A ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) a respeito da reunião da semana passada, que reduziu a Selic para 11,75% ao ano, reiterou a cautela dos diretores a respeito da desaceleração no processo de redução da inflação, e sinalizou que a tendência é que os cortes se mantenham no ritmo de 0,5 p.p. nas próximas reuniões, como aconteceu nesta reunião e nos três encontros anteriores.
“O Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz o texto divulgado na manhã desta terça-feira (19).
O Copom aponta que a conjuntura atual é “caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento”, com expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, o que demanda “serenidade e moderação na condução da política monetária”.
“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, conclui o texto.
Ata do Copom: cenários e riscos
O texto aponta que o cenário macroeconômico global se mostra menos adverso do que na reunião de outubro, com a queda dos juros de longo prazo nos EUA e “sinais incipientes de queda de núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países”, citando que em todo o mundo os BCs vêm adotando posturas contracionistas em busca das metas de inflação. “O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, destaca o texto.
Depois, ao citar o ambiente doméstico, o texto aponta que o conjunto de indicadores recentes, como o PIB do terceiro trimestre com alta de 0,1%, segue “consistente com o cenário de desaceleração da economia esperado pelo Comitê”. “O mercado de trabalho segue aquecido, mas apresenta alguma moderação na margem. A inflação ao consumidor segue a trajetória esperada de desinflação, com destaque para a sua composição benigna. Os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária se aproximaram da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, destaca o texto.
Ao falar dos riscos, o texto destaca a importância de seguir em busca do cumprimento da meta de zerar o déficit fiscal em 2024, sob risco de interrupção no processo de cortes dos juros. “O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, apontam os diretores.
O Copom aponta ainda que é preciso acompanhar a evolução dos cenários antes de definir uma mudança de rota ou uma aceleração no processo de corte dos juros. “O Comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas. A extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos. O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central”, conclui o texto.
Ata do Copom: análise da EQI Asset
O economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, afirma que a postura cautelosa deve mesmo se manter ao longo dos primeiros meses do ano, especialmente pela dificuldade em trazer a inflação para mais perto da meta de 3% ao ano.
“A sinalização é de que não veem uma completa ancoragem das projeções para o centro da meta, por isso seguem com o ritmo mais cauteloso, sinalizando que para o final do ciclo, a política monetária ainda estará contracionista, ou seja, que o juro real e efetivo ainda estará acima do juro real neutro. Por isso, a gente manteve nossa projeção de que a Selic vai ser reduzida a 9,25%, em ritmos de 0,5 ponto ao longo das reuniões de 2024”, aponta o especialista.