Com o anúncio recente de tarifas recíprocas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, investidores estão buscando ativos de refúgio — e o iene japonês, o fraco suíço, títulos e até algumas opções consideradas “exóticas” estão no radar.
“O iene japonês é, e provavelmente continuará sendo, uma das melhores apostas para se proteger contra tensões comerciais e uma possível recessão nos EUA, por diversos motivos já conhecidos”, afirmou Ebrahim Rahbari, chefe de estratégia de taxas da Absolute Strategy Research, para a CNBC.
Ele destaca que o iene está barato, que a provável queda nas taxas de juros americanas deve reduzir os diferenciais em relação à moeda japonesa e que, apesar do Japão ser um importante exportador, sua dependência do comércio diminuiu — especialmente por conta de uma política fiscal mais flexível.
Desde 2 de abril, o iene se valorizou cerca de 3% frente ao dólar, segundo dados da LSEG. Rahbari também apontou o franco suíço como outro “candidato óbvio” para proteção de portfólio. A moeda subiu mais de 3%, atingindo 0,846 em relação ao dólar — o maior nível em seis meses.
Essa movimentação ocorre enquanto outras moedas globais perdem força. Outro estrategista, Matt Orton, da Raymond James Investment Management, reforçou a visão de que o iene e o franco suíço são os principais escudos contra os efeitos das tarifas.
“Ambas as moedas são eficazes para amenizar a reação imediata do mercado às medidas protecionistas”, afirmou Orton. No entanto, ele acredita que o franco suíço tem mais potencial de proteção que o iene, considerando a incerteza sobre os próximos passos do Banco do Japão em relação às taxas de juros.
Jeff Ng, chefe de estratégia macro para a Ásia no Sumitomo Mitsui Banking Corporation, observou que o iene historicamente se valoriza em momentos de recessão ou crise global. “Mesmo sem um cenário de pouso forçado, o iene pode se sair bem se o BOJ endurecer sua política enquanto outros bancos centrais flexibilizam”, disse. Ainda assim, ele alerta que o Japão também sente os impactos das tarifas de Trump, especialmente no setor automotivo, o que pode limitar o espaço para o BOJ subir os juros — mantendo o iene mais fraco.
Rahbari também levantou a possibilidade de opções de hedge menos convencionais. “O real brasileiro, por exemplo, é uma moeda barata, com alto carry e menor exposição ao comércio global. Tem se destacado entre as moedas este ano”, disse.
Além do iene e do franco suíço: títulos e ouro em alta
Além das moedas, investidores têm buscado segurança em dinheiro e ativos de renda fixa, como os títulos do Tesouro.
Os rendimentos dos títulos americanos estão em queda — reflexo da forte demanda. O rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos caiu 6% desde 2 de abril, atingindo 3,873% na última segunda-feira. No Japão, o rendimento dos títulos públicos de 10 anos recuou para 1,05%, uma baixa de 28,52% no mesmo período — o menor nível desde dezembro de 2024.
Segundo José Torres, economista sênior da Interactive Brokers, o movimento de aversão ao risco tem sido evidente: investidores estão trocando ações por títulos do Tesouro, ouro, futuros de dólar, petróleo, opções de volatilidade e derivativos de venda de índices.
Os preços do ouro chegaram a bater recorde logo após o anúncio das tarifas. Apesar de uma leve correção, o metal continua em patamares elevados. Analistas da BMI acreditam que há espaço para mais valorização, diante da persistente instabilidade global.
“O ouro continua impulsionado por incertezas comerciais, tensões geopolíticas crescentes, fraqueza do dólar, compras de bancos centrais e riscos de recessão”, afirmam os analistas.
Ng, do SMBC, reforça que o ouro tradicionalmente funciona como um porto seguro em tempos de crise, com a demanda por parte de famílias e governos se mantendo firme. No entanto, ele alerta: “Os preços já estão bastante esticados”.
Adrian Ash, diretor de pesquisa da BullionVault, destaca que os fundamentos por trás da valorização do ouro em 2025 se tornaram ainda mais sólidos após o anúncio das tarifas. “O comércio global mais fraco, custos de insumos mais altos e margens pressionadas têm atingido as ações, enquanto a desconfiança geopolítica se intensifica. Esse cenário sombrio favorece mais ganhos para o ouro”, afirmou.
Na última sexta-feira, o mercado acionário dos EUA teve uma queda expressiva de 9,08%, conforme dados da FactSet, encerrando uma semana difícil para os investidores. O JPMorgan, por exemplo, aumentou sua projeção de recessão nos EUA até o fim do ano para 60%, ante 40% anteriormente. “Simplesmente não há apetite por ações neste momento”, concluiu Orton.
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