vai gastar bem mais se a conversão do real para a moeda americana for maior. Mas além desse caso, é importante saber que a moeda afeta nossa economia de outras maneiras, apresentando consequências em múltiplos níveis.
A cotação real-dólar é diretamente influenciada não apenas pelas relações individuais de cada moeda, mas também por aspectos mais geopolíticos, como a guerra comercial entre alguns países, ou a proliferação global de uma pandemia que afeta a economia do planeta inteiro. Ainda assim, muito disso se dá dentro do campo das especulações: temores sobre o potencial de investimento em economias desenvolvidas causam medo nos investidores, que por sua vez são responsáveis pela flutuação da moeda.
Quem ganha e quem perde?
Numa escala microeconômica, essas flutuações de moeda são repassadas em diferentes graus a diferentes produtos. Elas podem, também, ser absorvidas pelo lojista ou importador caso o impacto previsto não seja uma boa ideia. No mercado tecnológico, uma empresa como a Apple pode manter os preços de um iPhone a R$3000 mesmo com a flutuação do dólar justamente porque já existe uma margem específica e uma expectativa dentro da cadeia de suprimentos dos revendedores. Já o repasse direto da mudança do dólar para a inflação e para os preços comerciais é chamado de pass-through cambial.
Em outro espectro econômico, temos também o aumento nos combustíveis e de produtos que usam matéria-prima importada. O caso dos medicamentos é ainda mais observável agora, com a proliferação do COVID-19. Segundo uma reportagem da BBC publicada no ano passado, as altas do dólar tendem causam efeitos permanentes a longo prazo nos custos para empresas.
O câmbio ocorre também por meio de concessões e privatizações, o que inclui construções ou mesmo a venda de ações outrora administradas pelo governo. Essa entrada cambial também afeta a dinâmica entre dólar e real, trazendo bilhões em investimentos que podem estabilizar a moeda e baratear alguns bens.
Por outro lado, também temos os exportadores. Mas a verdade é que bens produzidos em indústria não são commodities. Como não é um processo simples, e envolve fornecedores, pesquisa, desenvolvimento e design, uma alta temporária do dólar pode não ser tão imediata. O exportador ainda depende da economia local e leva tempo até transportar o produto final.
Em novembro do ano passado, Paulo Guedes sugeriu não haver motivo para se preocupar. Isso porque a inflação estava controlada e o câmbio estável e desvalorizado facilitava exportações. Em janeiro deste ano, semanas antes da crise pandêmica, o ministro disse que o ambiente ao redor da alta do dólar é “o novo normal”, apontando uma baixa nos juros e na inflação ao lado do câmbio alto. Mas e agora, onde investir?
A grana é sempre mais verde no vizinho
Ações de empresas americanas: investir na bolsa americana é uma possibilidade graças às BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que permitem a aquisição de papéis da mesma forma que se compra ações de empresas brasileiras. Você ainda terá de se preocupar com o imposto de renda, mas em momentos de crise, sempre há bons investimentos escondidos. Ações da ZOOM, empresa de videoconferências, dispararam graças às recentes quarentenas globais, chegando a valer mais que as da Uber.
Exchange Traded Funds (ETF): os fundos que investem em ações da bolsa. Assim como temos o Ibovespa, você pode tentar a sorte em índices como o S&P 500. As taxas de administração são baixas, mas se quiser saber mais, temos um guia.
Dólar futuro: se você quiser algo mais amplo, pode ser uma boa ideia investir/apostar nas futuras cotações do dólar. É um tipo mais vigoroso de aplicação, mas é possível ser recompensado pela ousadia.
Fundos cambiais: os fundos cambiais, além da taxa de administração e do imposto de renda, ainda sofrem por outros custos, como IOF, além de não ser tão viáveis para aplicações de curto prazo. Ainda assim, as taxas de administração são ainda menores que o dólar em espécie, então é possível investir pensando no longo prazo.