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O Brasil vai parar de exportar carne para os EUA? Entenda os impactos da tarifa 

O Brasil vai parar de exportar carne para os EUA? Entenda os impactos da tarifa 

O Brasil vai parar de exportar carne para os Estados Unidos? Antes de responder objetivamente, é importante entender o contexto por trás dessa questão.  

Até o anúncio das novas tarifas americanas, o Brasil era o maior exportador de carne bovina para os EUA. Nesse ano, de janeiro até junho, o Brasil exportou US$ 1,038 bilhão em carnes e subprodutos bovinos para o mercado norte-americano (são dados da Associação Brasileira de Frigoríficos, a Abrafrigo). Com esse valor, os EUA representaram 17% do volume exportado de carne bovina brasileira — o segundo maior destino.  

Mesmo com uma tarifa de 26% já vigente sobre a maior parte desses produtos, a carne brasileira ainda conseguia ser competitiva nos EUA. As empresas exportadoras conseguiam manter margens atrativas nesse mercado.  

Brasil vai parar de exportar carne para os EUA: o que muda com a nova tarifa?  

O novo imposto anunciado — de até 50% sobre a carne brasileira — tende a inviabilizar economicamente essas exportações. Ainda não está claro se essa alíquota será adicional à anterior ou se substituirá a já existente. De toda forma, mesmo no melhor cenário, a competitividade da carne brasileira no mercado norte-americano deve ser fortemente comprometida.  

Ou seja: se a nova tarifa for mantida, é muito provável que o Brasil pare de exportar carne bovina (e possivelmente também avícola) para os EUA. Mas é muito importante entender o que vou dizer a seguir…  

Quais os impactos para o setor?  

Apesar do peso dos EUA nas exportações, o impacto direto pode ser menor do que parece à primeira vista.  

Isso porque a carne bovina é uma commodity: o produto é padronizado e amplamente negociado no mercado internacional, o que facilita o redirecionamento da produção para outros países. Ou seja, as empresas passarão a vender sua carne para outros países.  

Se as tarifas forem mesmo efetivadas, essa realocação da exportação pode demorar um tempo, obviamente, acontecendo de forma gradual ao longo dos próximos trimestres. E, enquanto isso, é possível que haja um excesso temporário de oferta no mercado doméstico, o que pode pressionar os preços para baixo — impactando negativamente as margens das empresas no curto prazo.  

Dado esse cenário, analisamos como as maiores empresas do Brasil, que possuem participação relevante no mercado de ações e de crédito privado brasileiro, podem ser afetadas:  

  • Marfrig e JBS: o impacto é muito limitado. Ambas possuem operações relevantes nos EUA — seja diretamente ou por meio de subsidiárias — e não dependem significativamente das exportações do Brasil para aquele mercado.  
  • BRF: também pouco afetada. A empresa não tem presença direta nos EUA e não possui volumes relevantes de exportação para o país.  
  • Minerva: é a empresa que pode vir a sentir os efeitos. Cerca de 16% da receita da companhia vem de exportações para os EUA (considerando todas as unidades: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Austrália). Desses 16%, apenas aproximadamente 30% são originados no Brasil, ou seja, cerca de 5% da receita da Minerva depende da carne brasileira exportada para os EUA.  

Mesmo nesse caso, o impacto tende a ser gerenciável. A empresa possui flexibilidade para redirecionar parte da produção a outros mercados, ainda que com preços possivelmente inferiores. Mesmo no cenário mais adverso, em que não consiga reposicionar totalmente esse volume, as perdas não colocariam em risco sua sustentabilidade financeira.  

Não vejo, portanto, uma preocupação estrutural para o setor. Caso a nova tarifa se concretize, o Brasil deve, sim, interromper as exportações de carne para os EUA. No curto prazo, isso pode gerar pressão sobre os preços domésticos; redução temporária das margens no setor; e ajustes logísticos e comerciais por parte das empresas exportadoras.  

No entanto, o impacto estrutural tende a ser limitado, com o setor se adaptando gradualmente à nova realidade. As empresas listadas na Bolsa, especialmente JBS, Marfrig e BRF, não devem sofrer consequências relevantes no médio e longo prazo, enquanto a Minerva poderá enfrentar um desafio maior, mas com efeitos controláveis.  

Para o investidor, o momento exige atenção para acompanhar os desdobramentos da nova tarifa, mas não há motivos para pânico — especialmente no caso das grandes empresas do setor. O Brasil permanece como um dos players mais competitivos do mundo na produção de proteínas, com capacidade de redirecionar suas exportações para outros mercados que podem absorver o volume anteriormente destinado aos Estados Unidos.