A crise da Americanas (AMER3), que perdeu boa parte de seu valor de mercado após a descoberta de “inconsistências contábeis” avaliadas em cerca de US$ 20 bilhões pode ser explicada pela ausência de lançamentos de uma operação muito comum dentro do mercado varejista: o risco sacado.
- Mais sobre risco sacado e outros fatos: acompanhe toda a cobertura do caso Americanas.
Essas operações são feitas em conjunto entre as grandes empresas e seus fornecedores para adiar ou parcelar o pagamento de produtos vendidos em grandes quantidades, como é comum acontecer nas negociações entre fabricantes e companhias gigantes de venda.
Como funciona o risco sacado? Após o faturamento dos produtos, com prazo de vencimento prolongado, o fornecedor recebe o pagamento via instituição financeira e o varejista passa a ter sua dívida com essa instituição e não mais com a indústria fabricante.
Esse prazo pode ser prorrogado para até 360 dias, como é o caso de algumas das operações feitas pela Americanas.
Essa dívida, no balanço, deve ser lançada no campo relativo a dívidas com instituições financeiras.
A empresa, aparentemente, as lançou no campo de dívidas com fornecedores, e há dúvidas até sobre se os lançamentos foram realmente efetuados, de acordo com declarações do ex-CEO Sergio Rial, que ficou no cargo por apenas dez dias e renunciou após a revelação das “inconsistências”.
Em janeiro do ano passado, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) soltou ofício para alertar as empresas sobre essa prática. A instituição que controla o mercado de capitais afirmou que as consultorias responsáveis pelas auditorias dos balanços deveriam deixar as empresas cientes do risco dessas operações contábeis.
Risco sacado: como atuam as outras empresas do varejo?
Outras gigantes do varejo brasileiro foram questionadas sobre a prática. A Via (VIIA3), que controla as marcas Casas Bahia, Ponto Frio e Extra, informou que utiliza em seus lançamentos de risco sacado a rubrica “Fornecedores convênio”, deixando claro que é um montante separado da dívida direta com os fornecedores.
A empresa informa ainda, por meio de notas explicativas, que o prazo médio dessas operações de risco sacado é de 90 dias, e que elas são afetadas por juros de cerca de 19% ao ano.
Já o Magazine Luiza (MALU3) informou que opera de forma diferente, a partir de ações com bancos conveniados que terminam lançadas como receita no balanço, uma vez que a empresa recebe comissão da instituição financeira que faz o pagamento – que acaba realizando uma espécie de desconto de recebíveis, operação tradicional dentro do sistema bancário.
O impacto do risco sacado em balanços
A opção por realizar empréstimos e lançar o valor em conta de instituições financeiras e não de fornecedores ajuda a empresa a apresentar um lucro bruto maior em seus balanços.
Ao omitir a informação sobre as dívidas bancárias, no entanto, a empresa evita a percepção real da alavancagem de curto e longo prazo da empresa, item importante na hora em que bancos e corretoras analisam os balanços e sugerem (ou não) a compra de ações das empresas.
A Americanas informou a criação de um comitê que vai investigar o caso de risco sacado internamente, mas não informou prazo para a correção das informações e a divulgação dos balanços corrigidos, que provavelmente apresentarão lucros menores que os documentos originais, ou mesmo prejuízos, além de passivos maiores e, consequentemente, de índices de alavancagem mais altos.
Ainda sobre a prática do risco sacado, embora a empresa tenha dito inicialmente que o erro não afetaria seu caixa, Sergio Real afirmou em apresentação virtual aos acionistas que a empresa não terá como pagar todos os juros devidos neste ano.
Rial revela situação de insolvência e dá detalhes sobre bastidores
O caso Americanas (AMER3) ganhou mais um capítulo em 28/03 com a fala do ex-CEO Sérgio Rial, que prestou depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Rial, que trouxe à tona a inconsistência financeira de R$ 20 bilhões, divulgada no dia 11 de janeiro, fez revelações minuciosas dos bastidores da empresa e cita que a companhia – que acreditava ser saudável e inserida em um processo de transformação – estava, na verdade, à beira da insolvência financeira quando assumiu.
Em seu depoimento, Rial fez um relato detalhado sobre seu envolvimento nas Americanas.
Diz que no começo do ano passado recebeu um telefonema de um dos sócios de referência – sem citar o nome – convidando-o a participar de uma das empresas controladas pelo grupo 3G. Ainda não se sabia em qual empresa, mas depois ficou definido que seria na Americanas.
Posteriormente, ele foi anunciado como novo CEO da empresa, assumindo então em 1º de janeiro deste ano. A partir de setembro do ano passado, ao iniciar o processo para entender o funcionamento da rede, disse que passou a conhecer de perto a operação para entender o funcionamento, visitando um centro de distribuição da empresa em Seropédica (RJ) e algumas lojas físicas com o então presidente, Miguel Gutierrez.
Porém, com relação às finanças da companhia, diz que jamais teve acesso a qualquer informação considerada transparente desde que assinou para ser o novo CEO.
Diz que entre setembro e o fim de dezembro participou de 21 reuniões onde tentava entender a complexidade do negócio da Americanas – entendido por ele como híbrido, pois reúne plataforma digital e lojas físicas, um modelo considerado único.
E em nenhuma delas, o agora ex-CEO diz ter recebido qualquer informação clara sobre a situação financeira da companhia para que pudesse projetar um orçamento para 2023 e enfim dar início à sua gestão.
“O que claramente aconteceu é que o presidente anterior (Gutierrez) não fez sua sucessão. O primeiro ponto, é que ele não fez a sucessão com eu havia imaginado; o segundo ponto é a preocupação na dualidade de liderança, uma preocupação natural; e o terceiro ponto é a característica de uma pessoa, que foi CEO durante tanto tempo, em ser centralizador no sentido de que todas as informações eram muito bem controladas por ele”, revelou.
Rial disse ainda que já no fim de dezembro, dias antes de assumir o cargo, Gutierrez fez uma reunião com diretores, no dia 21 daquele mês, com diretores – mas sem o então sucessor. Uma semana depois, ocorreu uma nova reunião, onde nesta Rial foi chamado a participar.
Após assumir, Rial contou que no dia 3 de janeiro foi procurado por um dos diretores que sinalizou a importância de entender a apresentação feita no dia 27 do mês anterior.
“E no dia 4 de janeiro me foi revelado que aquilo que era dívida bancária não estava devidamente sinalizada na rubrica ‘bancos’ no balanço. A dívida que era de R$ 19 bilhões no 3TRI22, que vi na apresentação, e que depois se torna algo em torno de R$ 35 bilhões a R$ 36 bilhões, tendo um patrimônio líquido de R$ 16 bilhões. Passei a ter consciência absoluta de que a empresa tinha uma estrutura patrimonial de insolvência”, revelou.
Ao constatar essa situação, Rial informou que decidiu repassar logo o dado para o então novo diretor Financeiro, André Covre, que, segundo Rial, teria ficado “atônito”.
“Esse então passa a ser nosso trabalho de diligência: o de cumprir a lei e informar o mercado em termos patrimoniais”, comentou. E acrescentou que também havia a preocupação em não deixar a informação vazar e manter tudo sob sigilo até que o fato relevante fosse divulgado.
A partir daí, ele diz ter ficado sem qualquer acesso a informações em papel, ficando apenas o que era repassado a ele “a conta-gotas”, e “extraindo as informações” junto aos diretores.
Contou ainda que foi até o sistema do Banco Central (BC) confirmar se realmente existia essa dívida com os bancos, o que fora confirmada por ele durante essa consulta ao BC.
E ainda não sabia o porquê de os R$ 15,9 bilhões vistos originalmente na apresentação de 27 de dezembro não terem sido lançados de forma adequada às informações financeiras.
“O que eu sabia era que a empresa tinha muito mais dívidas do que fora informado e o que eu não sabia era como conseguiram fazer isso e porque”, disse. “Se é dívida bancária, tem nome e sobrenome”, afirmou.
Daí, já no dia 11 de janeiro, Rial se reuniu com a diretoria, inclusive com a contabilidade da empresa – apresentada a ele naquele dia – e que essa dívida bancária precisava ser comunicada ao mercado e foi tomada a decisão de dimensionar o passivo em R$ 20 bilhões. Junto com a divulgação das inconsistências contábeis, foi anunciada ainda a renúncia dele e do então diretor Financeiro, André Covre, também recém-empossado na época.
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