A pergunta “até onde vai o Ibovespa” tem mobilizado investidores e analistas em meio às incertezas do mercado brasileiro. No mais recente relatório “Onde Investir 4TRI25”, Felipe Paletta, da EQI Research, apresentou projeções que variam significativamente conforme o desenrolar do cenário macroeconômico. Segundo a análise, em um contexto otimista, o principal índice da bolsa brasileira pode atingir impressionantes 223.813,5 pontos até 2026, representando um potencial de valorização de 53%.
A resposta sobre até onde vai o Ibovespa, no entanto, não é única. Paletta trabalhou com três diferentes perspectivas econômicas, cada uma refletindo possíveis trajetórias para a economia brasileira e seus impactos no mercado de ações.
No cenário base, considerado o mais provável com 50% de probabilidade, o índice terminaria 2026 em 173.233,3 pontos, com valorização de 18%. Já na hipótese pessimista, que atribui 30% de chance de concretização, o Ibovespa alcançaria apenas 142.379,8 pontos, praticamente mantendo os níveis atuais com desvalorização de 3%.
Cálculo do Preço Alvo do Ibovespa

Fundamentos por trás das estimativas otimistas
De acordo com as projeções de Felipe Paletta, o cenário mais favorável para o mercado acionário brasileiro está ancorado em premissas macroeconômicas específicas. No modelo otimista, a taxa de juros real de longo prazo cairia para 4,5%, enquanto o P/L (Preço sobre Lucro) projetado para 2026 seria de 13 vezes. Essa combinação de fatores criaria um ambiente propício para a valorização das ações, com probabilidade estimada em 20%.
O estrategista da EQI Research contextualiza que o mercado brasileiro está vivendo um momento de transição importante. Após um processo de desaceleração da atividade econômica no trimestre, conforme antecipado desde o início do ano, começam a surgir sinais de que o aperto monetário pode estar surtindo efeito.
“Estamos mais convictos de que estamos diante de um longo e virtuoso ciclo para as ações brasileiras e, ainda que precedido por muitos altos e baixos com o ciclo político, acreditamos que o bom desempenho até aqui representa apenas um aceno de boas-vindas”, afirma Paletta no relatório. “Digo isso, pois, mesmo que não tenhamos aumentado nosso peso nominal em Bolsa, temos nos dado a liberdade de incluir na própria carteira recomendada de ações alguns nomes antes considerados mais arriscados, que estavam sofrendo pelo ciclo monetário, e que agora podem gozar de algum alivio macroeconômico.”
Essa visão otimista se justifica também pela possibilidade de uma política monetária expansionista caso o processo de desinflação se consolide. Com a desaceleração econômica e potencial queda dos juros, empresas listadas em bolsa ganhariam espaço para revisão positiva de expectativas de lucro, criando um círculo virtuoso para os ativos de renda variável.
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Cenário base mantém expectativas moderadas
Quando se questiona até onde vai o Ibovespa em condições normais de mercado, a resposta da EQI Research aponta para o cenário base como referência mais equilibrada. Nesta projeção, que carrega 50% de probabilidade segundo Paletta, os juros reais de longo prazo ficariam em 6%, com o P/L de 2026 estimado em 10,1 vezes. O alvo de 173.233,3 pontos representaria um potencial de valorização de 18%, considerado razoável diante dos desafios estruturais da economia brasileira.
Este cenário intermediário considera que o processo de desinflação continuará gradual, sem grandes sobressaltos, permitindo que o Banco Central conduza a política monetária de forma mais previsível. A projeção leva em conta também a manutenção de um ambiente político desafiador, mas sem rupturas significativas que possam comprometer a confiança dos investidores.
Paletta explica que mudou o horizonte de análise do modelo de preço-alvo do Ibovespa de 2025 para 2026, redistribuindo a matriz de probabilidades de acordo com níveis históricos do múltiplo P/L. “Diante disso, dando continuidade à mudança feita na última edição trimestral, em que mudamos o horizonte de análise do modelo de preço alvo do Ibovespa de 2025 para o fim de 2026, redistribuímos a matriz de probabilidades de acordo com os níveis históricos do múltiplo do Preço/Lucro”, detalha o estrategista.
Análise de sensibilidade revela potencial escondido
Para complementar a análise sobre até onde vai o Ibovespa, a EQI Research desenvolveu uma tabela de sensibilidade que explora diferentes combinações de múltiplos P/L e expectativas de lucro. Os números revelam que pequenas variações nas premissas podem gerar impactos significativos no índice. Com o Ibovespa negociando a 146.539 pontos na data de referência (30/09/2025), o modelo mostra potenciais que variam de quedas superiores a 15% até ganhos acima de 55%.
Na tabela de sensibilidade apresentada por Paletta, se o múltiplo P/L se expandir para 12 vezes e os lucros subirem 10% acima do esperado, o Ibovespa poderia alcançar 55,08% de valorização. Por outro lado, uma contração do múltiplo para 8 vezes combinada com lucros 10% abaixo das expectativas resultaria em desvalorização de 15,41%. O cenário correto, mantendo as premissas atuais, aponta para valorização de 17,49%.
Tabela de sensibilidade do Ibovespa

Essa análise multifatorial demonstra a importância de acompanhar tanto os fundamentos microeconômicos das empresas quanto o ambiente macroeconômico. “Por isso, a melhor forma de analisá-lo é não apenas usarmos o modelo de Ibovespa alvo que usualmente apresentamos aqui, mas também um modelo de sensibilidade”, pontua o estrategista da EQI Research.
Volatilidade e incertezas marcam o curto prazo
Apesar das projeções animadoras sobre até onde vai o Ibovespa no médio prazo, Paletta não ignora os desafios imediatos. O mercado brasileiro renovou máximas em movimento considerado pouco usual, com múltiplos descontados, volatilidade elevada e volumes reduzidos na B3. Os saques frequentes em fundos de ações, compensados parcialmente pela presença de investidores estrangeiros no fluxo comprador, criaram um ambiente de instabilidade que deve persistir no curto prazo.
O estrategista também menciona a influência das eleições presidenciais e sua evolução como fator de incerteza. Embora reconheça a impossibilidade de prever resultados eleitorais, Paletta reforça que apenas reavaliou a matriz de probabilidades considerando o tempo transcorrido. A visão otimista sobre o potencial da bolsa brasileira permanece justificada, mesmo que parte desse potencial já tenha se materializado nas altas recentes.
Ciclo virtuoso à frente para ações brasileiras
A convicção da EQI Research sobre um longo e virtuoso ciclo para as ações brasileiras se apoia em fundamentos que vão além das oscilações de curto prazo provocadas pela política. Segundo Paletta, mesmo sem ter aumentado o peso nominal em bolsa nas carteiras recomendadas, a casa de análise deu liberdade para incluir na carteira de ações alguns papéis anteriormente considerados mais arriscados, que sofreram com o ciclo monetário e agora podem se beneficiar de algum alívio macroeconômico.
Essa estratégia reflete a crença de que o bom desempenho observado até o momento representa apenas o início de um movimento mais amplo. Com o processo de desinflação avançando e a possibilidade de cortes de juros no horizonte, empresas de diferentes setores ganham potencial de revalorização. A questão sobre até onde vai o Ibovespa, portanto, dependerá fundamentalmente da materialização dessas premissas macroeconômicas positivas.
O relatório completo “Onde Investir 4T25” da EQI Research oferece análise detalhada não apenas sobre ações, mas também sobre renda fixa, fundos imobiliários e alocação no exterior, fornecendo um panorama completo para investidores que buscam posicionar suas carteiras de forma estratégica para o próximo ciclo do mercado brasileiro.