Boa parte dos investidores norte-americanos têm apostado que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deverá iniciar um corte de juros em breve. Não é o caso da BlackRock, porém.
Acontece que a maior gestora de ativos do mundo está convicta de que a autoridade monetária norte-americana se manterá fiel à sua estratégia de conter a inflação no país por meio de sua taxa de juros. Neste caso, o viés continua sendo de alta.
Isso porque a inflação nos EUA situou-se em 6,4% em janeiro, um abrandamento inferior ao esperado face ao mesmo mês de 2022, tendo acelerado em relação a dezembro. O levantamento é do próprio governo.
Já a taxa de juros no país está na faixa entre 4,75% e 5% ao ano, conforme decisão do The Federal Open Market Committee (FOMC) em sua última reunião. O próximo encontro está previsto para os dias 2 e 3 de maio, conforme calendário disponível no site do Fed.
Para efeito de comparação, os juros no Brasil estão, atualmente, em 13,75% ao ano, conforme mantido recentemente pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A inflação no país, por sua vez, fechou o ano de 2022 em 5,79%.

A BlackRock e os juros dos EUA
Voltando ao cenário norte-americano, a BlackRock diz acreditar que o Fed não será desencorajado nem mesmo pela recente turbulência do mercado causada pela crise bancária.
Neste contexto, a gestora tem apostado em títulos atrelados à inflação, que oferecem proteção contra o aumento dos preços.
Em relatório, a firma administrada por Larry Fink reforça que os problemas que assolam o setor não vão deter sua batalha contra a espiral inflacionária.
Do lado dos traders que estão em linha com o pensamento da BlackRock, ou seja, de que o Fed vai apertar os juros novamente, boa parte aposta em uma elevação de 25 pontos-base.
De igual modo, a Bloomberg informa que os últimos dados econômicos dão credibilidade à opinião da BlackRock, de que a autoridade monetária pode estar “subestimando o quão teimosa a inflação está se provando devido ao aperto do mercado de trabalho”.
Por fim, a gestora elenca em seu relatório que o Fed só seria capaz de implementar os cortes de taxas esperados pelos mercados se uma crise de crédito mais grave ocorresse e desencadeasse uma recessão ainda mais profunda do que se espera.
Corrosão no bolso
A comparação feita anteriormente acerca da inflação norte-americana com a brasileira traça um paralelo bem difícil de imaginar até bem pouco tempo atrás.
Primeiro, o Tio Sam não está acostumado com esse nível de custo de vida, enquanto os brasileiros sabem como conviver e contornar esse tipo de situação.
Segundo, os trabalhadores e as famílias norte-americanas estão sendo pressionados pelos preços de alimentos e combustíveis, algo atípico para os padrões de lá.
Do lado e cá, os brasileiros têm seus produtos de preferência, mas possuem um grau de desapego que os possibilita trocar por marcas mais baratas para, assim, tentar comprar o mesmo, gastando o mesmo, mas com itens um pouco diferentes do que estão acostumados.
Essa “prática” comum na América do Sul é mais comumente observada na América do Norte por meio dos latinos que residem nos EUA. Entretanto, do lado dos americanos nativos, esse exercício de desapego se mostra menos prático e praticado.
Desta forma, para manter o mesmo padrão de vida, o endividamento começa a acelerar. Tanto é assim que o total de dívidas de famílias nos EUA cresceu em US$ 1,02 trilhão em 2022, conforme levantamento do Fed.
Segundo a autoridade monetária, este foi o maior volume anual de novas dívidas desde a crise financeira, quando houve um salto de US$ 1,06 trilhão em 2007. A dívida total de consumidores americanos agora está em US$ 15,6 trilhões, contra US$ 14,6 trilhões um ano antes.
A instituição elencou, em relatório, que o aumento se deu principalmente em função de uma alta acentuada nos preços para habitação e carros. O custo médio para uma casa nos EUA subiu quase 20% em 2021, aumentando os saldos das hipotecas e pressionando muitos compradores de classe média.
De igual modo, o brasileiro também se viu em apuros em 2022. É o que mostra um levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), para quem o endividamento das famílias bateu recorde no período, com parcela de 77,9% de famílias se declarando endividadas na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).
A alta na parcela de endividados foi de sete pontos percentuais em relação a 2021 e de 14,3 pontos em relação a 2019, ano anterior a pandemia. A série histórica do levantamento começou em 2011.
Outro indicador recorde foi o da inadimplência. Em 2022, houve crescimento de 3,7 pontos percentuais em relação a 2021, de acordo com comunicado da CNC. Isso signifca que, a cada dez famílias, três atrasaram algum pagamento, maior valor desde o início da pesquisa.
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