O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado a prévia da inflação oficial do país, registrou alta de 0,64% em março, conforme divulgado nesta quarta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado veio abaixo da mediana das projeções do mercado, que esperava um avanço de 0,68%.
Apesar da desaceleração em relação a fevereiro, quando o índice havia subido 1,23%, a inflação acumulada em 12 meses avançou para 5,26%, acima dos 4,96% registrados anteriormente. No acumulado do primeiro trimestre de 2025, o IPCA-15 atingiu 1,99%, superando os 1,46% registrados no mesmo período do ano passado.
Alimentação e transportes puxam alta
Entre os nove grupos de produtos e serviços pesquisados, todos apresentaram variação positiva. O destaque ficou para Alimentação e bebidas, com alta de 1,09% e impacto de 0,24 ponto percentual (p.p.) no resultado geral. Dentro deste grupo, a inflação foi impulsionada pela alta dos preços do ovo de galinha (19,44%), tomate (12,57%), café moído (8,53%) e frutas (1,96%). A alimentação fora do domicílio também subiu 0,66%.
O setor de Transportes também teve um impacto significativo no IPCA-15, registrando alta de 0,92% e contribuindo com 0,19 p.p. para o índice geral. O aumento dos combustíveis (1,88%), especialmente gasolina (1,83%) e óleo diesel (2,77%), foi um dos principais fatores para essa pressão inflacionária.
Energia elétrica alivia pressão inflacionária
Diferente do registrado em fevereiro, quando os custos de energia elétrica pressionaram a inflação, o grupo Habitação desacelerou de 4,34% para 0,37% em março. A energia elétrica residencial subiu apenas 0,43%, refletindo reajustes moderados e a redução na alíquota do PIS/COFINS.
O gás encanado, por sua vez, teve leve queda de 0,51%, puxada pelas reduções tarifárias aplicadas no Rio de Janeiro (-0,92%) e Curitiba (-1,79%).
Curitiba lidera alta regional
Todas as regiões metropolitanas pesquisadas registraram aumento de preços em março, mas Curitiba teve a maior variação (1,12%), impulsionada pelo encarecimento da gasolina (7,06%) e do etanol (6,16%). Por outro lado, Fortaleza apresentou o menor avanço (0,34%), influenciado pela queda nos preços da energia elétrica residencial (-1,69%) e da gasolina (-0,90%).
Próximo IPCA-15
O próximo resultado do IPCA-15 será divulgado em 25 de abril, trazendo a prévia da inflação do mês. Além disso, a próxima divulgação do IPCA-E, referente ao segundo trimestre de 2025, está prevista para 26 de junho.
Para Stephan, economista-chefe da EQI Asset, o resultado do IPCA-15 veio bem abaixo do esperado tanto pela projeção interna quanto pelo consenso de mercado. “O número ficou em 0,64%, enquanto o consenso era de 0,69% e nossa projeção estava em 0,75%”, comenta. Alguns itens que eram esperados para apresentar recuperação, como ingressos de cinema e energia elétrica, não tiveram a alta projetada. “A surpresa foi ali nesses itens que a priori ou não continuam com essa desaceleração ou são muito voláteis e difíceis de prever e podem voltar a qualquer momento.”
A análise mais detalhada da composição do índice também revelou que a parte de serviços, núcleos e industriais ficou abaixo do previsto. “O segmento de passagens aéreas veio em linha, mas aluguel e condomínio, que têm relação com o IGP e deveriam acelerar, mostraram desempenho mais fraco do que o esperado”, explica Stephan. Outro fator que surpreendeu foi a categoria de higiene pessoal, que registrou variação abaixo do previsto.
Apesar dessas surpresas, Stephan alerta que é cedo para determinar se essa desaceleração será duradoura, pode ser algo pontual, ou uma tendência que se estenda nos próximos meses, é preciso de cautela ao avaliar o impacto dessa surpresa no cenário inflacionário.
Por outro lado, o economista destaca um ponto positivo: “Os produtos industriais continuam bastante tranquilos, rodando perto de 0,10%. Esperávamos algum repasse do câmbio após a alta do final do ano passado, mas isso ainda não aconteceu.” Esse comportamento dos produtos industriais, segundo Stephan, pode levar a revisões para baixo nas projeções de inflação, caso se mantenha nos próximos meses.
Ainda assim, a inflação de serviços continua elevada, o que mantém a pressão sobre a política monetária. “Apesar do dado abaixo do esperado, serviços seguem rodando próximo de 0,70% em três meses e, no acumulado de 12 meses, estão perto de 6%”, pontua. Além disso, os núcleos da inflação, em média anualizada, também giram em torno de 6%, o dobro da meta oficial de 3%. “Isso significa que o Banco Central ainda tem um desafio significativo pela frente.”
Diante desse cenário, Stephan reforça a necessidade de continuidade na alta da taxa Selic. “Mantemos nossa projeção de mais duas elevações de 50 pontos-base, levando a Selic para 15,25%”, afirma. Ele conclui que, apesar da surpresa no IPCA-15 deste mês, o ambiente inflacionário segue desafiador e exige uma postura cautelosa por parte do Banco Central.
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