Os números recentes apresentados pelas companhias de aviação, dentro e fora do Brasil, acendem uma dúvida nos investidores interessados em ações do setor aéreo: mesmo com o preço dos ativos bastante descontados, vale a pena investir nesses papéis? A recomendação dos especialistas é agir com cautela.
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O setor apresentou uma recuperação sazonal recente, com aquecimento de demanda e resultados crescentes nos balanços do quarto trimestre de 2022, mas insuficientes para reverter totalmente o quadro muito ruim dos últimos três.
A Azul (AZUL4) registrou lucro líquido de R$ 231,2 milhões no 4TRI22, resultado muito superior ao mesmo período em 2021, quando teve prejuízo de R$ 945,7 milhões. Mas, no acumulado do ano, 2022 foi mais uma temporada no vermelho, com prejuízo de R$ 1,379 bilhões – em 2021, o rombo foi maior, de R$ 4,767 bilhões.
A Gol (GOLL4) apresentou lucro líquido preliminar de R$ 230,9 milhões no quarto trimestre de 2022, também um crescimento em relação ao prejuízo de R$ 2,8 bilhões obtido no mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano, porém, o prejuízo ficou em R$ 1,561 bilhão – em 2021, o número foi ainda pior, de R$ 7,221 bilhões.
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Mas os números sazonais são apenas uma parte do problema. O prejuízo acumulado desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020, que derrubou a demanda por passagens em quase 95%, dilapidou o patrimônio das duas empresas.
Hoje, a Azul tem patrimônio líquido negativo de cerca de R$ 19 bilhões, enquanto na Gol esse número chega a US$ 21,4 bilhões. A dívida líquida da Azul está em cerca de R$ 18,8 bilhões, enquanto a da Gol ultrapassa a casa de R$ 26,2 bilhões.
A Latam, que concentra a maior parte do mercado nacional junto com Gol e Azul, vive um momento de retomada após um pedido de recuperação judicial e hoje apresenta patrimônio líquido positivo de cerca de US$ 30 milhões. Mas a crise tirou a empresa da listagem na Bolsa de Nova York.
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Ações do setor aéreo: complexidade e fragilidade
O head da EQI Research, Luis Fernando Moran, aponta que a aviação é um setor extremamente complexo, já que as empresas precisam lidar o tempo todo com sazonalidades, como os períodos de temporada de férias.
“É uma demanda muito cíclica e sazonal e com custos também bastante cíclicos. Ao mesmo tempo, é um setor que tem um aspecto importante para a segurança nacional e, por isso, é normal ver forte regulação e o envolvimento direto ou indireto de governos. Tudo isso torna o setor muito complexo e exposto a riscos macroeconômicos e geopolíticos. Mesmo em condições normais, é um setor extremamente difícil”, afirma o especialista.
A pandemia e a tentativa de recuperação num período de inflação em alta acrescentaram novos elementos a essa equação, completa Moran. “Temos um setor fragilizado pela pandemia e que, ao seu final, enfrentou alta de preços de combustíveis e elevação de juros promovida pelos bancos centrais para combater a inflação. É uma combinação muito difícil”, explica o head da EQI Research.
Vale lembrar ainda que os preços dos combustíveis enfrentaram outro fator de alta: a invasão da Ucrânia pela Rússia, que prejudicou as cadeias logísticas e a oferta de petróleo e derivados. E que boa parte das despesas das empresas, como combustível e aluguel de aeronaves, são em dólar, o outro fator complicador num cenário de câmbio com real desvalorizado frente à moeda norte-americana.
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Ações do setor aéreo: como andam as cotações
Embora as ações das companhias aéreas brasileiras listadas na B3 tenham despencado no início da pandemia, a verdade é que os preços já eram menores do que no auge do desempenho da economia brasileira, e ainda houve períodos de recuperação, seguidos de novas quedas, geralmente atreladas às apresentações de resultados.
As ações da Azul (AZUL4) estavam perto de seu pico em março de 2020, acima dos R$ 55, quando caíram mais de 80% após o decreto da pandemia. Depois disso, em junho de 2021, no início da retomada econômica, os papéis chegaram perto dos R$ 45, mas voltaram a despencar e hoje estáo no patamar dos R$ 11.
Nos papéis da empresa negociados na Bolsa de Nova York (NYSE), com o ticker AZUL, o cenário é similar, embora os papéis venham acumulando valorização mais constante desde o início deste ano.
Já os papéis da GOL (GOLL4) chegaram ao auge perto de R$ 100 em 2006, despencaram com a crise de 2008 e voltaram a se valorizar nos anos seguintes. Em 2019, eram negociados acima dos R$ 50 quando voltaram a cair. Em março de 2020, perderam quase 75% do valor em questão de dias.
Houve alguns picos de recuperação em 2021, mas no geral o movimento foi de queda constante até os valores próximos aos atuais, em torno de R$ 6,40. Em Nova York, o cenário é semelhante.
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Ações do setor aéreo: empresas tentam recuperação
As duas empresas têm buscado alternativas para recomposição das dívidas e retomada do patrimônio. Follow-ons, ou seja, criação de novas ações em busca de abertura de capital, estão sendo avaliados como alternativas junto a bancos de investimentos, enquanto outras ações são adotadas.
A Gol fechou em 3 de março um acordo de investimento de R$ 1,4 bilhão bancado pela holding Abra (criada pelos acionistas da empresa e da Avianca) e com alongamento de pagamentos para 2028. Já a Azul anunciou em 6 de março que chegou a um acordo com credores que representam mais de 90% do seu passivo de arrendamento de aeronaves e 80% da dívida bruta, mas não divulgou termos e valores.
Conversas sobre uma possível fusão das duas empresas, ou de uma delas com a Latam, que tem sua sede financeira no Chile, chegaram a ser cogitadas nos bastidores por analistas, mas não devem ir adiante. A Azul tentou adquirir a operação brasileira da Latam em 2021 durante o processo de recuperação judicial, mas o negócio não andou.
Para Luís Fernando Moran, head da EQI Research, o investidor deve, basicamente, procurar outro setor para aportar seus recursos. “A tendência é que as ações fiquem muito voláteis, respondendo rapidamente a qualquer notícia positiva ou negativa, pois o impacto sobre a dívida (e o preço das ações) é grande. É muito difícil investir em um setor assim e mesmo o investidor mais agressivo terá dificuldades. Não recomendamos nenhuma das ações do setor”, conclui.
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Ações do setor aéreo: a situação no exterior
Lá fora, o cenário parece mais promissor. A Ryanair, maior companhia aérea low cost da Europa, voltou a apresentar lucro no 4TRI22, enquanto a American Airlines (AAL) teve receita recorde no período e, segundo seu CEO, Robert Isom, “sobreviver à pandemia tornou a companhia mais eficiente”.
A Virgin Australia (VAH), que chegou a abrir falência em 2020, voltou a atuar sob o controle da Bain Capital e, com bons resultados recentes, cogita até mesmo reabrir seu capital na Bolsa de Sydney ainda este ano.
A reabertura da China, o maior mercado de partida de viagens antes da pandemia, deve provocar uma nova onda de bons resultados. A Associação Internacional de Transportes Aéreos cogita lucros acumulados de US$ 4,7 bilhões para o setor em 2023 – em 2019, esse número foi de US$ 26,4 bilhões.
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Mas o cenário de bonança não é universal. Só neste mês, a norueguesa Flyr AS (FLYR) entrou com pedido de falência e a britânica low cost Flybe encerrou suas operações.
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