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Eleições da Argentina: o que esperar do pleito deste domingo?

Eleições da Argentina: o que esperar do pleito deste domingo?

A América do Sul observa com cuidado as eleições da Argentina, cujo primeiro turno será realizado neste domingo (22). Analistas políticos do país avaliam que esse será um dos pleitos mais incertos da histórica recente do país por conta da profunda crise econômica aliada a um descontentamento crescente entre a população

Após as primárias, chamadas de paso, realizadas em 30 de agosto, três nomes se sobressaíram na disputa: o candidato governista Sergio Massa, atual ministro da economia e que encabeça a coalizão Unión por La Patria; a ex-ministra da Segurança do governo Mauricio Macri, Patricia Bullrich, líder da chapa Juntos por El Cambio, e a grande surpresa, o representante da extrema-direita, Javier Milei, do grupo La Libertad Avanza.

Milei surpreendeu o país ao obter a vitória no paso de agosto, quando os analistas calculavam que sua campanha havia perdido fôlego nas semanas anteriores. Porém, após essa fase, o nome do candidato da ultra-direita se fortaleceu e apareceu como líder em praticamente todas as pesquisas de opinião que surgiram.

Mas para compreender esse panorama eleitoral na Argentina, é preciso entender primeiro o cenário socio-econômico que o país atravessa.

Eleições da Argentina: quadro econômico

Um dos grandes problemas enfrentados pela Argentina é a queda das reservas cambiais do país que derreteram. Em 2018, de acordo com dados do Ministério da Economia, as reservas chegavam a US$ 65,8 bilhões – um número já baixo se comparado com as reservas brasileiras, que superam US$ 300 bilhões – e atualmente se encontra próximo de US$ 40 bilhões.

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Para elevar suas reservas e tentar estancar a crise cambial, o país obteve um financiamento com o Fundo Monetário Internacional (FMI), no qual obteve cerca de US$ 44 bilhões. Porém, esse programa sofreu revisões e em julho, o país desbloqueou US$ 7,5 bilhões desse empréstimo.

Como consequência, Massa conseguiu estreitar os laços comerciais com os chineses, a ponto de dizer que estaria pronto para fundar a república da “Argenchina”. No ano passado, os argentinos receberam US$ 1,34 bilhão provenientes de Pequim contra US$ 1,30 bi destinados ao Brasil. Além disso, a Argentina foi incluída no plano chinês de fomentar o desenvolvimento em vários países do mundo por meio da iniciativa “belt and road”. E foi o primeiro país da América Latina a ser aceito na iniciativa chinesa.

Porém, a delicada situação econômica ainda pesa muito no dia a dia dos argentinos. Essa situação já se reflete na economia diária do país e em suas várias cotações para o dólar. A cotação paralela, também chamada de “dólar azul”, utilizado principalmente pelo comércio, disparou e atingiu a marca de 1.000 pesos argentinos neste mês.

Além disso, pesquisa do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), ligado ao Ministério da Economia, revelou que 40,1% da população do país vive abaixo da linha da pobreza, em dados relativos ao primeiro semestre do ano. Já um percentual de 29,6% das famílias argentinas vivem abaixo da linha da pobreza.

Os candidatos das eleições da Argentina

No pleito argentino são três os nomes que despontam no cenário eleitoral do país. São: Javier Milei, Sergio Massa e Patrícia Bullrich.

Javier Milei

Milei se apresenta em suas redes sociais como “a única opção” para tirar a Argentina do buraco econômico e diz ainda que “não é possível fazer as mudanças com os políticos de sempre”. Com um discurso de ruptura com o atual modelo, o ultradireitista surpreendeu ao sair vitorioso das prévias, realizadas em 30 de agosto.

Javier Milei candidato nas eleições da Argentina

Se diz “libertário”, do ponto de vista econômico e, entre duas ideias, estão a dolarização da economia e o fechamento do Banco Central do país, com o argentino tendo a liberdade de escolher o câmbio que mais lhe convir.

Porém, suas ideias não encontram consenso nem entre apoiadores. Alguns economistas partidários seus avaliaram que será preciso acordos nas diferente esferas – desde o legislativo até o judiciário – para conseguir tirar as ideias do papel.

Líder nas pesquisas, Milei acabou se tornando favorito para as eleições de domingo, algo que é visto com preocupação pelo governo brasileiro. Tudo por causa da posição “anti-PT” adotada por Milei. A preocupação foi externada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O titular do titular da pasta disse quen “uma pessoa que tem como bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa”, afirmou ele.

Sergio Massa

Sergio Massa, candidato apoiado pela atual gestão, do presidente Alberto Fernandez, despontou na corrida eleitoral com a desistência da vice-presidente Cristina Kirchner, que era pré-candidata. Com isso, o grupo político de Fernandez indicou o atual ministro da Economia. O que pesa contra Massa o fato de pertencer ao grupo peronista, que sofre rejeição por parte do eleitorado por suas medidas consideradas populistas.

Sergio Massa, candidato nas eleições da Argentina

Porém, a trajetória de Massa tem sofrido com a difícil situação econômica do país. Como ele é o responsável por recuperar a economia do país atualmente. Por isso, ele tem se envolvido de forma direta nas negociações com o FMI e outros organismos internacionais, como o Banco dos Brics, no qual a Argentina acabou de fazer adesão formal.

Esse candidato é apoiado pelo governo brasileiro. Há alguns meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após encontro com seu colega argentino e Massa, convidou este último a visitar o Brasil como candidato.

Os laços próximos entre Lula e Massa tem sido alvo de críticas de Milei, que denunciou uma suposta interferência brasileira na campanha de Massa, ao supostamente ajudar em um repasse financeiro junto ao Pacto Andino – que tem presidência brasileira.

Patricia Bullrich

Por fim, o terceiro nome na disputa é o de Patricia Bullrich, do grupo liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri. A exemplo de Kirchner, Macri também desistiu de concorrer novamente ao cargo, o que abriu caminho para que sua ex-ministra da Segurança entrasse como candidata.

Patricia Bullrich, candidata nas eleições da Argentina

Com forte apoio na cidade autônoma de Buenos Aires, onde lidera as pesquisas, Bullrich também é contra a dolarização da economia. E adota o discurso de ampliar a segurança do país, dando ênfase na área pela qual é tem mais familiaridade.

Na área econômica, a principal proposta dela é adoção de um esquema biomonetário, dando legalização à livre circulação do dólar no país em paralelo com o peso argentino. Isso significa que os argentinos podem fazer transações e fechar contratos com ambas as moedas, o que seria oposto à dolarização completa.

A visão dos candidatos

Os argentinos têm visões diferentes dos três postulantes principais à presidência. De acordo com matéria da CNN, por exemplo, Massa é visto como “bombeiro” por tentar ajudar o país a amenizar a crise econômica desde que entrou no Ministério da Economia em agosto do ano passado. Joga contra Massa a inflação galopante do país, que superou os 120% em agosto deste ano – mais alto nível das três últimas décadas.

Já Milei – que já foi visto utilizando ua motosserra durante um ato da campanha eleitoral – é visto como um outsider, por suas ideias e posicionamentos pouco ortodoxos. Analistas veem que seus posicionamentos considerados radicais são vistos como “potencialmente perigosos”, inspirando mais medo por parte do eleitorado. No entanto, o público mais jovem tem mais aproximação com o presidenciável.

Por sua vez, Bullrich, assim como Milei, tem um discurso antiperonista. Porém, é vista como “ultrapassada” por parte do eleitorado por conta de seus ataques à vice-presidente Kirchner, em vez de focar nos adversários diretos. Analistas apontam que a saída da candidata é ser uma terceira via entre o peronismo de Massa e o radicalismo de Milei.

Portanto, por seu caráter indefinido e tendo candidatos que estão muito próximos na preferência eleitorado, as eleições da Argentina no domingo, podem ser consideradas as mais incertas na história recente do país.