Desde meados de julho, a Petrobrás já reduziu três vezes o preço da gasolina, gerando uma diminuição total de 4,85%. Em duas rodadas, o preço médio do diesel acumulou queda de 4,07%. Em julho, o preço do etanol caiu em 23 estados – queda média de 11,4%, segundo o IPCA, e tudo indica que ele seguiu caindo em agosto.
O mercado voltou a pensar sobre como as mudanças no preço dos combustíveis participam da inflação, do consumo e dos investimentos.
Dois grupos de gastos se destacam no IPCA: alimentos e transportes.
Desde 2020, o peso médio dos alimentos e do transporte na cesta do índice foi próximo a 21% para cada grupo. Sendo assim, que margem temos para reagir às mudanças de preços nesses dois grupos?
Vamos primeiro à alimentação: dando atenção à cesta de consumo, todos nós temos algum espaço para ajustar nosso consumo desse item aos ciclos de alta ou queda de preços. Especialmente se a alta de preços for focada em produtos dos quais é mais fácil se afastar ou se aproximar.
Podemos, naturalmente, esperar que os preços voltem ao nível considerado normal. Incluo aí a alimentação fora de casa.
Mas em transporte o ajuste é mais lento e as mudanças de preços tendem a ter impacto mais firme. E temos margem para quase nenhum ajuste. Ciclos de alta e baixa do preço da gasolina até criam uma suave migração rumo ao transporte coletivo, ou ao carro próprio.
Mas o veículo próprio representa cerca de metade do gasto nacional em transporte: a maioria das pessoas não usa, mas é mais caro, pesa mais no IPCA e é mais afetado pelo preço da gasolina. Pouca margem de manobra.
A gasolina representa 5,6% do IPCA. Seu impacto na inflação vai além dessa fatia, que espelha apenas a mudança no custo de encher o tanque. Além disso, a queda do seu preço também favorece o transporte em táxi ou por aplicativo.
E, no Brasil, o combustível predomina na movimentação de cargas e no transporte rodoviário.
Em volume, o diesel é mais da metade do consumo de combustíveis fósseis no país. E cerca de 75% dele é usado no transporte.
Ou seja: embora o diesel mais barato tenha impacto direto pequeno no IPCA, a novidade da queda dos preços tende a reduzir o custo de produtos chegarem a supermercados e lojas, em parte reduzindo seus preços também. É mais parte da queda da inflação gerada também pelo diesel.
Como os preços de combustíveis participam do mercado acionário?
A relação entre os preços dos combustíveis e os investimentos
No ano passado, estudo do Federal Reserve Bank of Cleveland examinou o movimento dos preços de combustíveis e de ações. E concluiu que a conexão é menor do que se suporia.
O estudo não desfaz a conexão entre preço petróleo e bolsas. Apenas conclui ser muito difícil antecipar sua intensidade. Aqui outro artigo sobre o tema.
Que tipo de empresa é mais capaz de se beneficiar das temporadas de combustíveis mais baratos? Há estudos sobre investimento durante ciclos de queda no preço da gasolina, como este.
Não há conclusão inescapável, apenas aspectos que passam a merecer mais atenção. Além disso, o preço dos combustíveis fósseis varia entre países, e o valor das empresas já reflete essas diferenças. Eis uma lista básica de setores que podem se beneficiar do preço de combustíveis reduzido:
- Companhias aéreas: sendo o combustível de aviação uma de suas despesas mais relevantes, as aéreas tendem a estar entre as mais beneficiadas por quedas de preço e a merecer ao menos atenção.
- Transportes: custo de combustível também é crítico para empresas de transporte e frete.
- Consumo eletivo: empresas de varejo, viagens, entretenimento e restaurantes se beneficiam quando pessoas lhes destinam ao menos parte do que economizaram em combustível.
- Bens básicos de consumo: boa parte das economias com combustível vai para o consumo eletivo, mas alimentos e bebidas também atraem parte dessa folga no orçamento.
- Automóveis: é menos imediato e firme, mas gasolina mais barata cria alguma volta ao carro próprio, ou ao upgrade a carros melhores. Assim como a gasolina mais cara cria alguma migração de carro rumo ao ônibus ou à bicicleta.
Em julho, a queda do preço do combustível e do ICMS sobre a gasolina já gerou uma queda do IPCA. Isso pode se repetir em agosto.

O cenário básico já é de um IPCA mais bem comportado em 2022. Na pesquisa Focus do Banco Central, o consenso para IPCA 2022 estava em torno de 5% no começo do ano. Subiu e foi a quase 8% no início de junho. Caiu desde então. Já está de volta a 7% e deve seguir caindo. Talvez rumo a 6,5%, como muitos já projetam, ou até menos.
Estamos em um ano com fases do cenário de inflação: primeiro de alta, agora de baixa, e ainda podemos ter surpresas em inflação e commodities. É um ano de estratégias para inflação e juros mais incertos, nas duas direções.
Então, se você é investidor em ações, dê uma atenção especial aos setores acima.
Se você é investidor em renda fixa, aproveite o momento para estratégias que podem aumentar seus retornos se beneficiando do cenário atual de juros e inflação.
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Por Guilherme da Nóbrega, colunista da Monett