A B3 ($B3SA3), a principal bolsa de valores do Brasil, anunciou o lançamento de dois novos índices de renda fixa lastreados em debêntures de classificação triple A. São eles: o Índice de Debêntures AAA DI B3 (IDEB) e o Índice de Debêntures Incentivadas AAA IPCA B3 (IDEI). A iniciativa visa fortalecer o mercado de renda fixa brasileiro, criando referências mais robustas para ativos de crédito privado com alto grau de segurança.
Esses índices são compostos exclusivamente por debêntures que apresentam nota AAA nas agências de classificação de risco. Trata-se da nota mais alta na escala de risco, atribuída a emissores com capacidade extremamente forte de honrar seus compromissos financeiros. A proposta da B3 é oferecer um termômetro confiável do desempenho médio desses papéis no mercado secundário, beneficiando investidores, gestores e instituições financeiras.
O que são os novos índices?
O IDEB contempla debêntures remuneradas por taxas de DI (Depósito Interbancário) somadas a um spread de risco. Já o IDEI foca em debêntures incentivadas, que oferecem remuneração vinculada ao IPCA (índice oficial de inflação) mais spread. Essas últimas são emitidas para financiar projetos de infraestrutura e, atualmente, contam com isenção de Imposto de Renda — embora essa vantagem vá ser parcialmente reduzida a partir de 2026, com a introdução de uma alíquota de 5% sobre os lucros.
A segmentação dos índices entre debêntures comuns e incentivadas permite que investidores tenham ferramentas distintas para analisar classes diferentes de ativos. O IDEB tende a ser usado como referência para aplicações corporativas e financeiras mais tradicionais, enquanto o IDEI será mais útil para estratégias que envolvem investimentos sustentáveis e de impacto, especialmente nos setores de mobilidade urbana, saneamento e energia.
Critérios rigorosos de composição
A B3 definiu critérios técnicos e seletivos para garantir a qualidade dos ativos que compõem os dois índices. Somente debêntures com rating AAA emitidas em volumes superiores a R$ 300 milhões podem ser incluídas. Além disso, é exigido um volume médio diário de negociação de pelo menos R$ 300 mil, em pelo menos 20% dos dias úteis dos últimos quatro meses, garantindo assim liquidez mínima para os ativos integrantes.
Outro critério importante é o prazo: os papéis devem ter vencimento superior a um mês no momento do rebalanceamento mensal dos índices. Debêntures que estejam próximas do vencimento, que sejam conversíveis, permutáveis, perpétuas ou envolvidas em processos de recuperação judicial são automaticamente excluídas. Isso evita distorções nos cálculos e assegura que os índices reflitam ativos efetivamente saudáveis e operacionais.
Periodicidade e estrutura dos índices
Tanto o IDEB quanto o IDEI são considerados índices de retorno total, ou seja, além da valorização ou desvalorização dos preços das debêntures, também contabilizam os juros recebidos durante o período de apuração. Essa estrutura é fundamental para representar fielmente o desempenho do investimento ao longo do tempo, especialmente no caso de ativos de renda fixa.
Os rebalanceamentos das carteiras são realizados mensalmente, permitindo atualizações frequentes para incorporar novos ativos elegíveis ou remover aqueles que perderam os critérios exigidos. A ponderação dos títulos dentro de cada índice é feita com base em seu valor de mercado, o que dá mais peso às debêntures com maior relevância no mercado secundário. Essa metodologia também aproxima os índices da realidade de investidores institucionais e gestores de fundos.
Indicadores de spread reforçam análise de risco
Junto com os índices, a B3 também lançou dois indicadores de spread de crédito: o IDCS, baseado no IDEB, e o IDPS, derivado do IDEI. Esses indicadores mostram, de forma diária, o spread médio ponderado das carteiras teóricas — ou seja, a remuneração adicional exigida pelo mercado para correr o risco de crédito das empresas emissoras.
Esses indicadores são fundamentais para investidores que desejam acompanhar a evolução do risco no mercado de crédito privado. Como são atualizados diariamente, fornecem uma leitura mais sensível e dinâmica sobre os preços dos ativos. Além disso, os spreads ajudam a entender movimentos de mercado, como aumento da percepção de risco em determinados setores ou reavaliações de crédito de emissores específicos.
Impacto para investidores e para o mercado
O lançamento dos índices IDEB e IDEI ocorre em um momento de expansão do mercado de debêntures no Brasil. Somente em 2024, o volume emitido já ultrapassa R$ 500 bilhões, um recorde. A B3 também passou a aceitar debêntures como garantia em operações estruturadas, o que reforça a relevância desses ativos no sistema financeiro. Com isso, cresce a demanda por indicadores confiáveis para acompanhar esse mercado.
Para investidores institucionais, os novos índices oferecem parâmetros mais técnicos e realistas para balizar carteiras e estratégias de alocação. Para os emissores, os índices criam um incentivo para manter classificações elevadas, ampliando seu acesso ao mercado. Já para gestores de fundos e produtos como ETFs, abrem-se novas oportunidades para desenvolver instrumentos baseados nesses benchmarks, fortalecendo a inovação no mercado de capitais.
Mais de 60 índices no portfólio da B3
Com os lançamentos do IDEB e do IDEI, a B3 reforça sua liderança na oferta de benchmarks para o mercado financeiro nacional. A bolsa brasileira já conta com mais de 60 índices, que abrangem ações, governança, sustentabilidade, commodities, agronegócio e, agora, com ainda mais força, a renda fixa corporativa.
A construção de índices específicos e qualificados impulsiona o desenvolvimento de produtos financeiros sofisticados, como contratos futuros e fundos de índice (ETFs), negociados diretamente na bolsa. Ao estruturar métricas claras e transparentes, a B3 contribui para a profissionalização e maturidade do mercado de capitais, promovendo um ambiente mais eficiente, competitivo e seguro para todos os participantes.