Rússia e China deram nesta terça-feira (2) um passo importante para reconfigurar o comércio global de energia. Os líderes dos dois países assinaram um memorando de entendimento para a construção do Power of Siberia 2 e de sua seção mongol, o Soyuz-Vostok, dois mega-gasodutos que transportarão gás natural russo para a China através do território da Mongólia.
O anúncio foi feito pelo diretor da Gazprom, Alexei Miller, que classificou o projeto como o “mais ambicioso e com maior investimento de capital da indústria global de gás”. O acordo prevê fornecimento de 50 bilhões de metros cúbicos anuais de gás por três décadas.
Power of Siberia 2: projeto estratégico para Rússia e China
Com 6.700 quilômetros de extensão, o Power of Siberia 2 ligará os campos de gás da Sibéria Ocidental à China, passando por cerca de 2.700 km em solo russo e outros 1.000 km pela Mongólia. O objetivo é escoar a produção da península de Yamal e da região do Ártico, áreas ricas em hidrocarbonetos.
Para Moscou, o projeto representa um realinhamento estratégico: redirecionar para a Ásia volumes antes destinados à Europa, cuja dependência do gás russo foi drasticamente reduzida após a invasão da Ucrânia em 2022 e as sanções ocidentais subsequentes. Para Pequim, trata-se de garantir acesso a energia abundante a preços competitivos, em um momento em que o país busca diversificar fontes de abastecimento.
Vitória diplomática de Putin
O acordo foi selado durante um encontro em Pequim entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping. Em clima de proximidade, Xi chamou Putin de “velho amigo” e destacou que as relações bilaterais “resistiram ao teste das mudanças internacionais”.
Para Putin, a assinatura representa uma vitória diplomática: após anos de negociações travadas, Moscou conseguiu arrancar de Pequim um compromisso juridicamente vinculante para o avanço do projeto, ainda que sem todos os detalhes comerciais definidos.
Apesar do otimismo russo, ainda pairam incertezas. O preço do gás a ser pago pela China não foi divulgado, e não se sabe se Pequim terá flexibilidade para comprar volumes parciais ou se ficará obrigada a absorver toda a capacidade do gasoduto. Também não há cronograma oficial para o início das obras ou das entregas.
Segundo especialistas, o acordo atual “é um memorando de entendimento sem o preço, o que mostra interesse, mas ainda não configura um contrato comercial completo”.
Mais laços além do gás
A aproximação sino-russa vai além da energia. Durante a visita, a China anunciou isenção de vistos para cidadãos russos com passaporte comum, em caráter experimental, medida que pode ampliar em até 40% o turismo e as viagens de negócios entre os países.
O comércio bilateral já atingiu US$ 245 bilhões em 2024, um salto de 68% em relação a 2021, de acordo com dados da alfândega chinesa.
Putin também participa em Pequim de um desfile militar pelo 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, numa reciprocidade simbólica à presença de Xi em Moscou em maio, durante celebrações na Praça Vermelha.
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