Os ministros Anielle Franco (Igualdade Racial) e Carlos Lupi (Previdência) participaram nesta terça-feira (26) de sua primeira reunião como conselheiros da Tupy ($TUPY3), um mês após sua indicação.
A decisão de indicar políticos como conselheiros de empresas é considerada por analistas em governança como uma indicação de que o governo Lula pretende ampliar sua influência no setor produtivo por meio de indicações a cargos em empresas nas quais a União ou o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) detém parte relevante das ações a ponto de ter direito a representação no Conselho.
No caso da Tupy, o BNDESPar, braço de participações ligado ao BNDES, tem posse de 28,2% das ações. Analistas apontam que a mudança faz parte de uma estratégia do governo Lula em ter voz mais ativa nas empresas em que é acionista.
A diretora da área de mercado de capitais e finanças sustentáveis do BNDES, Natália Dias, disse ao jornal Valor Econômico que o banco deverá fazer novas mudanças nos conselhos de administração a fim de “maximizar” a participação nas companhias nas quais é sócio, e que o banco de fomente bisca indicar “conselheiros que representem o interesse dos acionistas”.
A lista é grande e contém nomes relevantes, desde estatais ainda controladas pelo governo, como Petrobras ($PETR4) e Banco do Brasil ($BBAS3), até empresas privadas, como JBS ($JBSS3) e Tupy, além de ex-estatais como Vale ($VALE3), Eletrobras ($ELET6) e Embraer ($EMBR3), e empresas públicas de capital aberto, como a Cemig ($CMIG4) e a Copel ($CPLE6), concessionárias de energia sob controle dos estados de Minas Gerais e Paraná, respectivamente.
Ao justificar as indicações para o conselho da Tupy mesmo sem conhecido na área de metalurgia, o BNDES disse que Anielle tem “reconhecida liderança da sociedade civil nas temáticas da igualdade racial e de gênero, possui capacitação aderente à política de indicação do BNDES em colegiados, tendo dois mestrados e tendo sido conselheira de organizações da sociedade civil”, enquanto Lupi teria “experiência administrativa no setor público, com passagens por cargos executivos e de conselhos de instituições”.
Políticos como conselheiros: o que pensa o mercado
Para especialistas, a medida é sinal de um modelo de Estado mais intervencionista defendido por Lula e pelo PT, que considera a atuação de grandes empresas como estratégica para impulsionar a economia
A Petrobras, por exemplo, maior empresa brasileira e sob controle da União, principal acionista, sempre foi vista pelos governos petistas como indutora de crescimento econômico, o que teve como resultado um forte endividamento pela empresa.
O BNDES, sob a presidência do ex-senador e ex-ministro Aloizio Mercadante, tem direito a indicar integrantes para 34 vagas em conselhos de administração de 27 companhias do portfólio da BNDESPar. Em abril, o banco de fomento aprovou uma nova política de indicação para os colegiados das empresas participadas, com o objetivo de fortalecer sua participação e seus interesses na atuação dessas empresas.
De modo geral, especialistas em governança temem retrocesso, depois de avanços obtidos, nos últimos anos, com a Lei das Estatais, que agora tem parte do arcabouço legal questionado no Supremo Tribunal Federal (STF). Para eles, a presença de políticos como conselheiros de empresas, sem conhecimento técnico relacionado ao setor de atuação, pode acabar por reduzir o valor de mercado e a produtividade, impactando diretamente nas próprias receitas do governo, como acionista das companhias.