O banco BTG Pactual (BPAC11) divulgou nesta sexta-feira (20) relatório setorial sobre empresas de varejo e consumo, a partir de resultados operacionais prévios apresentados no quarto trimestre de 2022, prevendo um “momento desafiador” para o setor após a desaceleração da economia brasileira no período.
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O mercado de varejo e consumo vem sendo diretamente afetado pela crise nas Americanas (AMER3), que viu seus papéis derreterem e pediu recuperação judicial após a revelação de inconsistências contábeis na casa de R$ 20 bilhões.
O relatório não cita diretamente a companhia, fazendo apenas uma análise conjuntural a respeito do setor, explicando que as empresas de varejo, de forma geral, buscam se adaptar rapidamente a cenários desfavoráveis “com grandes mudanças nas estratégias de canais de venda, estrutura de custos e investimentos”.
“Mas, apesar de todos os esforços, as empresas continuam altamente correlacionadas com o cenário macro”, prosseguem os analistas do BTG.. Após um sólido segundo trimestre para a maioria dos varejistas brasileiros e números decentes no terceiro trimestre, as coisas pioraram no final de 2022, com a inflação voltou a aparecer, correndo o poder de compra dos consumidores, e o endividamento das famílias continua a crescer.
A receita líquida combinada deve crescer 52% em relação ao quarto trimestre de 2019 e 14% na comparação com o trimestre final de 2021, com EBITDA crescendo 12% a/a (com esforços para otimizar custos e adotar abordagens de precificação mais racionais), enquanto custos de financiamento mais altos devem prejudicar os lucros consolidados do setor, com previsão de queda na comparação anual (-34% a/a).
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Players online ainda em situação difícil
No lado do e-commerce, as preocupações (e a volatilidade) permanecem semelhantes aos trimestres anteriores, e os resultados recentes sustentaram o viés negativo no segmento no curto prazo, apesar de uma melhoria bem-vinda na margem.
A projeção dos analistas é que a GMV (volume bruto de mercadorias, na sigla em inglês) do setor online cresça 15% a/a no Magazine Luiza (MGLU3), acelerando em relação aos últimos trimestres (R$1,6 bilhão de adição de GMV online).
Já o GMV online da Via (VIIA3) deve cair -4% a/a e o GMV da operação brasileira do Mercado Livre (MELI34) deve crescer 19% a/a (R$ 3,6 bilhões de adição de GMV). No combinado das companhias, a expectativa é de que o GMV online cresça 7% na comparação com o 4TRI21, enquanto o crescimento a/a no 3TRI22 foi de 3%.
“Ainda vemos uma tendência secular de crescimento para o e-commerce brasileiro nos próximos anos e, ao contrário de mercados mais maduros, com GMV (e participação nas vendas do varejo) muito maior do que os níveis pré-pandemia”, avisam os analistas do BTG.
Eles apontam ainda que, para preservar o caixa em meio a um cenário incerto, empresas como Via e Westwing (WEST3) já reduziram os investimentos para melhorar a rentabilidade (com trade-off de crescimento), o que é uma tendência para o curto/médio prazo.
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Redução no ritmo do consumo de bens discricionários
Varejistas de vestuário/calçados expostos a famílias de alta renda tendem a se destacar novamente no 4TRI22, de acordo com o BTG Pactual. Algumas projeções feitas no relatório
- Arezzo (ARZZ3) – 20% a/a
- Grupo Soma (SOMA3) – 10% a/a, sendo 6% da marca Hering
- Grupo SBF (SBFG3, que tem como carro-chefe a marca Centauro) – 15% a/a
- Renner (LREN3) – aumento de 27% na receita líquida em em relação ao 4TRI19, 3% a/a
Sobre a Renner, a margem EBITDA de varejo deve cair 670bps em relação ao 4TRI19. “Sua divisão de financiamento ao consumidor deve apresentar números um pouco piores (-R$4 milhões ex-venda da carteira de crédito) vs. 3TRI22”, dizem os analistas.
Sobre a Petz (PETX3), os analistas projetam crescimento de 30% a/a nas vendas brutas (23% ex-Zee.Dog), com margem EBITDA caindo 210bps a/a (-90bps ex-Zee.Dog), devido a expansão agressiva de lojas, alta penetração do e-commerce e inflação alta.
A Lojas Quero Quero (LJQQ3) deve apresentar um desempenho mais fraco (receita bruta de 6% a/a), com margens impactadas por um nível de inadimplência mais alto em sua divisão de financiamento ao consumidor (margem EBITDA -130bps a/a), enquanto para o Burger King (BKBR3) o banco projeta recuperação, com crescimento de (de 24% em relação ao 4TRI19 e 9% sobre o 4TRI21).
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Alimentos e produtos farmacêuticos: proteção contra a inflação
Após um desempenho sólido dos varejistas de alimentos durante a maior parte de 2022, o crescimento provavelmente desacelerará devido à menor inflação de alimentos nos últimos meses, mas os analistas do BTG ainda projetas bons resultados em SSS (vendas nas mesmas lojas, na sigla em inglês):
- Assaí (ASAI3) – 10% a/a;
- Carrefour (CRFB3) – 11% a/a (11% no Atacadão);
- Grupo Mateus (GMAT3) – 12% a/a.
No setor farmacêutico, a Raia Drogasil (RADL3) deve ampliar sua receita em 23% a/a (SSS consolidado 14% a/a), com margem EBITDA estável a/a, com ganhos de preço parcialmente compensados pela inflação no período. No caso da Panvel (PNVL3), a expectativa é aumento de 16% a/a no SSS.
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Cenário de aversão ao risco
Para os analistas do BTG Pactual, o cenário de curto prazo será impactado pelas perspectivas políticas e macroeconômicas, com concentração em quatro variáveis:
- custos de financiamento mais altos pressionando resultados e investimentos (mais pressão sobre a estrutura de capital);
- inflação alta (variável chave que pressiona a renda disponível das famílias);
- varejistas mais expostos a famílias de alta renda ainda reportam números sólidos, apesar da desaceleração esperada;
- o impacto de transferências extras de renda na economia, potencialmente ajudando empresas mais expostas a regiões de baixa renda (o impacto até agora foi marginal devido à pressão sobre a renda disponível).
“Seguimos conservadores na exposição ao varejo, com um mix preferencial de empresas expostas à reabertura da economia, mas com algum poder de precificação, proteção contra a inflação e bom momentum operacional, como Raia Drogasil, Assaí, Arezzo e Mercado Livre (opção de beta maior, mas um grande outperformer vs. pares)”, conclui o texto.
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