O cidadão ocidental que assiste ao noticiário fica atônito ao ver, na TV, a China encenando exercícios de guerra perto de uma pequena ilha, distante 180 quilômetros da costa. Isso porque o “braço militar” chinês próximo de Taiwan parece algo desproporcional. E é!
Acontece que, na prática, o país governado por Xi Jinping não está mostrando sua capacidade à pequena nação insular vizinha. O grande expectador chama-se estados Unidos da América (EUA).
Isso porque o Tio Sam é o principal incentivador de que Taiwan se mantenha como um “país” independente e, em resposta aos exercícios militares frequentes na Região, costuma enviar para a localidade o destroier com lança-mísseis USS Milius.
Vale destacar, porém, que somente 15 nações reconhecem Taiwan como uma nação independente. Esse número era 24, mas nove adotaram um novo viés. Os que se mantém firmes na proposta estão atentos à força tecnológica da ilha.
Na prática, Taiwan se destaca por seus produtos de alta tecnologia, que representam mais de dois terços das exportações do país, entre eletroeletrônicos, equipamentos mecânicos, produtos ópticos e médicos e até componentes em fibra de carbono para bicicletas.
É o caso, por exemplo, dos EUA que necessitam, em certa medida, de parte da produção taiwanesa, principalmente os componentes de silício (chips). Recentemente, o segmento automobilístico ocidental entrou em crise pela falta do produto.

Taiwan ‘livre’ gera tensão
Taiwan, também chamada Ilha Formosa, e sua história está imbricada com a Revolução chinesa de 1949.
O acontecimento implicou na queda do governo de Chiang Kai-shek e instauração do governo socialista de Mao-Tsé Tung.
Com a troca de poder, Chiang Kai-shek e outros dois milhões de chineses se refugiaram na pequena ilha. Ele conseguiu levar seu Estado Maior.
Com esse movimento, e esse contingente de pessoas, ficou relativamente fácil estabelecer ali um governo autônomo e isso com o apoio dos EUA.
Esse acontecimento resultou na divisão da China em duas, sendo a República Popular da China (a parte continental) e a China Nacionalista ou Taiwan (parte insular). Elas representavam os dois lados da Guerra Fria. A China Popular aliou-se à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) até 1960 e depois seguiu seu próprio caminho.
Por conta disso, há um clima de hostilidade entre as partes desde “sempre”. O conflito se intensificou a partir de 1954 com os EUA e Taiwan assinando um acordo de defesa mútua, após o intenso bombardeio do estreito de Formosa pela República Popular da China.
Tigres asiáticos
Em meados da década de 1970 Taiwan começou a despontar como potência econômica. Ela seguiu na esteira de outros três países do Pacífico – Coréia do Sul, Hong Kong e Cingapura.
Em relação a Hong Kong, trata-se de uma ex-colônia britânica e atualmente território autônomo pertencente à China.
Essas nações foram chamadas, à época, de tigres asiáticos por terem dado um salto econômico. Isso fez com que Taiwan, por exemplo, alcançasse padrões de vida bastante elevados, em contraste com a vizinha China.
Ainda assim, a ilha insular sofreu algumas derrotas importantes no campo geopolítico. Em 1971 foi substituída pela República Popular da China na ONU e, em 1979, os EUA transferiram a sua embaixada de Taipé (capital de Taiwan) para Pequim (capital da China Popular), devido ao restabelecimento de relações diplomáticas entre as partes.
Também em 1979 os EUA anularam o Tratado da Defesa que mantinham com a ilha e desativaram a sua base militar. Apesar disso, o governo de Taiwan continuou contando com o compromisso de apoio e proteção militar norte-americana.
Conflito se intensifica
Os exercícios militares promovidos recentemente no entorno de Taiwan ocorrem sempre que uma autoridade política taiwanesa visita os EUA, ou vice-versa. A China trata a ilha como uma província rebelde e não aceita sua autonomia.
Já Taiwan se posiciona como uma nação livre, continua fortalecendo suas alianças comerciais e se aproveita disto para angariar apoio político e militar.
Para ferver ainda mais esse caldeirão de discórdia, a invasão da Rússia à Ucrânia deixou os ânimos na eurásia ainda mais alterados.
Agora, além de os EUA circularem por lá, militarmente, com mais frequência, também se vê militares ligados à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, ou Nato na Europa), bem como observadores da Organização das Nações Unidas (ONU).
O tabuleiro está definido, neste momento, da seguinte forma: China se liga à Rússia e tem a Coréia do Norte como time de apoio, enquanto EUA se liga à Ucrânia e tem Otan e Japão na contenção. Já a Coréia do Sul tenta manter a neutralidade.
Dos países que “jogam meio lá meio cá, destaque para Índia, rival histórica da China, mas que pode se aliar a um e a outro, a depender dos acordos firmados, e Turquia, que ora tenta cativar a Rússia a cessar a guerra, atuando como interlocutor, ora utiliza este mesmo conflito para pressionar comercialmente a Europa.
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