O rombo das estatais voltou ao centro do debate econômico. Segundo dados do Banco Central, o déficit acumulado chegou a R$ 6,35 bilhões até outubro e já aciona o alerta de que pode superar o pior resultado da série histórica.
O indicador, que exclui Petrobras, Eletrobras e bancos públicos, mostra o que está por trás desse avanço do rombo das estatais e por que ele preocupa o governo.
Correios puxam a piora e ampliam pressão fiscal
A crise dos Correios é hoje o principal foco do desequilíbrio. A estatal, que já acumula seguidos prejuízos, registrou mais de R$ 4 bilhões de déficit somente no primeiro semestre de 2025. Projeções internas indicam que o prejuízo pode chegar a R$ 10 bilhões até o fim do ano, caso nenhuma ação mais profunda seja tomada.
Esse desempenho negativo ajudou a empurrar o rombo das estatais para um patamar próximo ao recorde histórico. A deterioração é tão intensa que levou o governo a bloquear R$ 3 bilhões do orçamento em novembro, já que os resultados das estatais influenciam diretamente o saldo fiscal da União.
Ao mesmo tempo, a nova gestão dos Correios tenta reverter o quadro com um plano de reestruturação baseado em recuperação financeira, consolidação do modelo e crescimento estratégico. A proposta inclui a captação de R$ 20 bilhões em um consórcio de bancos para dar liquidez e modernizar operações.
Eletronuclear agrava cenário com incertezas sobre Angra 3
Outro fator decisivo para o crescimento do rombo das estatais é a situação da Eletronuclear. Responsável por Angra 1 e 2 e pela estrutura paralisada de Angra 3, a empresa pediu um aporte de R$ 1,4 bilhão ao Tesouro Nacional. A manutenção anual da usina inacabada custa cerca de R$ 1 bilhão, e os estudos mostram que tanto concluir quanto abandonar a obra geraria custos bilionários.
A falta de uma decisão final pesa no caixa da estatal e influencia o cálculo fiscal das empresas. Segundo o Tesouro, a definição sobre o futuro de Angra 3 está próxima, mas ainda não há indicação concreta sobre o caminho que será escolhido. O impasse amplia a percepção de risco e leva o déficit para níveis mais altos.
O cenário reforça a necessidade de uma solução estruturada. Sem uma decisão clara, a Eletronuclear tende a continuar drenando recursos públicos e aumentando o rombo das estatais nos próximos anos.
Outras estatais também preocupam, mas governo relativiza resultados
Além de Correios e Eletronuclear, outras estatais aparecem na lista de risco fiscal, como Casa da Moeda, Infraero e companhias docas de cinco estados. Esses casos elevam a atenção sobre o conjunto das empresas públicas e alimentam o debate sobre a eficiência e o papel de cada uma no atual modelo de gestão.
O Ministério da Gestão, porém, destaca que o déficit fiscal das estatais não representa necessariamente prejuízo operacional. Segundo a pasta, 15 das 20 empresas analisadas pelo Banco Central tiveram lucro em 2025, e parte do déficit decorre de investimentos e pagamento de dividendos, que entram como despesa nas estatísticas fiscais.
O governo também lembra que, considerando Petrobras e bancos públicos, o desempenho é sólido. O conjunto das estatais lucrou R$ 92,4 bilhões no primeiro semestre, alta de mais de 54 por cento em relação ao ano anterior. Mesmo assim, a pressão fiscal permanece, já que o rombo das estatais listadas pelo Banco Central segue crescendo e se aproximando de um marco histórico.






