O Itaú BBA apresentou uma série de documentos que indicam a manipulação de informações por parte dos fundadores da Kabum, Leandro e Tiago Ramos. Essas informações foram utilizadas em ações judiciais contra a instituição financeira. Com base nesses documentos, o Itaú BBA sinaliza que poderá solicitar indenização contra a Kabum.
As informações foram divulgadas pelo Valor Econômico.
A Kabum entrou com uma ação judicial contra o Itaú BBA, questionando seus serviços de assessoria financeira no processo de venda da empresa ao Magazine Luiza.
Os irmãos Ramos iniciaram uma disputa judicial para contestar o contrato de venda do e-commerce especializado em produtos para games ao Magazine Luiza em 2020, um negócio que movimentou R$ 3,5 bilhões.
Na época, eles alegaram conflito de interesse por parte do banco.
Na ação, o Itaú anexou trocas de e-mails entre representantes da Kabum e a Kroll, consultoria de investigação empresarial que prestou serviços aos irmãos Ramos, para analisar todo o processo de venda da empresa.
A defesa do banco afirma que as diversas acusações feitas ao longo dos últimos meses, em ações judiciais, “não encontram amparo nas conclusões do relatório encomendado” e questionam se foi por essa razão que o relatório não tenha sido ajuizado em sua íntegra ao processo.
O Itaú BBA revela que teve acesso às trocas de e-mails e aos relatórios citados após entrar com uma ação judicial, solicitando a apresentação de documentos e mensagens, o que foi deferido. Assim, teve acesso a quatro relatórios da Kroll e pedidos de mudanças no texto feitos por representantes dos irmãos em mensagens trocadas.
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Anexados ao processo do Itaú, além das diferentes versões dos relatórios, há prints em que alguns trechos do relatório estão riscados em vermelho, com pedidos de exclusões de algumas partes e anotações, como “O penúltimo ponto não é completamente bom para nós, precisamos avaliar”.
O banco, contudo, não teve acesso à versão final do relatório elaborado pela Kroll e, por isso, não é possível dizer quais pontos foram, de fato, omitidos pela consultoria. No entanto, na ação judicial impetrada pelos irmãos Ramos é possível notar que apenas os trechos identificados como benéficos foram utilizados.
A troca de e-mails para contratação do serviço de investigação da Kroll ocorreu em junho do ano passado, ou seja, alguns meses antes da ação judicial.
Nessa ação dos irmãos do início do ano, a contestação é sobre o trabalho de assessoria prestada pelo Itaú BBA, no acordo entre as empresas concluído em dezembro de 2021.
Ainda que o Magalu não seja réu na ação, a suposta atuação, durante as negociações do presidente da empresa, Frederico Trajano, foi citada.
Além disso, os irmãos Ramos acusaram um dos diretores do banco, Ubiratan Machado, de ter atuado a favor do Magalu por causa de uma relação familiar. Machado é cunhado de Frederico Trajano.
Caso Kabum: negócio com o Magalu
O negócio entre Magazine Luiza e Kabum movimentou R$ 3,5 bilhões, a maior aquisição da empresa de Luiza Trajano. Do valor acordado, os irmãos receberam R$ 1 bilhão em dinheiro, R$ 1,5 bilhão em ações MGLU3 e mais R$ 1 bilhão no pacote de “earn-out” (cláusula de contrato comum em operações do gênero que condiciona parte do pagamento em caso de meta desempenho atingida).
De 2021 para cá, as ações MGLU3 sofreram uma grande desvalorização devido a forte elevação das taxas de juros.