Assista a Money Week
Compartilhar no LinkedinCompartilhar no FacebookCompartilhar no TelegramCompartilhar no TwitterCompartilhar no WhatsApp
Compartilhar
Home
EQI Research
Artigos
Compra por impulso: do vinho ruim ao risco nos investimentos em crédito privado
Oferecido porEQI Research

Compra por impulso: do vinho ruim ao risco nos investimentos em crédito privado

Quem nunca se deixou levar pela empolgação de uma promoção com uma compra por impulso, pela pressa de garantir algo “antes que acabe” ou simplesmente pela sensação de que todo mundo estava comprando? Esse comportamento é quase instintivo. No calor do momento, temos a impressão de que estamos diante de um grande negócio.

Só que, quando a empolgação passa, o arrependimento costuma aparecer junto com a fatura. Eu já vivi isso – e a lição que tirei serve tanto para compras do dia a dia quanto para investimentos.

A história do vinho ruim

Na primeira vez que fui visitar meus sogros, decidi levar um presente: nada muito grande, mas algo especial. Um bom vinho parecia perfeito. Entrei na loja decidido a pedir ajuda, já que não sou especialista. Mas bastou ver uma pequena multidão em torno de uma promoção para eu esquecer o plano inicial e fazer uma compra por impulso. Garrafas voando das prateleiras, preço tentador, sensação de oportunidade única. Peguei uma e saí de lá satisfeito, convencido de que havia feito uma ótima escolha.

A satisfação durou até o almoço. Quando abrimos a garrafa, a expressão dos meus sogros disse tudo antes mesmo do primeiro gole. O vinho era ruim. Ruim de verdade. Nem barato, nem gostoso, e muito menos especial. Resultado: passei vergonha e ainda fiquei com a sensação de ter comprado gato por lebre. Hoje a história rende risadas em família, mas, na hora, foi uma lição dura sobre o peso de decidir por impulso.

Do vinho para o mercado

A analogia com investimentos é direta. Quantas vezes investidores entram em ativos apenas porque todos estão comprando? A lógica é a mesma: “se está acabando rápido, deve ser bom”. No entanto, no mercado financeiro, esse tipo de comportamento é ainda mais arriscado. Diferente de uma garrafa de vinho ruim, que no máximo rende uma lembrança constrangedora, um investimento feito no calor da euforia pode custar caro e corroer patrimônio.

Publicidade
Publicidade

O caso dos títulos incentivados

O exemplo mais recente está nos títulos de crédito privado, em especial os incentivados. Nos últimos anos, a procura disparou. Juros altos, apelo da isenção de imposto de renda e a expansão das plataformas digitais fizeram esse mercado saltar de R$ 280 bilhões em 2013 para mais de R$ 1 trilhão em 2025.

Com o anúncio de que a isenção de IR deve acabar para novas emissões a partir de 2026, o movimento ganhou contornos de corrida. Investidores “formam fila na frente do estande” para não perder a chance. O problema? A demanda crescente pressiona para baixo os spreads, justamente no momento em que os pedidos de recuperação judicial aumentam. Em outras palavras: o risco de crédito sobe, enquanto a remuneração cai.

O alerta que ninguém deveria ignorar

Esse cenário lembra em muito a bancada da promoção de vinhos. O medo de ficar de fora gera pressa, mas pressa não é sinônimo de oportunidade. Hoje, há investidores pagando caro por ativos que oferecem menos retorno e mais risco – uma equação que raramente fecha bem no longo prazo.

Comprar por impulso pode render histórias divertidas quando se trata de presentes de família. Mas no mercado financeiro, a conta é bem mais pesada. A euforia do momento passa, e o que sobra é um investimento que não entrega o que prometia.

No fim, a lição é simples: não se deixe levar pelo barulho da multidão. Avalie o risco, entenda a remuneração, questione se o preço faz sentido. Porque, assim como no episódio do vinho, não adianta nada ter uma garrafa bonita na mesa – se, na hora do brinde, o gosto que fica é o do arrependimento.

Leia também: