O PMI Industrial do Brasil medido pela S&P Global fechou agosto em 47,7 pontos, permanecendo abaixo da marca de 50 que separa expansão de contração. O resultado representa a deterioração mais rápida das condições do setor desde meados de 2023, reforçando um cenário de retração iniciado há quatro meses.
Segundo a pesquisa, o fluxo de novos pedidos encolheu no ritmo mais acelerado em mais de dois anos. O quadro reflete queda da demanda interna, confiança reduzida de clientes e, sobretudo, o impacto das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre exportações brasileiras. “As tendências da demanda pioraram em agosto, com os pedidos a fábricas diminuindo no ritmo mais rápido em mais de dois anos”, destacou Pollyanna De Lima, Diretora Associada de Economia da S&P Global Market Intelligence.
PMI Industrial do Brasil tem produção em baixa e impacto no emprego
A retração da demanda resultou em cortes contínuos na produção industrial, que caiu pelo quarto mês seguido. Empresas relataram que, além da queda nas encomendas, fatores como política monetária restritiva e incertezas comerciais pesaram sobre as operações. “Embora a evolução adversa das vendas seja a principal razão para os cortes na produção, os fabricantes identificaram outros motivos, como as taxas de juros elevadas e a imposição de tarifas nos EUA”, acrescentou Pollyanna.
Esse cenário levou à redução de postos de trabalho, que apresentou em agosto a queda mais forte desde abril de 2023. Também houve diminuição na compra de insumos, prolongando para cinco meses o ciclo de retração nessa frente. O ajuste impactou estoques de matérias-primas e produtos finais, já que empresas optaram por níveis reduzidos diante da demanda mais fraca.
Custos mais baixos aliviam pressão
Apesar do cenário negativo, houve um ponto de alívio: a inflação dos custos de insumos desacelerou para a menor taxa em 17 meses. O movimento ajudou a conter a elevação dos preços de fábrica, que subiram de forma marginal. Para Pollyanna, isso pode abrir espaço para mudanças na política monetária: “A inflação dos custos de insumos caiu para sua taxa mais baixa em quase um ano e meio, o que significa que os preços de venda subiram apenas marginalmente e aumentou a esperança de que o Banco Central possa pausar seu ciclo de aperto”.
Perspectivas para o setor industrial do Brasil
Embora o ambiente atual seja de retração, quase 60% das empresas ouvidas pelo levantamento acreditam em recuperação da produção nos próximos 12 meses. Investimentos em tecnologia, aquisição de máquinas e diversificação de mercados aparecem como estratégias para sustentar esse otimismo.
No entanto, especialistas ressaltam que a confiança do setor ainda não se traduziu em retomada dos gastos ou na recomposição de estoques. Até lá, o PMI Industrial do Brasil segue refletindo um setor pressionado por demanda fraca, cortes de custos e incertezas externas.
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