Após um fim de semana de negociações intensas em Genebra, Suíça, Estados Unidos (EUA) e China anunciaram nesta segunda-feira (12) uma suspensão temporária de 90 dias nas tarifas sobre importações, em uma tentativa de aliviar as tensões comerciais que vinham se acirrando nos últimos meses.
O novo acordo reduz as tarifas recíprocas de 125% para 10% — valor mínimo atualmente praticado pelos EUA para importações de todos os países. No entanto, produtos chineses continuam sujeitos a uma tarifa adicional de 20% devido a sanções ligadas ao combate ao tráfico de fentanil, totalizando 30%.
A trégua foi comemorada por ambos os lados. “Tenho o prazer de informar que fizemos progressos substanciais entre os Estados Unidos e a China nas importantíssimas negociações comerciais”, declarou o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent. Já o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, destacou “avanços importantes” nas conversas com o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng.
Como parte do entendimento, os dois países concordaram em criar um “mecanismo de consulta” permanente para lidar com futuras tensões comerciais, uma medida considerada essencial para a construção de uma relação mais estável.
A Casa Branca classificou o entendimento como um “novo acordo comercial” e celebrou os resultados por meio de um comunicado oficial.
A notícia teve efeito imediato nos mercados financeiros. Os índices futuros das principais bolsas norte-americanas dispararam: Nasdaq subiu 3,6%, S&P 500 avançou 2,8% e o Dow Jones ganhou cerca de 1.000 pontos, ou 2,3%. O dólar também se fortaleceu, com o índice ICE Dollar subindo 1,3% e alcançando 101,63 pontos.
Na Europa, o índice Stoxx 600 registrou valorização de 0,7%, enquanto o mercado de petróleo reagiu com forte alta. O Brent atingiu US$ 65,38 por barril (alta de 2,3%) e o WTI norte-americano foi negociado a US$ 62,49 (alta de 2,4%).
Tai Hui, estrategista-chefe da JP Morgan Asset Management para a região Ásia-Pacífico, avaliou que a redução tarifária foi mais profunda do que o mercado esperava, segundo a CNBC. “Isso demonstra um reconhecimento mútuo de que as tarifas estavam impactando negativamente o crescimento global”, afirmou. No entanto, Hui alertou que os 90 dias podem ser insuficientes para resolver questões estruturais mais profundas, como as restrições chinesas à exportação de terras raras — tema que deve ganhar destaque nas próximas rodadas de negociação.
EUA e China: avanços nas negociações das tarifas
A guerra comercial teve início após Trump impor tarifas pesadas contra produtos chineses, ao que Pequim respondeu com retaliações igualmente severas. No último mês, as tarifas dos EUA sobre produtos chineses chegaram a 145%, com algumas categorias acumulando taxas de até 245%. Em contrapartida, a China impôs tarifas de até 125% sobre produtos norte-americanos, levando à estagnação do comércio bilateral.
A diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, classificou o encontro como “um passo positivo e construtivo para a desescalada” das tensões. As reuniões ocorreram na residência do Representante Permanente da Suíça na ONU, em Genebra.
No sábado, Trump declarou em sua rede Truth Social que houve um “grande progresso” no primeiro dia das conversas, descrevendo o encontro como um “recomeço total negociado, amigável, mas construtivo”.
Essas foram as negociações mais relevantes entre Washington e Pequim desde que Trump reassumiu a presidência, intensificando sua política de tarifas, que ele defende como medida contra práticas comerciais injustas e de proteção aos empregos americanos.
A agência oficial chinesa Xinhua comentou que o diálogo na Suíça representa um passo importante na tentativa de resolver as disputas.
Trump chegou a falar em tarifas de 80%
Trump chegou a sugerir a possibilidade de reduzir as tarifas para até 80%, mas a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, esclareceu que os EUA não farão reduções unilaterais e que a China também precisará fazer concessões.
Segundo Bessent, o foco atual das conversas é aliviar as tensões comerciais, sem buscar ainda um “grande acordo”. Pequim, por sua vez, reforçou que os EUA devem dar o primeiro passo reduzindo as tarifas.