Na última quinta-feira (13), a notícia de que havia sido detectado o vírus da Covid-19 em um lote de frango brasileiro exportado para a China abalou o setor exportador.
A publicação feita pelo governo de Shenzhen, cidade localizada no sul da China, foi divulgada pela Agência Reuters e teve repercussão mundial.
Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a notícia foi recebida com desconfiança pelo setor, que acredita existirem interesses políticos e comerciais por trás da divulgação.
Até o momento, não há previsão de que a China deva anunciar embargo à carne de frango brasileira, já que somos seu principal fornecedor de proteína animal. Mas, o produto nacional já se sente prejudicado pelo caso.
As Filipinas anunciaram na sexta-feira (14) suspensão temporária do recebimento de carne do Brasil, que constitui cerca de 20% da proteína do país.
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Contaminação do frango brasileiro
O Estadão perguntou ao consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Marcelo Otsuka sobre a possibilidade de contaminação do frango brasileiro.
O especialista disse que as chances do alimento exportado ter sido entregue contaminado de fato são baixas, principalmente por se tratar de um alimento industrializado.
“A questão da presença do vírus é muito questionável, porque seria preciso que ele se mantivesse viável por 40 dias, considerando o período em que saiu do Brasil até chegar na China. O mais provável é que a presença do vírus tenha se dado pela manipulação do produto lá”, comentou.
O que está sendo colocado em questão pela China, no entanto, não é a presença do vírus, mas o material genético contido nele.
“Há uma diferença aí. É um rastro, significa que o vírus esteve lá. Pode inclusive ser o material genético de um vírus morto. Mesmo que estivesse vivo, não sei se haveria uma quantidade suficiente para causar uma infecção”, inteirou o especialista.
O que dizem as fontes do setor
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, o Brasil deve sofrer ainda mais prejuízos nos próximos dias com a repercussão do caso.
Segundo ele, a influência da China é muito alta, pois os principais compradores de frango brasileiro estão na Ásia e no Oriente Médio.
A exportação do produto havia ganhado alta de 11% nos primeiros sete meses de 2020 referente ao mesmo período do ano passado.
Castro acredita que o Brasil pode estar sendo usado pela China para fazer um aceno aos Estados Unidos, uma vez que a relação entre as duas potências está abalada.
“A China quis cutucar o Brasil para preservar os Estados Unidos, em um momento difícil da relação. Estão fazendo a política de boa vizinhança, com fundo comercial”, disse o presidente.
Na opinião dele, o Brasil está errando ao manter uma postura “passiva” em relação à China e que é importante que o país defenda seus interesses comerciais com mais força.
Quem também comentou o assunto foi o presidente do conselho da BRF, Pedro Parente, durante evento em São Paulo na última quinta-feira (13).
Ele disse que, embora seja esperado que o Brasil conserve “excelentes relações” com seu principal cliente de proteína animal, a notícia sobre o frango brasileiro “tem uma conotação comercial” e merece uma resposta firme.
“Sabemos é que, por uma questão de reincidência de covid-19 na China, era necessário encontrar (…) uma desculpa para explicar um fato sem que ele fosse de responsabilidade interna”, comentou Parente.
Já a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, declarou que “o Brasil vai reagir. Não podemos misturar uma situação comercial com uma notícia que não tem confirmação. Um assunto comercial não se mistura com a pandemia”, declarou.
A pretensão do governo, até o momento, é se posicionar frente ao mercado com a reação à ação das Filipinas.
Brasil vai à OMC por decisão das Filipinas de suspender compra de frango
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) ressaltou na sexta-feira (14) que a suspensão das Filipinas sobre o frango brasileiro não segue nenhum critério técnico ou sanitário.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) descarta a transmissão de covid-19 a partir de alimentos ou embalagens de alimentos congelados.
Com base nisso, o governo brasileiro vai acionar a OMC (Organização Mundial do Comércio) para contestar a ação das Filipinas de suspender a importação de frango brasileiro.
