A semana e o mês começam com um alerta de Marink Martins, analista da EQI Research: “cuidado com o drible da vaca”.
A expressão — típica do futebol e escolhida por ele em clima de pós-Libertadores após o título do Flamengo — serve como metáfora para movimentos de mercado que enganam o investidor: a bola vai para um lado, o jogador corre para o outro e recupera o controle. Para Marink, o mercado global já vivenciou um desses “dribles” recentemente, especialmente no episódio envolvendo o Japão.
Marink destaca que a Bolsa brasileira chegou a ensaiar um forte rali com a onda de anúncios de dividendos de grandes companhias — Vale (VALE3), Itaú (ITUB4) e Axia Energia (AXIA6), etc.
“Isso é transformação de energia potencial em cinética se materializando. Eu canto isso há um tempão”, afirma.
No entanto, a Petrobras exerceu peso relevante no índice, evitando que o movimento se amplificasse:
“A bolsa ficou positiva em meio a uma Petrobras pesada. Se o preço do petróleo tivesse mais forte, a alta teria sido maior.”
Japão: a peça-chave para entender o mercado global
Nenhum tema global, segundo Marink, importa tanto hoje quanto o Japão. Ele lembra o 5 de agosto de 2024, que classifica como o “dia mais importante do ano”. Naquele dia, diante da expectativa de alta de juros no país, o mercado global abriu em pânico — mas o aperto não veio.
O resultado foi um “drible da vaca” clássico: emergentes, inclusive o Brasil, viraram e iniciaram um mês de forte valorização.
E é justamente o movimento do iene que ele considera a variável central do semestre.
Segundo Marink, a primeira coisa que faz ao começar o dia é observar a cotação da moeda japonesa frente ao dólar.
“É a primeira variável que olho ao acordar. Agora o iene está perto de US$ 0,0070. Daqui a pouco é 0,0070 cravado, depois 0,0069.”
Para ele, um iene mais forte não representa risco automático aos emergentes — ao contrário.
Esse movimento, diz, pode impulsionar a busca por ativos de valor ao redor do mundo, repetindo o fenômeno de 2024.
Caso essa tendência se confirme, o Ibovespa poderia alcançar 180 mil pontos sem necessariamente estar “caro”, considerando o lucro estimado de R$ 550 bilhões para o índice em 2026.
Petróleo no centro das atenções — e seu impacto direto na Petrobras
Marink também chama atenção para a escalada recente dos preços do petróleo, que operam em alta nesta segunda-feira após nova sinalização da OPEP+. O analista alerta, porém, contra a confiança excessiva em posições vendidas na commodity.
“É muito arriscado brincar de short em petróleo. O preço está no chão. E, se o Brent for para US$ 70, a Bolsa brasileira vai celebrar.”
Esse ponto é crucial para o investidor brasileiro: com a Petrobras carregando peso no Ibovespa, o comportamento da commodity pode determinar se o mercado local rompe ou não patamares de alta nas próximas semanas.
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Dividendos: ápice e mudança de ciclo
Embora o tema dividendo esteja em evidência — e de fato tenha impulsionado o mercado na semana passada —, Marink pondera que o ciclo está próximo de mudar.
“A festa do dividendo está vivendo seu ápice, mas é também o começo do tchau. A forma de investir no Brasil vai mudar muito.”
Ele afirma que o investidor brasileiro ainda olha a Bolsa com mentalidade de renda fixa e que esse paradigma precisará se ajustar à nova fase da economia.
Mudança de narrativa no Copom deve acionar fluxo para a Bolsa
Por fim, Marink destaca uma terceira narrativa importante para dezembro: a guinada esperada no discurso do Copom.
Segundo ele, a sinalização de que a taxa de juros cairá mais rápido — possivelmente já na reunião deste mês — tende a atrair um novo contingente de investidores para a renda variável.
“O brasileiro só compra Bolsa quando lê no jornal que o juro mensal caiu abaixo de 1%. Aqui na EQI, você já ouve há muito tempo: é para comprar Bolsa Brasil.”





