A inflação no Brasil e no mundo deve continuar desacelerando, na opinião de Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.
“Esperamos que ocorra uma redução para a taxa Selic em 2023 para 10,5%, após ser mantida em 13,75% na última reunião do Copom”, disse, referindo-se ao Comitê de Política Econômica do Banco Central do Brasil.
O panorama se dá, segundo ele, por conta do crescimento econômico mais baixo, além da normalização das cadeias de distribuição globais.
“Também não esperamos que os estímulos fiscais aprovados sejam suficientes para estimular a economia a ponto de reverter essa tendência. Vale ressaltar que com maiores estímulos, menores serão os cortes de juros em 2023”, frisou.
Vale destacar que, no Brasil, a taxa básica de juros da economia é medida pela Selic e, conforme Stephan, as políticas econômicas do novo governo podem levar a uma nova alta da inflação, através da taxa de câmbio ou por maior crescimento, por estímulos fiscais ou de crédito subsidiado.
“Projetamos inflação do IPCA em 5,8% para 2022 e de 5,2% em 2023. A queda na taxa de desemprego em 2022 deverá levar a maior inércia da inflação de Serviços em 2023. No lado da desaceleração, esperamos tanto produtos Industriais como Alimentos com inflação mais baixa em 2023. Um dos riscos altistas será a potencial volta de impostos que foram reduzidos em 2022”, destacou.
O IPCA em questão é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador considerado termômetro para a inflação brasileira.


Inflação no Brasil: quadro fiscal aqui e sensibilidade lá fora
O Banco Central do Brasil (BC) se mostra otimista, mas não tão confiante quando poderia acerca da inflação no Brasil e no exterior.
Isso porque a autoridade monetária monitora o quadro fiscal no país, principalmente agora que há uma transição em andamento.
Pesam na balança a proposta de emenda à constituição (PEC), que determina gastos de R$ 145 bilhões acima do teto. Isso implica em um quadro fiscal mais frágil.
Na prática, significa dizer que o governo está se endividando e, com isso, abre mão da austeridade, colocando em xeque as contas públicas.
Esse recurso deve ser utilizado em programas voltados às classes menos abastadas e, na origem, ele é algo bom, pois busca atender aos pobres do país, mas, na prática, o governo abre um rombo para tapar outro rombo.
Para Kautz, o valor foi menor do que o apresentado na proposta, mas a situação fiscal segue delicada para o ano que vem.
Em reação à sensibilidade que se vê lá fora, conforme elencado em um documento do BC semanas atrás tratando do assunto, a autoridade monetária se diz preparado para minimizar eventual contaminação desproporcional nos preços de ativos.
O BC ressaltou que a alta de gastos públicos e a incerteza sobre a trajetória do endividamento podem elevar os prêmios de risco e as expectativas de inflação. Isso teria reflexos à estabilidade financeira por meio “do aumento da volatilidade dos ativos, da piora da capacidade de pagamento dos agentes e da deterioração da qualidade do fluxo de capitais”.
Vale lembrar que os EUA estão enfrentando uma inflação superior a 8% – algo atípico para os padrões norte-americanos, e tentam conter a escalada dos preços elevando os juros de sua economia.
Já no velho continente o que se vê, além de inflação, é crise energética, conflito militar no Leste da Europa e preços de commodities oscilando para baixo por conta de inúmeros fatores.
Roberto Campos Neto
Embora os últimos dias tenham sido de transição entre os Poderes, uma coisa ficou bastante evidente no Brasil: a boa administração de Roberto Campos Neto à frente do Banco Central.
Boa parte do mercado considera que ele comandou a autoridade monetária com muita maestria e, por conta disso, tem sido cotado pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para se manter no cargo.
Foi, inclusive, sob a batuta dele que o BC revolucionou o setor bancário ao implementar o PIX na economia brasileira. Trata-se do sistema de pagamentos e transferências eletrônicas, ferramenta que caiu nas graças do brasileiro.
Para se ter ideia da força do Pix, este bateu novo recorde no final de novembro de 2022, com 99,4 milhões de transações em um só dia.
Na ocasião, o BC informou que o alcance da nova marca coincidiu com o último dia para o pagamento da 1° parcela do 13° salário.
De acordo com a autoridade monetária, o recorde anterior havia sido em 7 de outubro, com 93,6 milhões de operações.
Vale lembrar que o Pix completou dois anos no mês passado e tem 536,9 milhões de chaves cadastradas, entre pessoas e empresas. Ao todo, são 138,4 milhões de usuários e 366,1 milhões de contas registradas.
Em outubro, o Pix movimentou R$ 1,03 trilhão em 2,54 bilhões de operações. Entre pessoas físicas, 130 milhões já usaram o sistema para pagamento ou transferência pelo menos uma vez.
Inflação: batalha não vencida
Em evento no dia 25 de novembro de 2022 Campos Neto disse que a batalha da inflação ainda não foi vencida, nem localmente nem globalmente. “É importante persistir”, disse, na ocasião.
Ele destacou que o mundo ainda vê inflação bastante alta, especialmente no Reino Unido. Em sua fala, reforçou que os últimos anos foram de muita incerteza e que começamos a ter um novo capítulo, depois da pandemia e da guerra, com inflação de energia pronunciada.
Ainda assim, voltou a afirmar que as medidas que o Brasil adotou fizeram com que o preço de energia caísse e que o país não gastou mais do que o restante do mundo para isso. “Brasil tem situação privilegiada, porque há de um lado o choque positivo [no câmbio] e, de outro, o negativo [social]”, afirmou ainda.
A afirmação do executivo foi um claro aceno ao ministro Paulo Guedes, que deixa o comando da Economia do país assim que o novo governo assumir. Ainda assim, a fala de Campos Neto é corroborada por boa parte do mercado financeiro que reconhece que o Brasil está bem melhor do que outros países em relação ao quadro inflacionário geral.
Inflação nos países
De acordo com levantamento feito por esta reportagem, utilizando-se de uma lista elaborada pela Austin Rating, a inflação mundo afora está assim:
- Brasil: 4,90%
- Argentina 88%
- Turquia 84,4%
- Rússia 12,6%
- Itália 11,8%
- União Europeia 11,5%
- Alemanha 10%
- Zona do Euro 10%
- México 7,8%
- Estados Unidos 7,7%
- África do Sul 7,6%
- Austrália 6,9%
- Canadá 6,9%
- Espanha 6,8%
- Índia 6,8%
Haddad e sua armadura
O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, foi anunciado recentemente como ministro da Fazenda do governo Lula. Ele assume em janeiro e, como a inflação é chamada ludicamente de dragão, o advogado e professor de Direito vai precisar deixar o jaleco de lado e vestir uma armadura. Isso se ele quiser chegar ao posto já mostrando serviço.
Acontece que a maior batalha durante os últimos quatro anos foi contra a Covid-19 e contra a inflação, sendo que a elevação dos preços, neste caso, também foi em decorrência da pandemia que assolou o Brasil e o mundo. Ou seja, é um problema mal resolvido.
Seu antecessor, o ministro Paulo Guedes, teve que suar a camisa para controlar as contas publicas do país em um esforço que foi além do que já havia experimentado na iniciativa privada. O mercado espera que Haddad, agora, faça o mesmo: controle a inflação, administre bem as contas públicas e tenha bom relacionamento com o mercado.
Inclusive, este mesmo mercado se mostra dividido quanto ao novo governo e sua estrutura de ministérios previamente anunciadas. Acontece que o ambiente político está contaminado e há muitas ressalvas e até ressentimentos de ambos os lados.
Por isso, tanto quanto um ministro experimentado na política brasileira, o país vai precisar de um Moisés para abrir o mar vermelho e pavimentar uma saída para o progresso. Também um “guerreiro” bem equipado que entre no castelo em chamas para vencer o dragão e resgatar a refém, nesse caso o país e sua população pressionada pela elevação do custo de vida.
- Quer saber mais sobre a inflação no Brasil e no mundo e aprender a investir em ativos de proteção? Clique aqui!