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Luiz Barsi usa informação privilegiada?

Luiz Barsi usa informação privilegiada?

O investidor Luiz Barsi Filho e sua filha Louise são acusados de uma recomendação de investimento no IRB Brasil (IRBR3) com uso de informação privilegiada – prática chama de insider trading – que acarretou um prejuízo de R$ 15,9 milhões. As informações são do site NeoFeed.

O veículo teve acesso a uma série de documentos, trocas de mensagens e notificações extrajudiciais que envolvem Luiz Barsi, referência mundo dos investimentos com um patrimônio avaliado em R$ 4 bilhões. Maurício Ferrentini, que acusa a família, é filho de um grande amigo de Luiz Barsi.

Luiz Barsi é acusado de insider trading: entenda o caso

Em abril de 2021, Ferrentini procurou Luiz Barsi em busca de uma indicação de investimento, com R$ 21 milhões disponíveis para aportes. Ele queria sugestões para seguir a estratégia de dividendos de Barsi e garantir uma renda passiva mensal de, aproximadamente, R$ 150 mil, segundo o site.

Barsi teria recomendado o investimento no IRB, uma resseguradora que estava passando por um processo de transformação após a gestora Squadra questionar uma série de inconsistências no balanço da companhia. O investimento inicial de Ferrentini teria sido de R$ 15,9 milhões a preço de mercado em IRBR3 em abril de 2021 – cerca de 80% de seu patrimônio no momento. 

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Naquela época, o papel da empresa já acumulava uma desvalorização de quase 25% no ano. Ferrentini entendeu que a estratégia era para o longo prazo, mas, no início de 2022, a ação voltou a cair expressivamente.

Barsi, segundo fontes, tranquilizou o investidor dizendo que a empresa ainda estava em processo de ajuste e que ele mesmo estava comprando mais ações. O mais velho detém 1,24 milhão de ações do IRB em carteira, o que equivale a 1,5% do total emitido.

Em 26 de outubro de 2022, o valor em carteira das ações de IRB de Ferrentini era de R$ 1,75 milhão. Barsi teria admitido que colocou o amigo em uma situação “complicada” e eles teriam acertado uma espécie de “devolução do dinheiro”.

A proposta de Barsi era de um empréstimo mútuo. Ferrentini preferia uma doação, mesmo tendo de pagar o imposto sobre o valor recebido.

Em 15 de março deste ano, Barsi teria enviado uma mensagem para que ele vendesse as ações de IRB. Ferrentini recebeu R$ 1,54 milhão com a operação. Desde o dia em que vendeu as ações, no entanto, o IRB acumula valorização de mais de 140%.

Em 28 de março deste ano, Barsi assinou um contrato de empréstimo financeiro no valor de R$ 5,9 milhões. Como garantia desse crédito, Ferrentini colocou um apartamento duplex no bairro Jardim Paulista, em São Paulo.

O imóvel dado como garantia tornou-se o novo ponto de tensão na relação, com o apartamento alienado e a garantia não substituída no contrato. Neste momento, Luiz Barsi pede o pagamento do valor em dinheiro, acrescido da inflação até outubro – pouco mais de R$ 6 milhões.

Por meio de uma notificação extrajudicial, Ferrentini afirma ter sofrido prejuízos irreparáveis com a desvalorização do papel e cobra uma “devolução do dinheiro investido atualizado, acrescido de honorários advocatícios, no montante total de R$ 25.778.088,99”.

Em réplica, o clã Barsi alega estar sendo alvo de “chantagem ao condicionar o depósito dos valores (descabidos) sob pena de exposição pública da família”.

Em um documento extrajudicial que o site NeoFeed teve acesso, Ferrentini diz que tomou a decisão de investir no IRB por recomendação de Barsi, que era próximo do então CEO da resseguradora, Antonio Cassio dos Santos, e de Louise, que teria informações privilegiadas da empresa por ser do conselho fiscal da companhia.

Em 2022, Louise tentou uma vaga no conselho de administração e não alcançou os votos necessários. Em outubro deste ano, ela tentou novamente, mas sem sucesso. O eleito para a cadeira de conselheiro independente foi Antonio Cassio, o ex-CEO da empresa.

Em julho de 2022, Louise foi escolhida como parte do comitê de auditoria estatutária, que tem a função de auxiliar o conselho de administração nas funções de auditoria e fiscalização.

No documento com o pedido de indenização aos Barsi, Ferrentini também questiona a participação da Boa Vista Assessoria de Investimentos, que seria o veículo utilizado para executar todas as recomendações feitas por Luiz Barsi.

Em 21 de novembro deste ano, Ferrentini protocolou na CVM um documento pedindo apuração sobre o caso pelas “supostas infrações administrativas cometidas por Luiz Barsi Filho, Louise Barsi e João Sarmento Pimentel Malta, por meio da corretora Boa Vista Investimentos, especialmente diante de comportamentos considerados antiéticos”.

Ele diz que “Luiz Barsi, João Malta e Louise Barsi, por meio da corretora Boa Vista Investimentos, em tese, caso tenham se utilizado de informações privilegiadas e sigilosas para obtenção de vantagem com as ações da IRB Brasil, podem ter praticado, além da manipulação de mercado e do insider trading, também, o ato ilegal de front running”.

Além da CVM, esse mesmo documento foi entregue para o Ministério Público Federal em 22 de novembro.

O que diz a família

A assessoria da família Barsi encaminhou a seguinte nota ao NeoFeed. Veja: 

“Em relação aos vossos questionamentos, Luiz Barsi Filho esclarece que: Barsi é notoriamente conhecido no mercado financeiro como um dos maiores e mais antigos investidores pessoa física da bolsa de valores brasileira B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão (“B3”), com vasta experiência no mercado de investimentos, em especial em negócios de longo prazo, reconhecido por sua competência e idoneidade; sempre consciente de que o mercado de valores mobiliários é um mercado de renda oscilável, portanto sujeito a diversas variáveis, de ordem econômica, políticas, sociais, endêmicas, dentre outros múltiplos fatores.

“Barsi não possui vínculos societários com a Boa Vista Investimentos, escritório de Agente Autônomos de Investimentos. Barsi é um cliente da Boa Vista, como qualquer outro. Luiz Barsi Filho não administra carteiras de terceiros, a não ser a sua própria, e não atua como assessor de investimentos.

“Barsi já divulgou diversas vezes sua crença no potencial reestabelecimento do IRB, informando que manterá sua participação relevante, por acreditar ser um investimento de longo prazo, conhecido no mercado como “buy and hold”. O posicionamento de Barsi é público, conforme amplamente veiculado pela mídia nacional. Todas as informações veiculadas sobre Barsi em diversas entrevistas são fornecidas com base em seu conhecimento e experiência pessoal no mercado de ações, nunca com o intuito de prometer resultados específicos ou fazer declarações enganosas para induzir qualquer investidor, incluindo Maurício Ferrentini, a tomar decisões financeiras. As pessoas se espelham em Barsi, tal como se espelham em qualquer investidor de tamanha notoriedade. E ninguém pode ser punido por ser modelo de um sucesso notório.

“Maurício Ferrentini é um investidor profissional. Como é sabido, investidores profissionais gozam de certos direitos e obrigações. Investidores profissionais têm acesso a uma gama mais ampla de produtos e investimentos no mercado financeiro. Cada investidor profissional é responsável por suas próprias decisões. É importante destacar que essa classificação como investidor profissional tem o propósito de reconhecer a experiência e a capacidade financeira dos investidores e, consequentemente, permitir que eles tenham maior flexibilidade no mercado de capitais, assim como maiores autorresponsabilidades.

“Importante frisar que, como o próprio Ferrentini aduziu, havia entre ele e Barsi um vínculo afetivo oriundo de suas famílias. O próprio Barsi já revelou, em sua autobiografia, a amizade com o pai de Ferrentini, já falecido.

“Vale destacar que Louise atua como membro do comitê de assessoramento do Conselho do IRB-RE (comitê de auditoria) empossada em julho de 2022 (ou seja, um ano depois que Barsi investiu na Companhia).”

Caso Unipar

Luiz Barsi Filho também responde a um processo administrativo na CVM para apurar as responsabilidades pelo uso de informações privilegiadas da Unipar Carbocloro (UNIP6) antes da divulgação do fato relevante de junho de 2021.

A investigação se refere a uma possível informação privilegiada em junho de 2021, antes de a empresa publicar um fato relevante em que confirmava que havia assinado, com a Compass Minerals, um “acordo de confidencialidade e outras avenças” com intuito de analisar informações para uma possível operação.

O documento foi divulgado ao mercado depois que uma reportagem do Valor dizia que a petroquímica pretendia comprar uma fábrica de cloro-soda da Compass por R$ 300 milhões.

Em nota enviada à imprensa, Barsi afirma que as operações questionadas ocorreram fora do período de silêncio e, portanto, são lícitas, de acordo com as normas da CVM. Ele disse ainda que as operações investigadas se referem a valores irrelevantes tanto em relação à sua participação na empresa quanto ao volume diário de operações.

O que é insider trading?

O insider trading consiste no aproveitamento de informações privilegiadas para levar vantagem em negociações no mercado financeiro. Essa ação é considerada um crime financeiro, que pode resultar em pena de prisão de até cinco anos, além de multa de até três vezes o valor obtido pela vantagem ilícita.

As negociações são fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários, a CVM, responsável pela investigação desses casos. Há várias possibilidades de insider trading, que podem acontecer dentro de empresas, bancos, corretoras e do poder público.

No caso das empresas listadas na B3 ($B3SA3), por exemplo, as ações podem oscilar a partir dos resultados dos balanços do terceiro trimestre. Uma pessoa que saiba antes da hora de um eventual prejuízo, por exemplo, e comece a vender suas ações antes da hora, em um movimento considerado incomum pela CVM, pode ser investigada por insider trading.

Informações sobre compra e venda de ativos, mudanças em política de preços e outras ações também podem impactar no preço dos papéis e resultar em investigação por informação privilegiada. É por isso que as empresas realizam comunicados ao mercado e fatos relevantes: para que todos os investidores fiquem sabendo ao mesmo tempo das informações antes de tomar suas decisões de compra e venda.