O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em palestra feita ontem, disse ter ficado surpreso com o IPCA de março, mês no qual o índice subiu 1,62% frente o 1,01% de fevereiro. Esse foi o maior valor do IPCA para o mês de março desde 1994, antes do Plano Real.
A fala de Campos Neto indicou uma mudança importante no discurso mantido pelo BC até então. Para muitos analistas, isso indica um quadro de inflação prolongada e a manutenção do ciclo de alta de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
A inflação também se tornou um ponto de atenção dos investidores, principalmente agora que muitos analistas estão projetando uma taxa Selic superior aos 12,75%, que seria o final do atual ciclo de alta dos juros conforme indicado pelo Copom. Atualmente, a Selic está em 11,75%.
O Copom havia indicado que a última alta da Selic elevaria a taxa para 12,75% e ocorreria em maio. Porém, a surpresa do presidente do Banco Central com os últimos números do IPCA sinaliza que os juros podem subir mais. Hoje, a inflação nos EUA e na Alemanha, que vieram com altas históricas, intensificam uma perspectiva de um ciclo de alta da Selic mais longa.
Nesse cenário, a greve dos servidores do Banco Central, que já dura duas semanas, tem deixado os agentes econômicos em geral sem informações para tomar decisões. Por exemplo, há duas semanas o BC não divulga o Boletim Focus e o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central), que é um sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB).
A falta dos indicadores produzidos pelo BC somada ao cenário de inflação mais resiliente deve levar Campos Neto a replanejar o ciclo de aperto monetário. O cenário mais provável, com o juros futuros já na casa dos 13%, está surtindo efeitos no mercado. Após a fala de Campos Neto, a taxa Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 foi de 12,97% para 13,085%, a taxa DI para janeiro de 2024 subiu de 12,43% para 12,65% e a taxa DI de janeiro de 2027 foi de 11,50% para 11,635%.
Os últimos números sobre inflação consolidam também uma mudança de cenário muito intensa nos últimos meses. Basta lembrar que 2021 começou com a taxa Selic em 2% ao ano. Hoje, estamos em 11,75%, com a previsão de 12,75% em maio e a sinalização de mais aumentos da taxa básica de juros no futuro em razão da deterioração do quadro inflacionário.
A equipe de macroeconomia e estratégia do BTG espera, para além da elevação da taxa Selic em 1 ponto percentual em maio, uma alta de 0,5 ponto percentual em junho, o que levaria a Selic para 13,25%.