A tendência de inflação no Brasil ainda é crescente. É o que informou o Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta segunda-feira (21) em palestra. Na última semana, Campos Neto advertiu a respeito do aumento dos preços ao longo dos meses de abril e maio no Brasil.
Para ele, a inflação brasileira está alinhada aos demais países. Porém, este aumento é um dos mais intensos do mundo. Segundo o presidente do BC, o setor de eletricidade foi o mais afetado no ano de 2021 com a crise hídrica.
Campos Neto: movimento transitório para inflação
Existia uma expectativa positiva acerca da abertura do mercado e término do lockdown após a crise do Covid-19, o que iria garantir uma maior movimentação na economia. Dentro desta suposta estabilidade havia a possibilidade de um número maior de serviços e estímulos do governo, porém esta previsão não aconteceu.
De acordo com Campos Neto, a autoridade monetária esperava um movimento transitório para o crescimento da inflação, e o BC foi um dos primeiros a apostar em uma tendência de aperto monetário após ter o diagnóstico da situação.
Outro aspecto relevante é que não houve quebra de oferta em relação à crise, e sim, um deslocamento de demanda. Esta tendência inflacionária está relacionada ao crescimento de índices de preços nacionais. A alta nos juros também contribuiu para um menor crescimento, o que simboliza uma trajetória fiscal pior para o Brasil.
Inflação e energia
Para o presidente do BC, os gastos de energia estão relacionados ao deslocamento da demanda por bens, ou seja, preços mais altos que representam um crescimento maior em investimentos, e por consequência, um aumento nos custos.
O maior obstáculo em relação à crise elétrica brasileira é o capex decrescente e o preço crescente, algo pouco comum de acontecer no Brasil. Vale lembrar, que o “Capital Expenditure” é o montante de dinheiro que é utilizado para a compra de bens de capital que servem para produzir outros bens de consumo.
Este cenário nebuloso pode estar associado ao aumento da produção de energia limpa. Para Roberto Campos Neto, países emergentes e avançados também encontram dificuldades com o crescimento na produção de energia, diante do cenário de aumento das energias renováveis.
Crescimento no comércio eletrônico
Apesar das dificuldades, o presidente do Banco Central destacou o aumento da arrecadação e da expansão do comércio eletrônico no Brasil em período de pandemia. Atualmente, este setor é um dos que possuem maior capacidade de captar receitas.
O risco fiscal do país é outro entrave. A crise gerada pela pandemia contribuiu para aumentar a curva de juros do Brasil, porém as projeções de crescimento estrutural estão em queda.
Por fim, Campos Neto realçou a queda de projeções para que haja um crescimento estrutural no país.
Taxas neutras
Brasil e Rússia estão com juros básicos da economia acima da taxa neutra, e este índice, deve ser maior do que o nível de equilíbrio para conter a inflação. De acordo com o presidente do Banco Central, os países que mais se destacam com ações mais fortes do que o esperado são: Chile, Colômbia e México.
Roberto Campos Neto também abordou o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, e dentro deste prisma, o presidente do BC acredita em revisões que podem contribuir para o crescimento em 2022. Vale destacar que o PIB continua em 0,30%, índice este, abaixo da previsão de 0,40% para o ano.
Para o presidente do Banco Central, o mercado de crédito interno continua em expansão e o crescimento do endividamento das famílias também era previsto.
Inflação nos Estados Unidos
Em relação ao cenário norte-americano, Campos Neto enfatizou que a inflação da maior potência econômica do globo está 12 meses a frente e continua muito alta. Para o presidente do BC, a solução para conter o crescimento exagerado está em elevar a taxa de juros, o que poderá contribuir para pressionar a inflação para baixo.
Por fim, Campos Neto lembrou da reversão rápida no balanço norte americano, e esta situação, foi sinônimo de estresse e instabilidade nos mercados de todo o mundo.