A TV 3.0 é a nova geração da televisão aberta e gratuita no Brasil, regulamentada por decreto presidencial nesta quarta-feira (27). A tecnologia promete revolucionar a forma como os brasileiros consomem conteúdos audiovisuais, unindo a transmissão tradicional (broadcast) à internet (broadband).
Segundo o Ministério das Comunicações, o sistema inaugura um novo patamar para a radiodifusão nacional: “Com mais interatividade, qualidade de som, imagem superior e maior integração com a internet, o novo sistema moderniza o setor e coloca o país na vanguarda da radiodifusão mundial”.
Como vai funcionar na prática?
A principal inovação da TV 3.0 está em sua interface baseada em aplicativos. Isso significa que os canais de televisão voltam a ter destaque na tela inicial dos aparelhos, em formato semelhante ao catálogo de apps já conhecido nas Smart TVs. Mas, além do sinal aberto ao vivo, cada emissora poderá oferecer conteúdos adicionais sob demanda, como séries, programas, jogos e até serviços de compras.
Marcelo Moreno, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), explica: “Isso muda a forma como o telespectador acessa a programação. Em vez de ‘caçar’ a TV aberta dentro do aparelho, os canais voltam a estar em posição de destaque em um catálogo de aplicativos […] Esse modelo devolve visibilidade à TV aberta nos receptores e abre espaço para interatividade, personalização e integração com serviços internet”.
Novas possibilidades para público e emissoras
A TV 3.0 traz recursos que aproximam a televisão do padrão das plataformas digitais mais modernas. Será possível participar de votações em tempo real, acessar conteúdos estendidos, interagir com serviços de governo digital, receber alertas de emergência e até realizar compras pelo controle remoto.
Para as emissoras, isso representa novas formas de monetização. O chamado T-commerce abre oportunidades de receita e fortalece a relação com o telespectador. Como destacou Raymundo Barros, presidente do Fórum SBTVD: “A TV 3.0 representa mais do que uma evolução tecnológica, ela simboliza a renovação de um compromisso histórico da radiodifusão com a informação, a cultura e a ética”.
Retomada do protagonismo da TV aberta
Nos últimos anos, a televisão aberta perdeu espaço para os serviços de streaming. A proposta da TV 3.0 é recuperar esse protagonismo ao reposicionar os canais no centro da tela inicial dos novos aparelhos.
O engenheiro Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba, avalia que esse avanço pode reverter a queda de audiência: “A proeminência do ícone do DTV Mais na primeira tela, do botão DTV Mais no controle remoto, de certa forma, é uma reconquista do espaço que a TV aberta perdeu”.
Impactos no setor público
A TV 3.0 também terá um papel estratégico para emissoras públicas e educativas. A criação da Plataforma Comum de Comunicação Pública permitirá que canais como TV Brasil e Canal Gov sejam acessados por qualquer aparelho conectado, mesmo em regiões onde o sinal de antena não chega.
Carlos Neiva, da Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas, afirma: “Não serão mais apenas canais, mas aplicativos […] com conteúdo linear e também sob demanda, personificado, como numa plataforma de streaming”.
Desafios para implantação
Apesar do potencial, a implementação da TV 3.0 enfrenta desafios. O custo de migração tecnológica para emissoras e telespectadores é um dos principais entraves, já que será necessário adquirir novos transmissores, conversores e aparelhos compatíveis.
Outro ponto crítico é a conectividade. Hoje, apenas 22% da população brasileira acima de 10 anos tem acesso satisfatório à internet, segundo o Cetic.br. A desigualdade digital pode dificultar a universalização da experiência da TV 3.0, especialmente entre as classes mais pobres.