O Copom – Comitê de Política Monetária – decidiu cortar a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual para 11,75% ao ano. A decisão foi divulgada nesta quarta-feira (13) após dois dias de reunião do colegiado. A decisão foi unânime.
Em comunicado, o comitê explicou que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz trecho do comunicado.
A nota diz ainda que, em se confirmando o cenário esperado para a redução da inflação, os membros do comitê projetam redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse corte, de 0,5 ponto, é considerado o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.
“O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz outro trecho da nota.
A decisão segue o ciclo de queda nos juros que começou em agosto deste ano, quando a taxa Selic foi diminuída para 13,25% ao ano. Na ocasião, a redução fora de 0,5 ponto, como a decisão de hoje, e deixou a porta aberta para outras reduções da mesma magnitude.
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Projeções
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom. A inflação ao consumidor, conforme esperado pelo colegiado, manteve trajetória de desinflação, com destaque para as medidas de inflação subjacente, que se aproximam da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
Diante desse cenário, as expectativas de inflação para o fim deste ano e ainda para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,5%, 3,9% e 3,5%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência situam-se em 4,6% em 2023; 3,5% em 2024; e 3,2% em 2025. Enquanto isso, as projeções para a inflação de preços administrados são de 9,1% em 2023; de 4,5% em 2024; e de 3,6% em 2025.
Stephan Kautz, economista chefe da EQI Asset, avaliou que o comunicado do Copom sugere que nas próximas duas reuniões devem seguir em mais duas reduções de 0,5 ponto percentual. “Então, seguimos com 11,75% menos 100 pontos base somadas nas reuniões de janeiro e março, então vamos para 10,75% até março”, explicou.
Sobre as projeções de inflação, o Copom fez revisões em linha com o esperado, tendo uma pequena de 4,70% para 4,60% neste ano; e de 3,60% para 3,50% para 2024, com uma redução nos preços administrados, sugerindo que essa revisão não deve ser muito relevante.
“Em geral é a sinalização de que não veem uma completa ancoragem das projeções para o centro da meta por isso seguem com o ritmo mais cauteloso de 0,5 ponto, sinalizando que para o final do ciclo, a política monetária ainda estará contracionista, ou seja, que o juro real e efetivo ainda estará acima do juro real neutro. Por isso, a gente manteve nossa projeção de que a Selic vai ser reduzida a 9,25%, em ritmos de 0,5 ponto ao longo das reuniões de 2024”, avaliou.
Com isso, Kautz calcula que em meados do próximo ano estará encerrando o ciclo no patamar citado, mas nada impede que possa ocorrer um novo corte em 2025, à medida que a inflação continua desacelerando e o cenário de crescimento econômico se confirme de ser mais fraco do que esse ano.
Copom e os cortes de juros
Em agosto foi a primeira vez que o Copom havia reduzido a taxa de juros desde agosto de 2020, quando, em meio à pandemia de Covid-19, a autoridade monetária baixou a taxa para 2% ao ano para estimular a atividade econômica. A partir de março de 2021, para combater a alta da inflação, o Comitê iniciou a trajetória de aperto monetário até chegar a 13,75% ao ano, valor definido em agosto do ano passado.
A decisão já era esperada pelo governo desde o início do ano. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou várias vezes do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a quem passou a se referir como “aquele cidadão”, e nos bastidores do governo chegou a se cogitar a hipótese de tentar a demissão do economista, cujo mandato vai até o fim de 2024.
O que é o Copom?
Apesar de muitas pessoas já terem ouvido pelo menos uma vez a palavra Copom, poucas são aquelas que efetivamente conhecem esse órgão e sabem da sua importância.
O Copom foi instituído em 20 de junho de 1996 e o seu principal objetivo é estabelecer as diretrizes da política monetária, no sentido de executá-la e de definir a taxa de juros da economia.
Essa taxa de juros é a famosa Selic, muito conhecida dos investidores. Essa taxa é que, em muitos casos, define a rentabilidade de algumas aplicações, principalmente as de renda fixa.
Nesse sentido, quando a Selic está alta, a rentabilidade das aplicações de renda fixa tende a subir. Já quando a Selic está baixa, essa rentabilidade acaba diminuindo.
A principal função do Copom é realizar uma avaliação do cenário macroeconômico do país e os principais riscos a ele associados. É com base nessas avaliações que são tomadas as decisões de política monetária.
Além de definir a Selic, desde 1999 o Copom também é responsável por acompanhar o cumprimento das metas de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).