Desde sua inauguração, em 1999, a Starbucks tem mais de 1.100 lojas, espalhadas em 75 cidades da Coreia do Sul. A rede no país emprega mais de de 13 mil pessoas. A Starbucks Korea é um modelo de cidadania corporativa, com uma agenda de impacto social forte e atrativa.
Para se ter ideia da abrangência social da empresa, foi criada, há seis anos, a Community Store, no bairro Daehakro, em Seul. As Community Stores se concentram em três pilares: investir em jovens que buscam oportunidades, promover a sustentabilidade ambiental e comemorar a herança cultural coreana.
A cada compra nesse tipo de loja, 30 centavos de dólar são doados à Green Umbrella ChildFund Korea, que apoia o desenvolvimento de habilidades para jovens através do Programa de Liderança Juvenil Abrangente da Starbucks. Nos últimos cinco anos, as compras de clientes geraram mais de US$ 830 mil para o programa.
Diferença
Na Coreia, a Starbucks é um caso a parte do restante do mundo. Por exemplo, a única Starbucks do mundo onde o nome da empresa é grafado no alfabeto local é em Insadong, um bairro tradicional e boêmio de Seul. Todo letreiro da Starbucks ao redor do mundo é em inglês, exceto na rua principal de Insadong, onde toda e qualquer loja, seja de qual parte do mundo for, tem seu nome grafado em coreano.
Por que a Starbucks permite isso? Porque a Coreia é diferente para a empresa.
Ela não só é a rede de venda de café mais famosa do planeta, como constantemente tenta expandir seus tentáculos. Já tentou ser selo de música e vender CDs exclusivamente nas suas lojas, por exemplo, com sucesso até a chegada das plataformas de streaming.
Mas na Coreia do Sul, a Starbucks está entrando na seara bancária – e preocupando o setor, como uma forte concorrente.
Dinheiro em caixa e circulação
Os bancos locais estão preocupados com os gift cards oferecidos pela empresa. Os gift cards são cartões pré-pagos que podem ser usados tanto para presentear alguém, ou funcionários, como para o consumidor assíduo ter vantagens. O cliente pode carregar esse cartão com dinheiro e depois ir comprar café em qualquer loja de forma rápida e prática.
Acontece que esse é um adiantamento que os clientes dão à empresa, acreditando que conseguirão resgatar o que compraram a hora que quiser. Eles se tornam pequenos credores. A companhia, de fato, trabalha arduamente para mostrar que merece essa confiança – seja em ações de marketing, seja em trabalhos sociais, como a Community Store, seja na publicidade agressiva.
Na 30 mil lojas em todo o mundo, os gift cards movimentaram a bagatela de US$ 1,6 bilhões. É um dinheiro que ela pega emprestado sem pagar juros.
Com tanto dinheiro assim, os bancos coreanos acenderam um sinal de alerta. Eles argumentam que essa é uma forma do Starbucks distribuir crédito aos seus clientes, assim como o banco faz. Porém, por não ser um banco, a empresa não está submetida às rígidas regulamentações, impostos e juros, como os bancos estão.
Criptomoedas
Em abril de 2019, Gavin Brown, fundador da Blockchain Capital, sugeriu que as multinacionais lançarem suas próprias moedas, assim como a Starbucks está fazendo com seus gift cards e pretende migrar para a criptomoeda.
Segundo o site Korea Times, os bancos sul-coreanos estão demonstrando preocupações com o Starbucks, descrevendo a rede de lojas como um potencial rival que poderia ameaçar a sobrevivência dos grupos bancários nos próximos anos.
Aos poucos a Starbucks estaria migrando para a tecnologia de blockchain e criptomoedas para facilitar o gerenciamento desses cartões e de todo o dinheiro que circula pelos “créditos” dados pelos clientes.
Os mais de US$ 1.6 bilhões colocados nos cartões são mais do que alguns bancos menores da Coreia do Sul conseguem arrecadar durante um período maior. Com as criptomoedas e a blockchain, o gerenciamento dessa grande quantidade de dinheiro fica mais fácil.
O sistema de gift cards já é em si um problema para os bancos tradicionais, que não vêem esse dinheiro passando por seus caixas – embora os clientes primeiramente usem o sistema e a empresa, no final, acabe também usando. Mas uma parte do processo não está sob controle dos bancos.
A Starbucks já deixou claro o caminho que vai seguir. Já lida com criptografia há algum tempo, com o investimento na Bakkt, a bolsa de Bitcoin (BTC), apoiada pelo ICE. As duas empresas se associaram para trabalhar em um aplicativo para fazer pagamentos via criptografia à Starbucks.
É como dizer para os bancos procurarem uma saída, porque a rede já encontrou.