A dúvida sobre manter ou vender títulos IPCA+ antigos é cada vez mais comum, especialmente diante das mudanças recentes nas taxas de juros. Foi essa a pergunta enviada por Márcia, cliente da EQI Investimentos, respondida por João Neves e Felipe Paletta, analistas da corretora.
A discussão girou em torno de um caso clássico: quem investiu no passado em um título IPCA+ com rendimento de 5,4% ao ano, e hoje observa que esses papéis são negociados a IPCA+ 7%.
O cenário mudou: o que fazer agora?
Segundo João Neves, o cenário ideal imaginado por Márcia, de queda na curva de juros e consequente valorização do título via marcação a mercado, não se concretizou. Pelo contrário, os juros subiram e o papel perdeu valor de mercado. “Se ela vender agora, não vai ter a rentabilidade de IPCA+ 5,4%, vai ser menos”, alertou Neves. Ele recomenda que, ao avaliar o que fazer, o investidor não fique preso ao rendimento do passado, mas reflita: “Hoje, você compraria de novo esse título?”.
Pensar como investidor de bolsa: uma nova decisão todo dia
Felipe Paletta reforçou que, assim como quem investe em ações, o detentor de títulos IPCA+ deve entender que a cada dia está, na prática, tomando uma nova decisão. “É muito chato pensar assim, mas a gente tem que sempre pensar que, a cada dia, desde que você tem o título na carteira, é como se estivesse tomando uma nova decisão de investimento”, disse.
Além disso, o analista contextualizou que o cenário macroeconômico mudou bastante: enquanto antes havia perspectiva de queda na inflação e melhora fiscal, atualmente o ambiente é de maior instabilidade, tanto local quanto internacional.
O risco dos títulos longos: volatilidade e duration
Um ponto crucial apontado pelos analistas é a volatilidade inerente aos títulos de prazos longos, como o IPCA+ 2060. Quanto maior o prazo, maior a sensibilidade (duration) às oscilações nas taxas de juros. “Esse é um investimento de risco mais elevado, apesar de ainda ser renda fixa”, explicou João Neves, ressaltando que a decisão deve considerar o perfil de risco do investidor.
Paletta complementou: quem não pretende levar o título até 2060, está sujeito a oscilações que aproximam esse tipo de investimento ao comportamento da renda variável. “Você só vai ter a garantia daquele retorno real no vencimento”, reforçou.
Vale a pena manter ou vender?
Segundo Neves, a expectativa na EQI+ é de que a curva de juros ceda ainda mais, após um recente recuo. Ou seja, manter o título pode ser uma boa estratégia, especialmente porque os papéis com IPCA+ 7% ainda oferecem um “carrego” interessante. “A gente acha que com esse carrego, mais essa possibilidade de queda de juros, podem oferecer retornos interessantes”, avaliou.
Porém, Paletta foi enfático: o investidor deve, antes de tudo, avaliar se está confortável com o risco e a volatilidade. “Talvez você não esteja confortável com essa volatilidade. Então, vale a pena, de repente, resgatar uma parcela e outra parcela deixar investido”, sugeriu.
Evite decisões motivadas pelo passado
Por fim, João Neves alertou para um erro comum: tomar decisões visando apenas “recuperar prejuízo”. Segundo ele, isso pode levar a escolhas erradas. O essencial é ajustar a carteira ao perfil e aos objetivos atuais. “Esse título apresenta uma boa oportunidade para alguém com o perfil mais agressivo”, concluiu.