Começa nesta quinta-feira (26) e vai até o dia 31 de março a temporada de balanços referentes ao quarto trimestre de 2022. E a crise da Americanas (AMER3) aumenta a preocupação do mercado com a qualidade da auditoria que é realizada para garantir a lisura e a verdade dos resultados apresentados pelas empresas.
- Veja aqui a análise da EQI Research sobre o caso Americanas (AMER3).
Por norma da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), todas as empresas de capital aberto devem apresentar trimestralmente um demonstrativo de como estão suas finanças, apontando detalhes de faturamento, despesas e dívidas, para então apresentar se houve lucro ou prejuízo.
Uma vez por ano, as empresas têm a obrigação legal de publicar um balanço patrimonial completo, com detalhes sobre os bens, as dívidas pendentes e como seus números se comportaram no ano anterior.
Tais demonstrações servem para que os investidores que já estão posicionados verifiquem a situação da empresa e decidam por manter ou vender seus papéis, enquanto outros possíveis compradores verificam se vale a pena se tornar acionista.
Os números também são usados por bancos, corretoras e assessoras de investimentos para construir relatórios de informação aos clientes, com indicações de compra ou vendas.
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Quem faz os balanços?
Os balanços são produzidos dentro das empresas, geralmente nos setores de contabilidade, que devem colocar os dados de acordo com normas internacionais do setor. A divisão geralmente é feita em:
- Ativos – dinheiro em caixa, valores investidos em aplicações financeiras, propriedades móveis (veículos e maquinário, entre outros itens) e imóveis (terrenos e instalações), estoque de produtos e valores a receber de clientes;
- Passivos – pagamentos realizados pela empresa a fornecedores e empregados, impostos pagos às devidas esferas governamentais, custos de manutenção, verbas reservadas para o pagamento de débitos trabalhistas e as dívidas da empresa com fornecedores e instituições financeiras.
Especialistas costumam dizer que os balanços, assim como pesquisas de opinião, são retratos de momento que só funcionam se analisados de forma contextualizada, ou seja, com comparações adequadas entre períodos.
Por exemplo: em empresas que lidam com produtos sazonais, como no agronegócio, as comparações mais corretas são com o mesmo trimestre do ano anterior, e não com o trimestre anterior, já que alguns períodos tendem a registrar mais faturamento, e outros, mais despesas.
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E como funciona a auditoria?
A norma da CVM também determina que um auditor independente deve verificar e respaldar os dados apresentados pela empresa em seus relatórios e também nos balanços patrimoniais.
Em geral, as empresas de grande porte contratam escritórios especializados (veja abaixo) para garantir os dados como corretos. O problema é que, em geral, as auditorias não conseguem conferir 100% dos valores apresentados – a alegação é que seria necessário ter alguém em tempo integral na empresa para acompanhar o trabalho da contabilidade.
Segundo especialistas, normalmente alguns setores do balanço são escolhidos por amostragem e analisados em detalhes em busca de inconsistências – que, se encontradas, podem provocar uma verificação ainda mais cuidadosa e, em seguida, corrigidos. Outra opção é a produção de notas explicativas que acompanham o balanço e ajudam a justificar dúvidas dos observadores.
Uma empresa que declarar valores incorretos, a chamada “maquiagem” dos balanços, pode ser punida em diversas áreas:
- Tributária – os governos podem realizar cobranças de impostos em cima da diferença de valores declarados de faturamento;
- Cível – investidores que tiverem prejuízos por valores incorretos podem cobrar indenização por danos morais e materiais;
- Financeira e criminal – A CMV pode abrir investigações de crimes contra o sistema financeiro, que podem resultar em multas, indenizações e até mesmo prisão.
Auditorias que não identificarem inconsistências em balanços também podem ser investigadas, submetidas a processos e até mesmo pagar multas, além de lidar com o prejuízo à imagem perante seus pares e o mercado, com risco de perda de clientes.
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“Big Four”: as principais empresas de auditoria do mundo
O grupo das quatro maiores empresas de auditoria do mundo é conhecido como “Big Four”. Todas elas são estabelecidas no Brasil e prestam serviços para atestar a transparência e a integridade das contas de uma empresa. Empresas que as contratam costumam ser bem vistas pelo mercado, mas, como veremos, elas não são à prova de erros.
Deloitte
Criada em Londres, em 1945, e hoje com sede global instalada em Nova York, a Deloitte está no Brasil desde 1911, quando chegou para prestar serviços de auditoria para companhias ferroviárias, um setor pujante na economia nacional à época.
Hoje, a Deloitte emprega cerca de 415 mil pessoas em mais de 150 países. No Brasil, são cerca de 7 mil profissionais envolvidos com a empresa, sendo 300 sócios.A empresa já foi multada por não ter identificado falhas nos números do Banco Pan-Americano, que teve um rombo descoberto em 2010.
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Ernst & Young
Também criada a partir de uma associação de duas consultorias centenárias, a Ernst & Whinney e a Arthur Young & Co, unificadas em 1989, a empresa está presente em mais de 150 países com cerca de 300 mil funcionários.
No Brasil, hoje, são 12 escritórios e cerca de 7 mil colaboradores. Em 2013, a empresa chegou a ser denunciada pelo só no Brasil. Em 2012, a empresa enfrentou acusações de ter deixado passar um rombo no banco Cruzeiro do Sul, que acabou liquidado pelo Banco Central.
KPMG
Também resultado da fusão de empresas, a KPMG surgiu com esse nome em 1985 A empresa surgiu depois da fusão de duas empresas, em 1987, e divide sua gestão entre Londres e Amstelveen, nos Países Baixos. A empresa chegou a negociar sua fusão com a Ernst & Young na década de 1990, mas o negócio não foi adiante.
No Brasil, hoje são aproximadamente 5.000 profissionais, segundo a empresa. Em 2020, a KPMG foi multada pela CMV por irregularidades encontradas em uma auditoria na Petrobras.
PriceWaterhouseCoopers
Conhecida pela sigla PwC, a PriceWaterhouseCoopers nasceu da fusão de duas empresas de auditoria, a mais antiga delas a Price, criada em Londres em 1849. Hoje está presente em 152 países, com cerca de 327 mil funcionários.
A empresa chegou ao Brasil em 1915 e hoje conta com cerca de 4 mil profissionais, distribuídos em 15 escritórios. A PwC ficou marcada por ser a auditoria que aprovou os últimos demonstrativos da Americanas, e já havia enfrentado acusações de erros junto a outras empresas, como a Petrobras e a JBS.
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