O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom nesta quinta-feira (15), ao reconhecer pela primeira vez que seu governo ainda não aceita a reeleição de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela. Lula afirmou que o líder venezuelano deve “uma explicação para o mundo” e, diante das dúvidas sobre o resultado da eleição presidencial, sugeriu que Maduro poderia demonstrar “bom senso” e usar o restante de seu mandato para convocar novas eleições.
“O que nós queremos? Que o órgão responsável pelas eleições diga quem foi o vencedor. Ainda não reconheço Maduro como presidente; ele precisa prestar contas ao mundo. É necessário apresentar os dados da eleição, mas por meio de um órgão confiável. Ele não enviou os dados ao conselho eleitoral, mas sim ao Judiciário”, disse Lula em entrevista à Rádio T, do Paraná, onde cumpriu uma série de compromissos políticos.
Apesar de criticar Maduro, Lula ressaltou que continua buscando “uma solução” para o impasse na Venezuela. No entanto, também ponderou que não pode afirmar que Edmundo González Urrutia, candidato da oposição, foi o vencedor do pleito.
“Estamos tentando encontrar uma solução ou formar um governo de coalizão. Muitas pessoas no meu governo não votaram em mim. Não posso afirmar que a oposição venceu porque não tenho os dados. Quero agir com cautela, buscando o resultado. Maduro tem seis meses de mandato restantes. Se ele tiver bom senso, poderia convocar novas eleições e criar um comitê eleitoral suprapartidário para supervisioná-las. Não posso ser precipitado e tomar uma decisão”, acrescentou.
Lula queria ajudar Maduro a se livrar das sanções internacionais
Lula admitiu que sua intenção de legitimar o processo eleitoral na Venezuela era ajudar Maduro a se livrar das sanções impostas pela comunidade internacional. No entanto, ele sugeriu que a relação se “deteriorou” e que é necessário um órgão para avaliar as atas do resultado presidencial.
“Não é fácil para um presidente de um país opinar sobre as eleições de outro. Essa relação com a Venezuela se deteriorou porque a situação política lá está se deteriorando. A legitimidade do resultado eleitoral era essencial para combater as sanções contra a Venezuela. Durante a eleição, não houve suspeitas, mas a confusão surgiu na divulgação dos dados. Precisamos de alguém para avaliar as atas”, concluiu.
Nas últimas semanas, Brasil, Colômbia e México, todos governados por líderes de esquerda, têm tentado encontrar uma solução consensual entre o regime de Maduro e a oposição venezuelana para o impasse gerado pela eleição presidencial de 28 de julho. Os três países já emitiram notas conjuntas exigindo a divulgação das atas eleitorais pelo governo Maduro e ainda não reconheceram a reeleição autodeclarada do presidente venezuelano.
Maduro afirma ter vencido a eleição, mas as autoridades eleitorais e judiciais do país, controladas pelo chavismo, não apresentaram as atas que confirmariam o resultado de cada urna. A oposição, por sua vez, acusa o governo de fraude e alega que seu candidato, Edmundo González, foi o verdadeiro vencedor.
Nos últimos dias, surgiu no Palácio do Planalto a ideia de promover novas eleições na Venezuela como uma solução para o impasse. No entanto, essa proposta não é unânime e alguns dentro do governo a veem como um elemento que pode agravar a confusão no processo eleitoral do país vizinho. Até o momento, o governo Lula insiste em exigir de Maduro a divulgação das atas, evitando romper com o antigo aliado, mas mantendo diálogo com a oposição. Entretanto, essa postura tem gerado desgaste tanto internamente quanto no cenário internacional.