O risco fiscal e o aumento da expectativa de inflação são os dois temas a serem observados no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que decide na noite desta quarta-feira (20) a taxa de juros.
O mercado aguarda, em unanimidade, por mais um corte de 50 pontos-base, que levaria a Selic a 12,75%.
A avaliação é que não há motivos para reverter o curso do ritmo de cortes programado pelo Banco Central.
Na decisão da última reunião, quando foi dado início ao corte de juros, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, havia afirmado que cortes de 50 pontos-base seriam o ritmo adotado e que para acelerar o processo acima disso, “a barra seria muito alta”.
Os três fatores-chave para qualquer mudança de ritmo seria, segundo Campos Neto:
- Uma mudança brusca na expectativa de inflação;
- Uma mudança substancial no hiato de crescimento – ou seja, na capacidade de crescer sem gerar inflação;
- E uma inversão de algumas tendências no núcleo da inflação.
Grande parte do mercado enxerga que houve uma melhora qualitativa da desinflação, que poderia dar argumentos para um tom mais dovish no comunicado. Contudo, a retomada das incertezas fiscais e maior resiliência da atividade ainda demandam cautela.
No comunicado de hoje, o mercado irá prestar atenção especial ao trecho em que o Copom sinaliza os próximos passos. Como o ano só terá mais duas reuniões de política monetária, em novembro e dezembro, o trecho do último comunicado que diz “ajustes de mesma magnitude nas próximas reuniões” será analisado “com lupa”, para saber se virá no singular ou no plural. E daí o mercado irá tirar sua conclusão sobre a Selic final de 2023.
Portanto, os investidores estarão de olho nas mensagem sobre:
- Incerteza fiscal;
- Hiato do produto;
- E projeções do Banco Central para o IPCA.
Do início de agosto para cá, o mercado retomou sua sensibilidade com a pauta fiscal, em função da superestimação de receitas (e subestimação das despesas) públicas pelo governo, suscitando dúvidas não apenas sobre o cumprimento do déficit zero de 2024, mas principalmente se o contingenciamento de despesas, se necessário, será feito conforme o arcabouço fiscal.
O mercado também vê uma piora na projeção de inflação a partir de 2024.
Em live realizada nesta quarta-feira (20) pelo BTG, Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, apresentou suas expectativas – de alta de 50 pontos-base nesta e na próxima reunião do Copom, e de 75 pontos-base na de dezembro.

Para ele, o hiato segue apontando para crescimento acima do esperado; a inflação vem apresentando bons resultados de núcleo; mas as expectativas estão “andando de lado”.
“Apesar de não ter acontecido até agora, podemos ter crescimento global mais fraco à frente, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. Também não vejo continuidade de alta recente do petróleo por muito mais tempo”, afirma.
“O cenário continua de desaceleração, com queda da atividade e hiato abrindo daqui para a frente e afetando as projeções de mais longo prazo, para 2025”, complementa.
Kautz também pondera que não vê aumento do risco fiscal, mas apenas a confirmação de que as medidas do Governo seguiriam mais na linha da receita do que do corte de despesas.
“Do fiscal, eu acho que não houve aumento do risco. A gente já sabia que o arcabouço e as propostas apresentadas seriam baseados em aumento de receita e não em despesas. O orçamento de 2024 trouxe números para a gente trabalhar. A grande dúvida segue sendo a receita”, avalia.
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