A Fitch Ratings emitiu um alerta nesta terça-feira (7) sobre o aumento do risco de que empresas podem ter falta de liquidez e enfrentar dificuldades de financiamento nos próximos meses. O alerta ocorre após uma série de eventos de crédito que abalaram a confiança dos investidores no mercado corporativo brasileiro, envolvendo companhias como Ambipar (AMBP3), Braskem (BRKM5) e Banco Master.
Segundo a agência de classificação de risco, o acesso a capital com custo competitivo tende a diminuir, o que pode pressionar empresas com prazos curtos para refinanciar dívidas. A Fitch calcula que cerca de 10% das companhias avaliadas no Brasil estão mais expostas, por dependerem de financiamento externo e não contarem com ampla liquidez.
Falta de liquidez: episódios recentes fragilizam mercado de crédito
O cenário de alerta é reflexo de episódios recentes que fragilizaram o mercado de crédito local. No fim de setembro, a Fitch rebaixou os ratings da Braskem para CCC+/CCC+(bra) após a empresa contratar assessores financeiros para revisar sua estrutura de capital — um movimento que sugere possíveis reestruturações de dívida e riscos para os credores.
Um dia antes, a Ambipar teve suas notas cortadas para C/C(bra) depois de entrar em um processo semelhante ao de inadimplência. A companhia obteve uma tutela cautelar para suspender cláusulas contratuais que poderiam antecipar o vencimento de suas obrigações financeiras, sinalizando pressões de caixa.
Além disso, o Banco Central rejeitou no início de setembro a proposta de fusão entre o Banco Master e o Banco de Brasília – BRB (BSLI3; BSLI4). A decisão reacendeu dúvidas sobre a estabilidade de captação e a sustentabilidade financeira do Master, instituição com papel relevante no mercado de Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), fonte importante de recursos para empresas do varejo e do consumo.
De acordo com a Fitch, uma redução mais acentuada no acesso a crédito competitivo tende a afetar especialmente as empresas que possuem dívida de curto prazo acima de 30% do total e caixa inferior ao montante dessas obrigações. Esse grupo representa cerca de 10% dos emissores classificados pela agência e inclui, em sua maioria, companhias de menor porte e com baixa diversificação setorial, como as do segmento de saúde.
A agência observa ainda que, apesar de o perfil de vencimento das dívidas corporativas brasileiras estar relativamente equilibrado, a escassez de linhas de crédito rotativo — pouco comuns no país — limita a capacidade de resposta das empresas diante de choques de liquidez.
Nos últimos 18 meses, o mercado doméstico de dívida havia apresentado um ambiente favorável, com forte liquidez e apetite de investidores. Entretanto, a sequência de rebaixamentos e incertezas recentes pode marcar o início de um ciclo de aperto financeiro, em que companhias mais alavancadas ou dependentes de refinanciamento rápido terão maior dificuldade de manter suas operações em equilíbrio.