O simpósio anual de Jackson Hole é o tema econômico da semana.
Isto porque, ele reúne, entre quinta e sábado (dias 25, 26 e 27 de agosto), economistas, políticos, empresários e os presidentes dos principais bancos centrais do mundo para discutir assuntos importantes que mexem com a economia americana e global.
O discurso mais aguardado será o de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), banco central americano, que fala na sexta-feira.
Ele deve tocar no tema que todos querem saber: para onde vão os juros americanos.
“É quase como se tivéssemos uma outra reunião de política monetária do Fed, mas desta vez sem declaração de mudança de juros ao final”, define Luís Moran, head da EQI Research, sobre a expectativa pelo evento.
Por que tanta expectativa com Jackson Hole?
Acontece que os EUA deram início a uma escalada de juros (já estão no quarto aumento sequencial), o que levantou suspeitas de uma possível recessão, caso o aperto monetário fosse rápido demais, para conter a inflação que atingiu recorde em 40 anos.
No entanto, apesar de o receio da recessão permanecer como pano de fundo, os últimos indicadores econômicos deram uma amenizada nas tensões dos mercados.
Os dados de trabalho, medidos pelo payroll, vieram bem acima da projeção, o que indica que o país não está com a atividade desaquecida, já que o emprego se encontra em níveis pré-pandemia.
E a inflação, medida pelo CPI (preços ao consumidor) e pelo PPI (preços ao produtor), veio abaixo da expectativa do mercado.
Ou seja: diante desses dados positivos, a alta de juros pode ser mais suave do que o inicialmente previsto, com EUA conseguindo fazer seu “pouso suave”.
Porém, o que os membros do Fed vêm repetindo à exaustão é que a inflação ainda está longe de ser controlada e que os juros só vão parar de subir quando ela atingir a meta de 2% ao ano – sendo que, nos últimos 12 meses, acumula alta de 8,5%.
Para a EQI Asset, os juros americanos devem chegar próximos de 4% até o final de 2022. Para a reunião do Fed de setembro, é esperado aumento de 0,50 ponto porcentual – vale dizer que parte do mercado espera 0,75 p.p.
A história de Jackson Hole
O evento foi criado em 1978, pela regional do Fed de Kansas City, que fica no estado do Missouri. A cidade abrigou as primeiras edições, sendo sucedida por duas cidades no Colorado e, a partir de 1982, passou a ocorrer em Jackson Hole.
O primeiro simpósio serviu para discutir o papel da política monetária no desenvolvimento agrícola.
Hoje, o “buraco do Jackson”, como é conhecida a vila cercada por montanhas localizada em Wyoming, é referência para todos os interessados em política monetária global, antecedendo, por vezes, os debates mais relevantes da sociedade.
Na edição de 2007, por exemplo, o encontro debateu “financiamento habitacional e política monetária”. E na sequência veio a crise financeira do subprime, em 2008.
Ano passado, ainda com realização remota devido à pandemia, o simpósio tratou de regime de metas de inflação, com um Fed se mostrando ainda tolerante a um nível de inflação acima de 2%.

Alguns momentos relevantes de Jackson Hole
1978
O Federal Reserve Bank de Kansas City sediou seu primeiro simpósio, com o tema “Comércio Agrícola Mundial: O Potencial de Crescimento” em Kansas City, Missouri. Os simpósios foram realizados posteriormente em Vail e Denver, Colorado, também com tópicos agrícolas.
1982
O evento mudou-se para Jackson Hole. O presidente do Fed de Kansas City, Roger Guffey, convidou o então presidente do Fed, Paul Volcker, para participar do simpósio intitulado “Questões de política monetária na década de 1980”.
Volcker aceitou o convite e participou do evento, que, nos anos seguintes, contou com a presença de seus sucessores do Fed e funcionários de bancos centrais de todo o mundo.
1985
Na época em que o tópico foi selecionado, o título provisório era “A alta e a ascensão do dólar”, no entanto, quando o valor do dólar começou a cair, os organizadores optaram por uma reformulação de “O dólar americano – desenvolvimentos recentes, perspectivas e opções políticas”.
1989
O então presidente do Fed, Alan Greenspan, apresentou perspectivas do banco central ao lado de representantes do Banco do Canadá e do Deutsche Bundesbank sob o tema “Questões de política monetária na década de 1990”.
Foi a primeira vez que um presidente do Fed teve um papel formal no programa, iniciando uma tendência que continua até hoje.
1990
Durante o simpósio, focado em “Questões de Banco Central em economias orientadas para mercados emergentes”, oito nações do bloco oriental falaram sobre o ambiente atual e os desafios futuros de suas economias. Os países representados incluíram a União Soviética, Iugoslávia, Bulgária e Tchecoslováquia.
- Leia também: China x EUA – os novos conflitos geopolíticos
2005
À medida que a aposentadoria do presidente do Fed Greenspan se aproximava, o tema era “A Era Greenspan: Lições para o Futuro”, que levantou o legado de um dos presidentes mais antigos da história do Fed.
2007
O tema “Habitação, Financiamento Habitacional e Política Monetária” foi visto por alguns convidados como chato no momento do seu anúncio. No entanto, quando o evento começou em agosto, o mercado imobiliário entrou em colapso, tornando este tema relevante e oportuno.
- Quer saber mais sobre Jackson Hole e como eventos desse porte influenciam seus investimentos? Então, preencha o formulário que um assessor da EQI irá entrar em contato.