O Cacau é o novo artigo de luxo, o que antes era sinônimo de prazer acessível, hoje começa a se firmar como símbolo de exclusividade e sofisticação. De trufas envoltas em ouro a barras maturadas em barris de conhaque, o chocolate ultrapassou a barreira do simples alimento e passou a disputar espaço com vinhos raros e champanhes de safra limitada. Nesse universo, os preços impressionam: há chocolates que podem custar mais de R$ 1 mil, com embalagens artesanais, edições numeradas e acessórios de degustação.
A marca equatoriana To’ak, considerada a mais cara do mundo, é um exemplo emblemático. Uma barra de apenas 50 gramas chega a custar entre US$ 260 e US$ 490 — algo em torno de R$ 1,3 mil a R$ 2,3 mil. O segredo está no uso da variedade Nacional, um tipo de cacau quase extinto e raríssimo.

O produto ainda passa por um processo de envelhecimento em barris de bebidas nobres, como conhaque e uísque, e chega ao consumidor em caixas de madeira numeradas, acompanhadas de pinça de degustação e guia ilustrado.
Raridade, narrativa e luxo
O que justifica pagar cifras tão altas? Para especialistas ouvidos pela Forbes Brasil, a resposta vai além do sabor. O pesquisador e chocolatemaker Bruno Lasevicius explica: “Quando alguém paga US$ 100 ou US$ 300 por uma barra, não está apenas comprando chocolate, mas a sensação de ser especial. O fetiche e a narrativa entram nesse lugar”.
Ou seja, cacau é o novo artigo de luxo porque carrega uma história, um mito que envolve exclusividade e status.
A doutora Luana Vieira, especialista em tecnologia de cacau e chocolate pela Unicamp, reforça que o processo de maturação pode transformar o produto: “Faço edições únicas com cacau maturado por três anos. Isso muda o sabor, reduz a acidez e revela notas antes escondidas”. No universo do ultraluxo, não é apenas o paladar que conta, mas toda a experiência que o envolve.
Críticas e contradições
Nem todos concordam com esse movimento. Andrea Abram, gerente de marketing de uma marca nacional, é direta: “O produto da To’ak é lindo, mas já encontramos defeitos claros de torra e temperagem. No luxo, o produto precisa ser perfeito”. Ela destaca ainda a dificuldade do mercado brasileiro: “Mal consigo vender uma barra por R$ 50 sem questionamentos. Imaginar R$ 1.500 é quase impensável”.
No entanto, o Brasil tem nomes que já se aproximam desse segmento. O Chocolate Q, da chef Samantha Aquim, alcança até R$ 1,1 mil a caixa e já foi degustado por figuras como a Rainha Elizabeth, o Papa Francisco e o cantor Sting. Outra referência é a Chocolat du Jour, pioneira no modelo bean-to-bar em território nacional.

O Brasil no mapa do ultraluxo
Embora o público interno ainda resista a pagar cifras tão elevadas, especialistas apontam que o país tem todos os ingredientes para se consolidar nesse mercado. “Antes de investir em um Bordeaux raro, você passa por etapas de aprendizado. O mesmo vale para o chocolate”, comenta Lasevicius, destacando a importância da educação sensorial.
Para Vieira, há espaço para que o Brasil crie seu próprio conceito de luxo, ligado à biodiversidade e à autenticidade. A crescente valorização do cacau nacional, aliada ao interesse por experiências gastronômicas exclusivas, pode colocar o país no centro das atenções internacionais. Afinal, se cacau é o novo artigo de luxo, o Brasil tem potencial para ser protagonista nesse cenário.
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