O economista-chefe da EQI Asset, Stephan F. Kautz, projeta juro menor no Brasil em 2023, mas os gastos públicos permanecem no radar e podem servir de empecilho para que o país alcance patamares menores nesse quesito.
“Projetamos cortes na taxa de juros no segundo semestre de 2023 para 11,5%. No entanto, vale ressaltar que maiores gastos públicos possuem a capacidade de reduzir esse espaço de flexibilização monetária”, disse.
De acordo com o especialista, o Banco Central (BC) costuma aumentar a taxa de juros para, por meio desse mecanismo, conter a inflação. O Brasil tem sofrido com uma elevação de preços em torno dos 5% ao ano e até registrou algumas deflações nos últimos meses.
Porém, do lado da população, onde o cinto mais aperta, o custo de vida tem aumentado, os preços dos alimentos têm subido substancialmente e gasolina e diesel foram uma dor de cabeça à parte ao longo de todo o ano.
O próprio presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que esta é uma batalha ainda não vencida. Isso porque a autoridade monetária tem se esforçado para implementar medidas de contenção à inflação, dentre as quais a atualização da Selic periodicamente, que é a taxa básica da economia brasileira.
Ainda assim, para a EQI Asset, como as projeções permanecem ao redor da meta em 2024 e ainda não haverá uma definição sobre o novo arcabouço fiscal até o início de 2023, o BC reforça que a taxa Selic ficará estável por todo o primeiro semestre do ano que vem, de maneira a dirimir as dúvidas sobre a trajetória de convergência da inflação doméstica, incertezas fiscais locais e potenciais alterações no ambiente internacional, como o fim dos ciclos de altas de juros nas principais economias.
Juro menor em 2023
Kautz assina uma análise acerca da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) anunciada na primeira semana de dezembro, de manter a Selic em 13,75%. Segundo ele, o movimento foi dentro do esperado, com estabilidade na taxa de juros e projeções de inflação que apontam convergência para a meta em 2024.
“Prospectivamente, o Copom sinalizou que manterá a taxa de juros de maneira a assegurar a desaceleração da inflação”, disse, acrescentando que, porém, o risco fiscal aumentou no mapeamento de potenciais ameaças a inflação.
O comunicado [do Copom] mencionou a “elevada incerteza sobre o futuro arcabouço fiscal do país”, repetiu a “conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal” e finalizou com “o Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”.
Já a menção aos preços de ativos parece sugerir um destaque à taxa de câmbio, dado que pode ser um dos canais de transmissão de uma desconfiança com uma deterioração fiscal mais pronunciada. Ou seja, uma depreciação cambial levaria a um aumento da inflação e piora da trajetória em 2023.
Também traz a preocupação com as expectativas de inflação. Nesse caso, uma trajetória de dívida pública que não mostre estabilidade ao longo dos próximos anos levaria a inflações esperadas mais altas em horizontes mais longos, para além de 2023 e 2024. Nesse ambiente, o Copom precisaria reagir com novas altas de juros.
Brasil no topo do ranking
Levantamento promovido pela Infinity Asset Management aponta que o Brasil lidera o ranking mundial de juros reais de dezembro, em uma lista de 156 países.
O cenário vai se manter o mesmo caso haja alta de juros de 0,75 ponto percentual (pp) ou baixa de 0,25 pp – os dois cenários analisados pelo estudo.
Vale lembrar que no dia 7 de dezembro de 2022 o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 13,75% ao ano. O Copom avisou, ainda, que não hesitará em retomar o ciclo de alta caso o processo de desinflação não ocorra como esperado.
Para a Infinity, os juros reais representam a taxa descontada da inflação esperada para os próximos doze meses. Em seu relatório, considera a inflação prevista no boletim Focus do Banco Central, de 5,33%, e a taxa de juros DI a mercado dos próximos doze meses com vencimento em dezembro de 2023.
Desta forma, com a Selic a 13,75% ao ano, os juros reais no Brasil alcançam 8,16%. No ranking, o país é seguido pelo México (juros reais de 5,39%) e pelo Chile (juros reais de 4,66%). Em caso de alta de 0,75 pp, os juros reais brasileiros seriam de 8,78%, enquanto o valor atingiria 7,54%, se houvesse corte de 0,25 pp.
Em se tratando da taxa de juros nominais, o Brasil está em segundo lugar, atrás da Argentina (juros de 75% ao ano). Na terceira posição, aparece a Hungria (juros de 13% ao ano).
Conforme o documento da Infinity, os programas de aperto quantitativo continuam lentos e o movimento global de políticas de aperto monetário continuou a ganhar força, com o aumento expressivo no número de Bancos Centrais (BCs) sinalizando preocupação com a inflação, mesmo com a queda do preço de commodities.
Alta dos juros na prática
Com os juros brasileiros em patamares elevados, um dos resultados diz respeito ao encarecimento do crédito. Ou seja, comprar uma casa, por exemplo, acaba ficando mais cara se o interessado recorrer a financiamento.
Outro ponto de inflexão diz respeito à poupança da população. Como o brasileiro sacou bastante, os bancos tiveram que recorrer a outras fontes para captar recursos e direcioná-los ao crédito de habitação.
Para se ter ideia, a caderneta de poupança registrou saque líquido de R$ 7,419 bilhões em novembro de 2022, segundo o BC.
Assim, levou o volume de retiradas líquidas no acumulado do ano a R$ 109,496 bilhões, recorde da série iniciada em 1995.
Desta forma, o resultado de novembro representou o segundo maior saque para o mês da série, perdendo apenas para novembro de 2021, quando houve retirada de R$ 12,377 bilhões.
Do total do mês, os saques superaram os depósitos no SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) no valor de R$ 4,355 bilhões. Já na poupança rural, as saídas líquidas foram de R$ 3,064 bilhões.
Claro que a população que deixou a poupança o fez justamente por conta dos juros baixos. Agora, com a Selic cada vez mais alta, a caderneta volta a ficar interessante para o brasileiro, entretanto, ela não é considerada um “veículo” de investimento.
Existem inúmeras outras possibilidades para quem quer fazer o dinheiro render, como o Tesouro Direto e outros produtos de renda fixa.
Endividados precisam renegociar urgentemente
Outro fator que deve estar no radar do brasileiro, quando o juro está alto no país, é acerca de suas próprias dívidas. O mais recomendado é que as famílias busquem renegociação urgentemente para, assim tentar conseguir algum abatimento nos valores.
Levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgado dia 7 de dezembro de 2022 mostra que o volume de famílias com contas atrasadas no país subiu em outubro e atingiu a maior taxa anual em seis anos.
A pesquisa aponta que a proporção de famílias inadimplentes ficou em 30,3% no mês passado, alta de 0,3 ponto percentual em relação a setembro, e de 4,6 pontos em relação a outubro do ano passado.
Esse avanço de 4,6 pontos em 12 meses foi o maior registrado na comparação anual desde março de 2016, informou a CNC. O indicador subiu pelo quarto mês consecutivo.
Conforme o relatório, o aumento na inadimplência ocorreu mesmo com a relativa estabilidade na proporção de endividados. Em outubro, o percentual das famílias com dívidas a vencer chegou a 79,2%. O indicador caiu 0,1 ponto na comparação com setembro, mas subiu 4,6 pontos percentuais em relação a outubro de 2021.
Também traz que o aumento da inadimplência pode ser explicado pela combinação de grande nível de endividamento e juros altos. Na avaliação da entidade, esse cenário dificulta a quitação de todos os compromissos financeiros dentro do mês, mesmo com a melhora progressiva no mercado de trabalho, a queda da inflação e as políticas de transferência de renda reduzindo a proporção de endividados.
Divisão por Estados
Ainda de acordo com o levantamento, na divisão por estados a inadimplência cresceu em 12 das 27 unidades da Federação, com destaque para a Bahia, onde 43,7% das famílias relataram estar com as contas atrasadas. Em relação ao endividamento, a proporção de famílias com débitos a vencer subiu em 17 unidades da Federação. A maior alta foi no Paraná, onde 95,8% das famílias afirmaram estar endividadas. Já na comparação por renda, a taxa de endividamento aumentou nos últimos 12 meses tanto entre as famílias de baixa e média renda (que ganham até dez salários mínimos) quanto entre as de maior renda (que recebem mais que dez salários mínimos). Segundo a CNC, as dívidas no cartão de crédito e no cheque especial, que cobram os juros mais altos, estão pressionando o aumento na proporção de endividados.
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