A Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) confirmou as previsões e, nesta quarta-feira (3), divulgou os números oficiais referentes à demanda por voos em 2020.
De acordo com o órgão, houve queda de 70% na demanda global, medida em passageiros por quilômetros pagos, ou RPKs, na comparação com 2019.
Brian Pearce, economista-chefe da Iata, não escondeu a frustração com o impacto negativo da pandemia do novo coronavírus no setor.
“Esse foi o maior choque na história da indústria de aviação”, resumiu o executivo.
O relatório divulgado nesta quarta apontou também que 2020 fechou com uma queda de 43% na demanda doméstica e de 85% no âmbito internacional.
“Abril foi o pior mês, em que vimos o tráfego perto de 5% do que costumava ser. Vimos algumas recuperações depois, mas, mesmo no mercado doméstico, essa recuperação parou no quarto trimestre”, comentou Pierce.
A expectativa da Iata, agora, é por um ano pelo menos um pouco melhor, mesmo com a segunda onda da pandemia a pleno vapor.
“Começamos 2021, mas ainda esperamos um ano de recuperação. Viemos de um nível muito baixo”, concluiu.
Anac havia apontado queda antes da Iata
Antes mesmo de a Iata divulgar os números finais de 2020, a Associação Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgou os números do total de passageiros transportados em voos no Brasil em 2020.
De acordo com o órgão, as empresas aéreas transportaram um total de 45,1 milhões de passageiros em voos pelo País.
O número é 52,5% menor do que o registrado em 2019, ano em que foram transportados 95,1 milhões de passageiros em voos domésticos.
O resultado, de acordo com a Anac, é o pior para o setor aéreo em mais de uma década, fruto das restrições de circulação impostas após a pandemia do novo coronavírus ter início.
Anac cita recuperação em dezembro
Os números catastróficos, no entanto, poderiam ser piores. A Anac divulgou que o último mês do ano apontou uma melhora na demanda, com dezembro registrando o melhor mês para o setor aéreo desde março, início da pandemia.
Mesmo assim, o setor seguiu com números abaixo quando há o comparativo com 2019.
A demanda por voos em dezembro foi 29,5% menor que a registrada no mesmo mês do ano anterior, enquanto a oferta de assentos foi 27,6 % menor.
No âmbito internacional, a queda também foi grande. As empresas brasileiras do setor aéreo transportaram 6,75 milhões de passageiros para fora do País em 2020.
O número é 72% menor do que o registrado durante todo o ano anterior.
O temor que assombra o setor aéreo em 2021
A virada do ano não significa, necessariamente, que as coisas irão melhorar rapidamente para o setor aéreo. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o total de passageiros no mercado doméstico em outubro era metade do registrado um ano antes.
“A crise cria uma deseconomia de escala. Voos que tinham um certo número de passageiros acabam não sendo mais viáveis. As empresas vão sair menores depois disso tudo. O mercado não vai se recuperar totalmente”, opinou André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company e especialista no setor.
As empresas do setor aéreo de fora do Brasil também sofrem e estimam que a recuperação total só deve ocorrer daqui a quatro anos.
“Entre 25% e 35% da demanda de negócios deve acabar porque o setor vai perder uma parte não desprezível da demanda no pós-pandemia por causa das soluções de videoconferência. Mas esse número ainda é impreciso”, acrescentou Castellini.
Por conta disso tudo, as empresas do setor não acreditam que o pior ano da história tenha se encerrado com a virada. Mesmo com uma pequena recuperação na demanda desde setembro, a posição é de que elas não respirarão tranquilas enquanto a população não estiver vacinada. Segundo os executivos, “a saída dessa crise pode ser tão complexa quanto o início dela”.





