Em uma análise que misturou história, economia e geopolítica, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes participou nesta sexta-feira (1) da Money Week, evento promovido pela EQI Investimentos.
Diante de uma plateia formada por investidores, empresários e entusiastas da educação financeira, Guedes apresentou sua visão sobre a “nova ordem mundial” e o esgotamento dos modelos econômicos e políticos vigentes nas últimas oito décadas.
“A nossa conversa hoje é uma tentativa de explicar o que, à primeira vista, parece uma confusão”, disse Guedes logo no início do painel. “O que parece caos é, na verdade, o movimento de placas tectônicas. Há uma engrenagem econômica por trás da estrutura da sociedade.”

“Geopolítica tomou o volante”
O painel traçou um amplo panorama que começou com a ascensão das democracias liberais no pós-Segunda Guerra Mundial. Segundo Guedes, o mundo prosperou sob a combinação de democracia política e liberalismo econômico, liderado pelos EUA com o Plano Marshall e a reconstrução de nações derrotadas como Alemanha, Japão e Itália.
“O Ocidente acreditou na fórmula mágica: democracia e mercados. E funcionou”, afirmou. “Países devastados pela guerra se tornaram potências ao apostar no setor privado e no comércio internacional.”
Mas, para Guedes, esse modelo atingiu seu limite. Segundo ele, o liberalismo permitia a mobilidade: das pessoas, dos capitais, das ideias. Mas, agora, o mundo virou um campo de batalha por influência e segurança, com a crescente rejeição à imigração como um dos sintomas da crise das democracias liberais.
“O ser humano busca melhores condições. Antes, os incomodados se mudavam. Agora, não há mais para onde ir. O mundo aberto acabou. Os conservadores subiram ao banco da frente e os liberais foram para o banco de trás. A geopolítica tomou o volante.”
Esgotamento da globalização e avanço do nacionalismo
Na visão do ex-ministro, a globalização, que durante décadas elevou padrões de vida em diversos países, gerou também desequilíbrios que se tornaram politicamente insustentáveis.
“Salários subiram no Oriente e estagnaram no Ocidente. O Ocidente apertou o botão de sobrevivência”, disse, referindo-se ao avanço de forças conservadoras em democracias centrais como Alemanha, Polônia, Hungria e os Estados Unidos.
A explosão das tensões migratórias na Europa, a guerra na Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio são, segundo ele, manifestações de uma disputa maior por protagonismo em um mundo que deixou de ser regido pela lógica multilateral.
“A Pax Americana acabou. Cada país vai cuidar de si. A globalização chegou ao auge. Agora, a regra é: quem tem força, manda.”
Guedes argumentou que a economia está perdendo espaço nas decisões globais e exemplo disso é a tarifa de importação imposta pelo presidente Donald Trump sobre os produtos brasileiros.
“A tarifa é geopolítica. Só 10% é economia. Os outros 40% é tarifa geopolítica. E é um sinal sério”.
O ex-ministro enfatizou que a diplomacia e o respeito serão fundamentais para o país neste momento. “Respeito é fundamental. Aqui e lá fora. Quem não respeitar, será desrespeitado”, enfatizou. “A Europa sentou para conversar e baixou a tarifa. Aqui, era só ficar quieto que pegava 10%”, apontou.

“Não haverá Terceira Guerra Mundial”
Apesar do tom grave da análise, Guedes minimizou o risco de um colapso global.
“Não vai ter Terceira Guerra Mundial. Vai ter barulho, sim, mas em algum momento todos vão sentar para conversar”.
Para os brasileiros, o ex-ministro recomendou resiliência. “A palavra do ano é resiliência. Vocês são brasileiros, empresários, já estão acostumados”, apontou.
Sobre a Money Week
A Money Week é um dos maiores eventos de investimentos, negócios e educação financeira do país, reunindo líderes do mercado, especialistas e autoridades públicas em painéis e palestras voltadas ao cenário econômico global e às oportunidades no Brasil. A edição desta sexta-feira em Balneário Camboriú (SC) reforçou o protagonismo da EQI Investimentos como promotora de debates estratégicos para o setor.
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