A Americanas (AMER3) apresentou um acordo de apoio à sua reestruturação e seu plano de recuperação judicial, assinado entre seus acionistas de referência, os empresários Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, e seus principais credores, os bancos Bradesco (BBDC4), Itaú Unibanco (ITUB4) e BTG Pactual (BPAC11), a fim de definir parâmetros para seu processo de recuperação, que será colocado em votação em 19 de dezembro.
O texto, um documento de 247 páginas, foi apresentado na manhã desta segunda-feira (27) à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), A empresa ainda busca sua reestruturação, depois da revelação de fraudes contábeis, no início do ano, que a obrigaram a entrar com pedido de recuperação judicial.
Os credores signatários do acordo representam mais de 35% da dívida da empresa. A proposta prevê o pagamento integral para credores com créditos de até R$ 12 mil; e a disponibilização de R$ 40 milhões para pagamento de credores com créditos superiores a R$12 mil e que aceitarem esse valor para quitação.
A proposta prevê ainda o aumento de capital de R$ 12 bilhões, após o qual haverá assembleia para eleger um novo conselho de administração.
A Americanas (AMER3) tinha, ao final de 2022, uma dívida líquida de R$ 26,287 bilhões, enquanto o endividamento bruto considerado era de R$ 37,331 bilhões, de acordo com os resultados financeiros revisados de 2021 e 2022, divulgados há duas semanas. A previsão é que, com a consolidação do plano, esse endividamento bruto caia para R$ 1,875 bilhão,
Nesse período, a varejista reportou um prejuízo acumulado de R$ 19,149 bilhões nos dois períodos: R$ 6,237 bilhões em 2021, ante um lucro informado inicialmente de R$ 544 milhões, e R$ 12,912 bilhões em 2022. Os resultados para os três primeiros trimestres deste ano ainda não foram apresentados.
Americanas (AMER3): entenda a crise
Em janeiro do ano passado, a Americanas (AMER3) comunicou que havia descoberto inconsistências contábeis de cerca de R$ 20 bilhões que escondiam parte do endividamento da empresa. As ações despencaram e a rede varejista apresentou em seguida seu pedido de recuperação judicial.
Junto com os resultados financeiros, a empresa explicou que as fraudes se davam, principalmente, a partir do lançamento de contratos de VPC (verbas de propaganda cooperada) fictícios que eram lançados como redutores de custo de mercadoria vendida, melhorando artificialmente o resultado operacional. A contrapartida era um lançamento redutor da conta de fornecedores.
Além disso, operações financeiras de risco sacado foram contratadas para sanar a necessidade de caixa, mas eram indevidamente lançadas na conta de fornecedores, neutralizando o lançamento de VPCs.
Os encargos financeiros das operações de risco sacado (e capital de giro) eram também indevidamente lançados na conta de fornecedores, não transitando em contas de resultado e majorando o resultado, enquanto operações financeiras de capital de giro de curtíssimo prazo, realizadas para apresentar uma posição irreal de caixa ao final dos trimestres, eram indevidamente lançadas na conta de fornecedores e neutralizadas com o lançamento de VPCs fictícios.
Desde a revelação das fraudes, houve várias trocas de acusações públicas entre a empresa e seu ex-CEO, Miguel Gutierrez, que deixou o cargo em dezembro de 2022 e foi apontado pela varejista como mentor das ações. Segundo ele, contudo, nada era feito sem o conhecimento e o aval dos acionistas de referência.
O assunto foi investigado até em CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso, sem efeito prático, e também pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que aplicou multas a vários dos executivos e conselheiros. A B3 ($B3SA3) suspendeu a Americanas (AMER3) da listagem de Novo Mercado, por descumprimento dos padrões de governança.