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Japão elege primeira premiê mulher: quem é a “dama de ferro japonesa”

Japão elege primeira premiê mulher: quem é a “dama de ferro japonesa”

O Japão fez história nesta terça-feira (21) ao eleger sua primeira premiê mulher. Sanae Takaichi, de 64 anos, tornou-se a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra na história do país, consolidando-se como a “dama de ferro japonesa”, título que ela própria almejava ao se inspirar na ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

A conquista representa um marco simbólico para uma nação que historicamente apresenta baixos índices de igualdade de gênero e pouca representatividade feminina nos altos escalões do poder.

Takaichi substituirá Shigeru Ishiba, encerrando três meses de vácuo político após as derrotas eleitorais sofridas pelo Partido Liberal Democrata (PLD). A política conservadora e de longa carreira chega ao poder com o desafio de estabilizar a quarta maior economia do mundo e responder ao crescente descontentamento da população japonesa com o aumento do custo de vida.

Trajetória política e perfil conservador

Eleita para o parlamento pela primeira vez em 1993 por sua cidade natal, Nara, Sanae Takaichi construiu uma sólida trajetória política ao longo de três décadas. Durante esse período, ocupou posições estratégicas no governo japonês, incluindo os cargos de ministra da Segurança Econômica, Assuntos Internos e Igualdade de Gênero.

Representante da ala mais à direita do Partido Liberal Democrata, ela se destaca por defender políticas de austeridade fiscal, fortalecimento militar e posições conservadoras em questões sociais.

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Takaichi é conhecida por sua personalidade austera e dedicação ao trabalho. A própria primeira-ministra se define como workaholic, preferindo trabalhar em casa a socializar.

Em declarações polêmicas que geraram reações mistas nas redes sociais, ela afirmou: “Abandonarei a expressão ‘equilíbrio entre vida pessoal e profissional’. Trabalharei, trabalharei, trabalharei e trabalharei”. Essa postura reflete o perfil rígido que lhe rendeu a alcunha de “dama de ferro japonesa”.

Curiosamente, a trajetória da premiê inclui um passado inusitado: quando estudante, Takaichi era baterista de uma banda de heavy metal e pilotava motocicleta. Essa faceta contrasta com a imagem formal e conservadora que ela projeta atualmente na política japonesa.

Posições controversas sobre gênero e diversidade

Apesar de ser a primeira mulher a liderar o governo japonês, Takaichi não coloca a agenda de igualdade de gênero entre suas prioridades políticas. Historicamente avessa a políticas de diversidade, ela defende posições conservadoras que incluem a manutenção da sucessão imperial exclusivamente masculina, oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e à possibilidade de casais adotarem sobrenomes diferentes.

Em seu gabinete, nomeou apenas duas ministras e uma terceira como assessora especial, contrariando a promessa anterior de aumentar significativamente a participação feminina no governo. Essa contradição reflete a complexidade de sua posição como mulher em um cenário político dominado por homens, onde apenas 15% das cadeiras na Câmara Baixa são ocupadas por mulheres e somente duas das 47 governadoras de províncias são do sexo feminino.

Analistas políticos apontam que Takaichi evitou historicamente falar sobre questões de gênero para não ser marginalizada no partido dominado por homens. Chiyako Sato, comentarista política e redatora sênior do jornal Mainichi, afirma: “As políticas da Sra. Takaichi são extremamente agressivas e duvido que ela consideraria políticas que reconhecessem a diversidade”.

Desafios econômicos e agenda política

A primeira-ministra assume o cargo em momento crítico para a economia japonesa. Seu principal desafio imediato é conter a inflação e apresentar, até o fim de dezembro, um pacote de estímulos capaz de responder ao descontentamento popular com o aumento expressivo no custo de vida. Takaichi defende uma agenda fiscal expansionista voltada para o crescimento econômico, mas especialistas alertam que suas medidas podem encarecer ainda mais a vida dos japoneses.

Discípula do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, assassinado em 2022, Takaichi tende a seguir a linha política de seu mentor, com foco no fortalecimento militar, crescimento econômico e revisão da constituição pacifista do Japão. Ela também defende políticas mais rígidas em relação à imigração, promoção da fusão nuclear e investimentos em segurança cibernética.

Relações internacionais e visões sobre história

As posições de extrema direita de Takaichi sobre história e segurança podem complicar as relações diplomáticas do Japão com países vizinhos. Ela tem resistido a reconhecer as agressões e atrocidades cometidas pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial, negando o uso de coerção contra trabalhadores coreanos e mulheres mantidas como escravas sexuais pelas tropas japonesas. Suas visitas frequentes ao Santuário Yasukuni — considerado por China, Coreia do Sul e outras nações asiáticas como um símbolo que glorifica o passado militarista japonês — geram tensões diplomáticas na região.

A chegada da “dama de ferro japonesa” ao poder consolida uma virada decisiva para a direita na política japonesa.

Takaichi formou aliança com o Partido da Inovação do Japão, de direita, após a saída do moderado Komeito da coalizão, em protesto contra suas visões ultraconservadoras. Permanece incerto, no entanto, até que ponto ela conseguirá implementar sua agenda diante de uma base de apoio instável e dos imensos desafios que o país enfrenta.

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