Com recordes históricos no balanço do segundo trimestre de 2021, a Vale (VALE3) reportou um conjunto de resultados sólidos, segundo análise do BTG Pactual (BPAC11).
Apesar disso, os números vieram um pouco abaixo das expectativas do consenso (-2%).
O EBITDA ficou em US$ 11,2 bilhões, 7% abaixo da projeta do BTG (reconhecidamente otimistas), fortemente influenciadas pela força dos preços do minério de ferro.
A diferença em relação às expectativas do BTG foi impulsionada, principalmente, por: menores preços de minério de ferro realizados dados os efeitos do mix, maiores custos de caixa de C1 e menor EBITDA de metais básicos (20% abaixo da projeção; impactado por greves).
Em última análise, o BTG vê pouco mérito em discutir reveses menores (e na maioria dos casos) transitórios em meio a um trimestre recorde, onde a geração de FCF mais uma vez foi estelar = US$ 6,5 bilhões para um FCFE yield anualizado de 22%.
A administração não forneceu atualizações relevantes sobre os dividendos, que o BTG espera que cheguem a US$ 12 bilhões no segundo trimestre (mínimo de US$ 5,3 bilhões + extra). Foi registrada uma provisão adicional de US$ 560 milhões referente à Samarco, o que é uma surpresa, embora muito pequena, dizem os analistas.
“No geral, embora provavelmente não seja o catalisador que o mercado esperava, acreditamos que a tese positiva está amplamente intacta e mantemos nossa classificação de compra”, afirma o BTG.
Divisão de ferrosos: abaixo das estimativas
A Vale apresentou um desempenho sólido em sua divisão de ferrosos, com EBITDA de US$ 10,7 bilhões, 37% superior t/t (e + 200% a/a), mas abaixo da projeção do BTG.
A diferença em relação aos números do banco foi em grande parte explicada por preços realizados mais baixos e custos de caixa mais elevados do que o esperado.
As vendas ficaram em 74,4Mt (finos + pelotas), alta de 21% a/a (em linha com a expectativa) e + 13% t/t.
Segundo o BTG, os preços realizados também decepcionaram um pouco em US$ 182,8/t (-8% vs. projeção do BTG), principalmente devido a prêmios mais baixos e ajustes de qualidade (maior participação de produtos com alto teor de sílica).
O custo caixa C1 (excluindo compras de terceiros) ficou em US$ 17,8/t, acima dos US$ 14,8/t no 1T21, que foi explicado principalmente por (i) custos mais elevados de demurrage (+ US$ 1,0/t), devido ao incêndio em PDM em janeiro; e (ii) maiores custos de manutenção (+ US$ 1,1/t). A Vale espera que os custos de C1 diminuam US$ 1,5/t no 4T.
Metais básicos impactados pela greve de Sudbury
O EBITDA de metais básicos ficou em US$ 866 milhões (-20% vs. estimativa do BTG), que é -14% menor t/t (+ 54% a/a).
A diferença em relação aos números do BTG foi em grande parte impulsionada por maiores despesas da paralisação em Sudbury, após a interrupção do trabalho.
As vendas de níquel foram de 47kt (-2% vs. BTG e + 11% a/a), e de cobre foi de 74kt (+ 4% vs. BTG, -11% a/a).
Os preços realizados de níquel a US$ 7,8/lb vieram bastante em linha com o BTG (e os preços de referência), assim como os preços do cobre a US$ 4,4/lb.
FCF da Vale mais forte do que nunca
A Vale continua a reportar números de FCF muito sólidos, entregando US$ 6,5 bilhões no trimestre (um yield de 5,4% apenas nesse trimestre; 22% anualizado).
A conversão de EBITDA em FCF acima de 50% continua a ser a melhor em todo o universo de cobertura, o que consideramos positivo, diz o BTG.
A Vale continua operando com um balanço pouco alavancado, com dívida quase nula (dívida líquida expandida de US$ 11,4 bilhões, perto da meta de US$ 10 bilhões), e o BTG espera que o capex permaneça bastante baixo no futuro previsível.
Dito isso, os analistas acreditam que a administração/Conselho deva considerar retornos de caixa ainda mais agressivos em meio às possíveis mudanças na tributação no Brasil com relação a dividendos.
A empresa também anunciou dividendos mínimos de US$ 5,3 bilhões a serem distribuídos em setembro, e que já concluiu ~45% de seu programa de recompra de ações (~US$ 2,6 bilhões).
Remuneração da Vale é ponto alto
A Vale tem sido relativamente bem-sucedida em atender às principais preocupações dos acionistas nos últimos meses, diz o BTG.
“Os dividendos estão bem encaminhados e vemos retornos de caixa relevantes para 2021 (yield de 15-20%)”.
Em ESG, a gestão continua gradualmente a preencher a o gap e pretende tornar-se uma referência na indústria nos próximos anos (levará tempo).
“Vemos a Vale sendo negociada em níveis subvalorizados de ~3x EV/EBITDA 2022 (desconto excessivo para pares de 30-35% vs. níveis justos de 15-20%, em nossa opinião)”.
O preço teto é de R$ 147.