O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado para as metas oficiais do governo, registrou elevação acentuada nos últimos meses, mas recuou em maio, segundo divulgação do IBGE nesta quinta-feira (9).
Se você deseja entender como a inflação impacta os investimentos, prossiga na leitura!
O IPCA foi de 0,47% em maio, resultado abaixo do consenso do mercado, que esperava 0,60%. Em abril, a leitura do indicador foi de 1,06%.
No ano, o IPCA acumula alta de 4,78% e, nos últimos 12 meses, de 11,73%, abaixo dos 12,13% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em maio de 2021, a variação havia sido de 0,83%.
De acordo com Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, o IPCA mostra sinal de arrefecimento dos preços industriais (bens duráveis), que foram importante foco de pressão nos últimos 12 meses.
“A parte de núcleo, que exclui os itens mais voláteis, também mostra sinais de estabilização. Ainda assim, é uma inflação muito alta, mas que parece ter parado de piorar. A expectativa é de que nos próximos meses essa inflação comece a desacelerar e, assim, o Banco Central possa encerrar o ciclo de alta dos juros”, destacou.
Vale lembrar que, nos últimos meses, a inflação vinha superando – e muito – a meta estipulada pelo Banco Central, o que acabou levando o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar as taxas de juros.
A alta atual dos preços ocorre por causa de alguns fatores, como a elevação dos preços dos combustíveis, reflexo da elevação do preço do petróleo no mercado internacional. O que, por sua vez, vem do conflito armado envolvendo a Rússia – um dos grandes produtores mundiais da commodity – e a Ucrânia.
Ato contínuo, a subida dos preços nos combustíveis pode elevar também o preço dos alimentos, da gasolina, de remédios ou qualquer outro produto ou serviço que afete diretamente a vida da população.
Então, o que acontece? Um aumento generalizado dos preços leva a um possível descontrole. Daí, os salários passam a ter dificuldade em acompanhar o aumento dos preços e o poder de compra fica corroído. Algo semelhante acontece com os investimentos: alguns deles passam a render menos do que a inflação.
De forma geral, podemos entender a inflação como uma elevação contínua, persistente e generalizada nos preços.
O que é a inflação?
Há décadas, os governos entram e saem entendendo pouco sobre como a inflação pode afetar a população, suas causas e como buscar o remédio considerado ideal para combatê-la. O Comitê de Política Econômica (Copom) tem seu remédio, que é o aumento dos juros. Porém, há efeito colateral, que é o aumento do desemprego, gerado pelas dificuldades de consumo com a restrição de crédito.
Vamos a um pouco de história para entender mais esse fenômeno. Na época do Império Romano, a moeda que circulava era o Denário e era feita de ouro. Seu valor era justamente o seu próprio “peso em ouro”. O imperador Diocleciano, que precisava financiar seus gastos, que já eram descontrolados, necessitava de mais dinheiro.
Porém, para pôr mais dinheiro em circulação, era necessário ter ouro suficiente para emitir a moeda. E ouro não é um metal fácil de achar. Assim, ele decidiu por emitir moedas com um tipo de ouro considerado “menos puro”.
Por meio de um decreto, estabeleceu que essa nova moeda, cujo ouro não era tão puro, tivesse o mesmo valor que a moeda emitida anteriormente. O problema é que o aumento na circulação dos denários reduziu de forma drástica o valor do dinheiro. Assim, para que os produtos pudessem ser comprados, eram necessários mais denários do que antes.
Tomando um exemplo hipotético: depois do decreto do imperador, os romanos agora passariam a ter de usar duas moedas para a comprar um saco de trigo em vez de apenas uma moeda. Em suma, o valor ficou inflacionado.
O imperador – que não aceitava ser contrariado – culpou a “avareza” dos mercadores pela alta dos preços. Algo muito semelhante como ocorre hoje.
Por isso, vemos que a inflação é o aumento dos preços de bens e serviços. O que implica na diminuição do poder de compra da moeda.
Atualmente, o Brasil dispõe de diversos índices de preços que medem como está a inflação.
Os índices são indicadores utilizados para mensurar o aumento ou a variação dos itens de consumo, bem como o impacto causado nas diferentes áreas do custo de vida da população.
Da mesma forma como a população, os investidores também precisam ficar atentos aos índices. Afinal, se um investimento rende um patamar menor do que a inflação, não há rendimento, pois não houve ganho real.
Vamos a um exemplo hipotético: suponhamos que o investidor tenha investido durante um ano recebendo 6%, com um investimento inicial de R$ 1.000,00, para adquirir um aparelho de telefone celular. Ao fim do ano, este investidor terá 1.060,00. No entanto, se a inflação do ano foi de exatamente 6% o custo do aparelho também passou para R$ 1.060. Ou seja: esse ganho de 6% empatou com a inflação e não teve rendimento real.
Vamos a alguns dos indicadores:
IPCA
O principal deles é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). É o usado pelo governo para estabelecer as metas de inflação.
É por meio do IPCA que o governo estabelece as metas e faz o acompanhamento de como está a questão inflacionária. É também o índice usado para as projeções das casas de investimentos bem como do boletim Focus – pesquisa de mercado do Banco Central.
No entanto, quando falamos de investimentos, além do IPCA há outro índice que precisa ser acompanhado com atenção pelos investidores.
IGP-M
Trata-se do Índice Geral de Preços. Este é calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e faz o acompanhamento de preços de uma forma considerada mais ampla. Monitora desde matérias-primas agrícolas e industriais até bens e serviços finais.
Além disso, o IGP-M é usado de forma ampla na correção de aluguéis e taxas públicas, como contas de energia elétrica. Portanto, ele abrange diversas faixas de renda, sendo bastante utilizado como comparativo ao IPCA. Isso porque, para muitos, reflete os preços na economia de forma considerada mais aderente com a realidade.
Tipos de inflação
É possível dizer que a inflação é causada por três fatores principais:
- Inflação monetária: ocorre quando há emissão de dinheiro de forma descontrolada por parte do governo.
- Inflação de demanda: acontece quando a demanda por produtos, causada por aumento do consumo, supera a capacidade de produção do país. A inflação de demanda é geralmente causada pela inflação monetária. Alguns economistas não consideram este como uma inflação propriamente dita, mas sim aumento de preços.
- Inflação de custos: ocorre quando há elevação nos custos produtivos ou custos de produção (maquinário, matéria-prima, mão-de-obra) dos produtos. Assim como no exemplo anterior, também é causada pela primeira.
Podemos dizer que, dentre todos os indicadores econômicos de uma nação, a inflação é um dos mais importantes. Merece um acompanhamento diferenciado, pois um descontrole em sua variação pode causar sérios problemas, os quais somente podem ser solucionados após anos de esforço. Em alguns casos pode nem haver perspectiva de recuperação, como determinados países onde há um índice de hiperinflação.
São argumentos considerados suficientes para um governo se preocupar em manter a inflação sob controle. Caso o teto seja quebrado e seus níveis passem a ter um viés de alta, a população passa a comprar menos itens com o mesmo dinheiro. Com isso, a produção industrial do país cai, pois há queda no consumo. E diante desse cenário, o desemprego se torna uma ameaça real.
Se ocorrer um cenário como o descrito acima, é comum que os países elevem suas respectivas taxas de juros como forma de conter a escalada. Daí ocorre outro fenômeno que se acentua: a fuga de capitais de investimentos do país em busca de ambientes de negócio mais favoráveis. Como vimos, ter uma inflação em descontrole resulta em um efeito dominó dos mais drásticos possíveis.
Como a inflação impacta os investimentos: quais são os cenários de inflação mais relevantes?
No mundo globalizado em que vivemos, nenhum país permanece isolado do restante do mundo como uma ilha. Diversas economias importam ao Brasil, dada a relevância na balança comercial. Com isso é importante acompanhar a questão inflacionária nos principais parceiros comerciais do Brasil, pois o que acontece com eles, certamente trazem reflexos para nós.
China
É o maior parceiro comercial do Brasil atualmente. Com isso, a economia chinesa merece atenção especial. Recentemente, percebeu-se uma elevação gradual no Índice de Preços ao Produtor ― PPI, principal indicador do aumento de preços naquele país. Parte desse aumento ocorre devido à retomada dos preços das commodities. Tratando-se, então, de um movimento muito expressivo que vem desde o ano passado.
Porém, economistas apontam que ainda há espaço para um avanço mais acentuado da inflação chinesa. Isso pode ser constatado pela rápida retomada da manufatura naquele país.
Todavia, a recuperação do consumo ainda encontra-se distante do desejado, não acompanhando a produção. Vem ocorrendo a possibilidade de um viés crescente nos preços.
União Europeia
O bloco tem como principal índice o CPI, que vem apresentando altas seguidas. Segundo o Banco Central Europeu (BCE), a alta de juros vai acontecer em julho, justamente para conter a inflação.
Estados Unidos
Os norte-americanos enfrentam uma alta nas taxas de inflação. Isto se deve em parte à recuperação acentuada do preço do barril de petróleo, após sofrer grande queda no início da pandemia. O que também tem contribuído, neste ano, para dificultar a inflação, é a guerra na Ucrânia, que também impôs uma pressão aos preços do petróleo.
Argentina
Os vizinhos brasileiros já vinham passando por uma grave crise econômica. Fato este que se agravou com a chegada da pandemia da Covid-19. No contexto da América do Sul é, historicamente, um grande parceiro comercial. Por isso, sua situação merece também uma atenção especial.
Recentemente, o governo de Buenos Aires tomou uma medida que redundou em fracasso. Trata-se da proibição na exportação de carnes, de forma a conter a subida de preços. A Argentina ocupa posições de destaque nesse segmento e a intenção de proibir a remessa ao exterior do produto foi tomada para conter os preços no mercado doméstico.
Porém, o remédio amargo não trouxe os efeitos desejados. Em 2020, a carne teve um crescimento de 20% no seu preço. Com isso, em vez de reduzir os preços, a medida trouxe ainda mais prejuízos ao setor, já que muitos pecuaristas saíram do país, gerando um grande desemprego.
Como a inflação impacta os investimentos e afeta os negócios?
Para que um país tenha um bom ambiente de negócios, é necessário que ocorra previsibilidade nas regras do jogo e baixa volatilidade. Afinal, os investidores gostam de contar com bons retornos e, se possível, com os menores riscos possíveis. Mas a inflação gera incertezas na economia; desestimula o investimento e o crescimento econômico.
Os preços relativos passam a ficar distorcidos, gerando várias ineficiências na economia. Com isso, a população perde a noção dos preços relativos quando há descontrole dos preços. Assim, fica difícil avaliar se algo está barato ou caro. Um cenário deste foi comum nos anos 80, considerada a década perdida.
A camada da população mais afetada é aquela considerada menos favorecida, pois possuem menos acesso a instrumentos financeiros para se defender da alta dos preços.
Além dos preços descontrolados, a inflação elevada também aumenta o custo da dívida pública. Isto porque as taxas de juros da dívida pública precisam compensar não só o efeito da inflação, mas também têm de incluir um prêmio de risco para compensar as incertezas associadas com esse cenário desfavorável.
Como a inflação impacta os investimentos: qual aplicação acompanha a inflação?
Com isso surge a pergunta: qual investimento acompanha a inflação? Existem algumas opções no mercado que podem proteger os investimentos e fazer com que o investidor consiga obter rendimentos mesmo no cenário desfavorável. Assim, dá para saber como a inflação impacta os investimentos e evitar perdas.
Tesouro Direto
Um deles é o Tesouro Direto. É um tipo de investimento que vem sendo cada vez mais procurado pelos brasileiros por serem considerados simples, seguros e que rendem mais que a poupança. E dá para investir nele a partir de R$ 30.
Estes títulos públicos são garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), ainda que não seja estritamente necessário. Afinal, é quase impossível que o governo deixe de pagar os investidores. Ainda em um cenário hipotético muito ruim, os bancos quebraram antes do Tesouro Nacional. Ou seja, investir no Tesouro Direto pode ser considerado a opção mais segura do Brasil.
Existem cinco tipos de títulos públicos: Tesouro IPCA+, Tesouro IPCA+ com juros semestrais, Tesouro Prefixado, Tesouro Prefixado com juros semestrais e Tesouro Selic.
E além disso, há alguns títulos que sempre se mantêm acima da inflação, mantendo o poder de compra e rentabilidade. Confira quais são:
Tesouro IPCA+
Este é pós-fixado, ou seja, indexado a um indicador, que é o próprio IPCA. Ou seja, o investidor recebe a taxa definida no dia da compra do título e mais a variação do IPCA do período. Significa que seu rendimento sempre se manterá acima da inflação, mesmo que ocorra um aumento acentuado.
Tesouro IPCA+ com juros semestrais
É o mesmo tipo do caso acima. Mas em vez de receber toda a rentabilidade no prazo de vencimento, o investidor receberá os juros em parcelas semestrais.
Em suma, aplicando o patrimônio no Tesouro IPCA+ (seja com juros semestrais ou não), o investidor sempre estará acima da inflação.
LCI/LCA
Outras boas opções são os títulos de renda fixa privada. Citamos alguns deles que se destacam mais como a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).
Estes títulos são emitidos por bancos e considerados muito seguros. Isto porque a garantia também se dá por meio do FGC. Ou seja, se a instituição quebrar, o investidor recebe todo o dinheiro de volta, dentro das regras do fundo. Por exemplo: investimentos de até R$ 250 mil por CPF e por instituição financeira, recebem o teto de R$ 1 milhão.
As letras de crédito são praticamente idênticas, porém com exceção de um detalhe. Na LCI, o dinheiro vai para o setor imobiliário diretamente, excluindo qualquer outro segmento. Na LCA, vai para o agronegócio.
Ambos são isentos de Imposto de Renda e a liquidez só pode ser no vencimento. Isto significa que o investidor não pode resgatar os recursos a qualquer momento. Isso significa que o montante fica “preso” até o prazo de vencimento. É possível investir em LCI e LCA em aplicações mínimas de R$ 1.000.
No mercado ainda existem LCIs e LCAs que são pós-fixadas e atreladas ao IPCA ou IGP-M. Porém, são mais difíceis de encontrar. No entanto, representam boas opções para quem deseja manter poder de compra.
Fundos de inflação
Por sua vez, os fundos de investimento são opções diferenciadas para aplicação dos recursos. Por serem um serviço e não um produto, faz com que o investidor consiga ter mais rentabilidade. O ponto fraco é que estes não possuem as garantias dadas pelo FGC.
E como funciona? Os cotistas deixam seu patrimônio com o gestor do fundo, que fará a distribuição desse valor de acordo com a característica daquele fundo em especial. Existem centenas de tipos de fundos. Mas como o foco é a inflação, nos ater aos fundos que têm a ver sobre o tema.
Eles possuem o objetivo de superar o índice de inflação. O dinheiro do cotista vai para, principalmente, títulos do Tesouro Direto atrelados ao IPCA. O gestor tem a função de comprar diversos títulos com diferentes taxas e prazos de vencimento. A ideia é criar uma carteira no sentido que esta esteja sempre acima da inflação.
Porém, há uma desvantagem. Os fundos de inflação são conhecidos por não possuírem uma boa rentabilidade. Como ele fica restrito aos títulos que dependem dos índices de inflação, sua carteira fica pouco diversificada, reduzindo o rendimento final.
Outro ponto é entender a taxa de administração do fundo. Como o dinheiro só será aplicado em títulos de renda fixa que são atrelados ao IPCA ou ao IGP-M, o fundo não deve cobrar uma taxa muito alta.
Uma solução interessante para ter uma rentabilidade maior, mas não depender só do IPCA ou IGP-M, é aplicar nos fundos DI – fundos de renda fixa. Neste tipo, o dinheiro só irá para renda fixa e o gestor do fundo vai diversificar a sua carteira em diferentes tipos de investimento nesse tipo específico. Porém, é preciso manter atenção nas taxas de administração.
Se a principal preocupação do investidor é elevar o poder de compra, basta escolher um fundo que tenha essa característica: que se mantenha sempre acima da inflação e que dê um rendimento adequado. Basta encaixar as diferentes opções aos objetivos traçados.
Quais investimentos estão acima da inflação?
Com relação aos rendimentos, apenas o bitcoin e os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) apresentaram rendimentos superiores à inflação nacional no ano passado, segundo dados da Economatica e divulgados pela revista Forbes.
Por exemplo, o IPCA terminou o ano passado com taxa de 10,06%, considerado o maior avanço anual desde 2015.
Tanto o criptoativo quanto os BDRs superaram outros investimentos como dólar, fundos imobiliários e o próprio índice Ibovespa. Segundo matéria da publicação, estes apresentaram rendimentos negativos de 2,43%, 11,21% e 19,98%, respectivamente.
No sentido contrário, o bitcoin e os BDRs registraram valorização de 57,08% e 21,43%, respectivamente.
Tá, e aí? O que isso significa para o investidor?
Isso significa que, por mais assustador que seja o monstro da inflação, não é preciso temê-lo, desde que seja possível contar com uma carteira montada de acordo com os objetivos de cada investidor e que seja capaz de “ganhar” sempre dos índices inflacionários.
Uma boa dose de informação e estudo resolvem a questão. E contar com uma boa assessoria de investimentos também é um ponto fundamental. Se tiver dúvidas e quiser conhecer mais sobre como a inflação impacta os investimentos e as opções para batê-la, entre em contato com a equipe de assessores da EQI Investimentos.