Em 44 anos, a participação dos produtos industrializados na pauta de exportação brasileira registrou em 2020 o pior resultado.
O motivo, de acordo com o levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), é a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19.
Ele mostra que esse índice foi 43% em 2020, o menor desde 1977 – onde foi 41%.
O resultado do ano passado ficou 8,6 pontos percentuais abaixo da média registrada na última década.
Os números mostram que, na média, os produtos industrializados representaram 51,6% da pauta de exportação entre 2010 a 2019.
Na década de 2000, esse percentual era próximo a 70%.
No levantamento, os industrializados incluem tanto produtos manufaturados quanto semimanufaturados.
“É um resultado muito preocupante para a indústria. A perda de agregação de valor na pauta de exportação nessa magnitude preocupa e reflete, claramente, a desindustrialização que vive o Brasil. Esse movimento vem em ocorrendo há mais de uma década e se acelerou nos últimos anos, sobretudo em 2020”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.
A exportação em valores
Em valores, a exportação de industrializados foi de US$ 90,1 bilhões em 2020.
O valor representa uma redução de US$ 16,2 bilhões ou 15,3% na comparação com o resultado de 2019.
E também o pior resultado desde 2009, ano da crise causada pela bolha imobiliária nos Estados Unidos.
Naquele ano, as vendas de industrializados ao exterior totalizaram US$ 87,8 bilhões.
Por outro lado, mesmo com a crise, a participação de produtos básicos na exportação subiu de 53% em 2019 para 57% em 2020.
Em valores, ela passou de U$$ 119,0 bilhões para US$ 119,7 bilhões.
Emprego e massa salarial
O diretor ressalta que esse processo de desindustrialização atinge a atividade econômica como um todo e o dia a dia das pessoas, provocando o encolhimento do mercado de trabalho e da massa salarial.
Para se ter ideia, dados do IBGE e do governo compilados pela CNI mostram que cada R$ 1 bilhão em exportação da indústria por ano contribui para a sustentação de 36.004 empregos e tem um impacto de R$ 4,4 bilhões sobre a economia brasileira (direto, indireto e sobre a renda).
Na agricultura, esse mesmo R$ 1 bilhão em exportação por ano sustenta 28.136 empregos e gera R$ 2,3 bilhões para a economia.
Na mineração, esses números são de 21.556 empregos e R$ 3,4 bilhões de impacto sobre a economia.
Custo Brasil e ajuste na política comercial
De acordo com a CNI, para ampliar a inserção internacional das empresas e produtos brasileiros, sobretudo industrializados, o Brasil precisa urgentemente resolver problemas de duas ordens.
De um lado, as questões estruturais que atrasam o progresso do Brasil, desindustrializam a economia, inibem a criação de empregos e, consequentemente, reduzem de forma acelerada a competitividade internacional.
De outro, os desafios específicos da falta de uma política de comércio exterior.
Dentro de casa, o Brasil precisa, por exemplo, avançar nas reformas estruturais, como a tributária, e reduzir os demais itens do Custo Brasil.
A agenda de comércio exterior envolve desde a melhoria de sua governança, passando pela desoneração da tributação e da melhoria do financiamento, até a abertura comercial por meio de acordos e da redução de barreiras aos nossos produtos em terceiros mercados.
O Brasil também deve fortalecer o sistema de defesa comercial para combater as práticas desleais de comércio, principalmente o dumping e o uso de subsídios em outros países que distorcem a concorrência dentro do Brasil, e avançar na agenda de integração com os seus principais mercados estratégicos.
Principais produtos
Os resultados do levantamento da CNI mostram que a queda é disseminada entre os produtos. Dos 20 principais produtos industrializados mais exportados pelo país, 13 registraram queda na venda ao exterior em 2020 na comparação com o ano anterior.
O mesmo número de queda de produtos se viu na última década.
As reduções mais importantes tanto no último ano quanto na última década foram os seguintes produtos:
Máquinas e aparelhos para terraplanagem: -40,2% (2020/2019) / -37,33% (2011/2020)
Aviões: -37,9% (2020/2019) / -47,3% (2011/2020)
Automóveis de passageiros: -29% (2020/2019) / -38% (2011/2020)
Partes e peças para automóveis: -27,9% (2020/2019) / -67,6% (2011/2020)
Ferro e aço: -22,8% (2020/2019) / -30,3% (2011/2020)
Entre os produtos industriais que tiveram alta, os mais relevantes foram os relacionados a produtos naturais:
Celulose: -19,9% (2020/2019) / +20% (2011/2020)
Óleos combustíveis: +0,4% (2020/2019) / +20,5% (2011/2020)
Em contrapartida, na mesma base de comparação, dos 10 produtos básicos mais exportados, sete registraram alta em 2020 na comparação com 2019.
Na década, nove registraram alta. As altas mais importantes foram:
Algodão em bruto: +22,2% (2020/2019) / +103,3% (2011/2019)
Soja tributada: +9,5% (2020/2019) / +75% (2011/2019)
Carne bovina congelada ou fresca: +13,8% (2020/2019) / +79% (2011/2019)
Exportações por estado
Entre os dez maiores estados exportadores no Brasil, nove deles registraram queda nas exportações de produtos industrializados em 2020 em relação a 2019.
Na década, oito registraram redução nas vendas ao exterior.
Em termos de valores, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul foram os que mais perderam exportações de bens industrializados na década.
As reduções foram de US$ 18,5 bilhões, US$ 4,8 bilhões, US$ 3,7 bilhões e US$ 3,4 bilhões, respectivamente.