O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, relacionou a queda dos juros brasileiros, no longo prazo, à melhora do cenário fiscal no país, com a aprovação definitiva do novo arcabouço fiscal e o cumprimento da regra pelo governo.
“Quando você tem uma melhora fiscal por queda de gastos, você tem um efeito mais positivo na inflação do que quando você tem uma queda fiscal por aumento de receitas, mas também é importante reconhecer que o Brasil tem uma história de crescimento de gastos, em termos reais, alta”, afirmou o economista, deixando claro que não se tratava de uma crítica “deste governo, nem do outro, é histórico”.
A presença de Campos Neto no Senado foi a primeira aparição pública do presidente do Banco Central desde a queda da Selic para 13,25%, na reunião da semana passada do Copom (Comitê de Política Monetária), e aconteceu em cumprimento à lei de autonomia do BC, que determina mandato de quatro anos ao presidente, com a condição de visitas semestrais para prestação de contas ao Legislativo.
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“A queda da Selic era um clamor da sociedade, porque uma taxa mais baixa impulsiona a geração de empregos e o crescimento da economia”, disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), antes mesmo da fala do presidente do BC.
Campos Neto defendeu que a definição do novo arcabouço fiscal é fundamental para garantir o cumprimento de metas nas contas do governo e, assim, criar um cenário que torne mais viável a redução dos juros.
“Ao passarem as medidas que vão trazer mais receita, esses números devem melhorar. Isso também vai contribuir para uma inflação menor lá na frente. Se a gente consegue ancorar a expectativa fiscal, eu também consigo ancorar a expectativa monetária. Isso vai fazer com que os juros fiquem menores lá na frente”, afirmou Campos Neto.
O presidente do BC defendeu o trabalho realizado pela autoridade monetária ao longo do semestre, apenas das frequentes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à manutenção da Selic nas primeiras reuniões do Copom.
“O Banco Central fez um bom trabalho em termos de pouso suave, que é trazer a inflação para baixo com o mínimo de custo possível. Se a gente comparar o que caiu com a inflação no Brasil, a gente tem dificuldade de achar um outro país no mundo que tenha conseguido reduzir a inflação nessa mesma proporção, quase sem alteração no crescimento e com geração de emprego no mesmo período”, afirmou.
Ele alertou, contudo, que o cenário de inflação baixa dos últimos meses, com registro até de deflação tanto no IPCA de junho, de 0,08%, quando no IPCA-15, de 0,07% para a prévia de julho, tende a não se manter ao longo do ano.
“A gente tem que olhar a inflação de 12 meses levando em consideração que no último semestre a desoneração de combustível teve um efeito baixista. A inflação vai ter movimento de alta de 12 meses já agora até o fim do ano. A inflação é um imposto que afeta as classes mais baixas e gera um aumento da desigualdade, isso tem sido demonstrado em vários estudos”, defendeu Campos Neto.
Ele disse que o BC busca uma queda de juros “estrutural e sustentável”, e afirmou que há um estudo que deve ser apresentado, em 90 dias, para modificar a forma de pagamento do cartão de crédito, acabando com o crédito rotativo, em que faz apenas um pagamento mínimo e rola o restante da dívida, com juros médios de 454% ao ano.
“Está se encaminhando para que o crédito vá direto para o parcelamento, com uma taxa ao redor de 9% e alguma tarifa para desincentivar o parcelamento com juros longos”, reconheceu Campos Neto no Senado. “O cartão de crédito representa 40% do consumo, e hoje o inadimplemento no rotativo é de 52%, não tem caso parecido em nenhum outro lugar do mundo. A taxa está hoje em 454%. É um grande problema.