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Lula vai à China amanhã: o que está em jogo para o Brasil?

Lula vai à China amanhã: o que está em jogo para o Brasil?

A Rússia e a China são parceiros comerciais de longa data. Ambos fazem parte dos Brics – que inclui também o Brasil, a Índia e África do Sul. Porém, desde o começo da guerra da Ucrânia, no ano passado, os chineses sempre mantiveram uma posição considerada pouco transparente, ao passo que outras nações desenvolvidas condenaram desde o princípio a invasão russa.

Porém, o governo de Pequim tentava se manter à margem dos acontecimentos. Pelo menos até semana passada, quando o líder do país, Xi Jinping, foi a Moscou visitar seu colega russo, Vladmir Putin, em uma demonstração que foi lida pelos analistas internacionais como uma posição clara do governo chinês: estar ao lado dos russos. Desde então, essa parceria tem se aprofundado.

No fim do mês passado, Xi e Putin assinaram acordos para ampliar a cooperação estratégica entre os dois países até 2030, o que inclui mais venda de petróleo dos russos para os chineses e um possível avanço do gasoduto Sibéria 2, que irá abastecer a China com gás natural dos parceiros.

Diante desse episódio, como fica o Brasil, uma vez que os dois países são considerados parceiros comerciais considerados relevantes?

Rússia e China: o contexto internacional

Antes de avançar, é preciso entender o contexto do papel chinês na guerra da Ucrânia e na geopolítica internacional, onde cada vez mais assume um papel de relevância.

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Hoje em dia a China é considerado um país que está perto de se tornar a grande potência mundial. A guerra comercial com os Estados Unidos – que hoje é a principal potência econômica do planeta – é prova disso.

A China, por seu tamanho geográfico e pelo avanço exponencial de sua economia nos últimos anos, tem uma grande demanda por commodities. Em janeiro, a Agência Internacional de Energia (AIE) previu que os chineses deverão elevar seu consumo petrolífero para 15,9 milhões de barris por dia. Essa expansão chinesa dá impulso ao próprio consumo mundial de petróleo.

Xi jinping, à esquerda, um homem asiático, anda ao lado de Vladimir Putin, à direita, um homem causasiano
Visita de Xi Jinping a Moscou. Divulgação: governo chinês

Já a Rússia é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e derivados e anunciou um corte na produção de 500 mil barris/dia até junho em concomitância com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Até o ano passado, países da Europa ocidental exportavam perto de 80% de seu consumo de gás natural da Rússia, a ponto de ter um novo projeto de gasoduto, o Nordstream 2, passando pelo Mar do Norte e chegando à Alemanha.

Porém, com a guerra na Ucrânia e as sanções impostas pelos Estados Unidos e aliados europeus, os russos começaram a ter restrições na venda de suas commodities para o exterior.

Ao mesmo tempo, a China não endossou de forma assertiva as sanções contra a Rússia e tenta agora costurar um acordo de paz que incluiria a manutenção de partes do território da Ucrânia sob controle russo e não deixa claro se a Rússia deva sair do território ucraniana. O governo de Kiev exige a total retirada das tropas russas para que o processo de paz avance.

Enquanto a China é um dos principais consumidores energéticos e de commodities do mundo, por outro lado a Rússia é um dos maiores fornecedores mundiais de insumos agrícolas, especialmente fertilizantes. E o Brasil está bem no meio desse “fogo cruzado”.

E como fica o Brasil?

O Brasil tem, tanto com a Rússia quanto com a China, parcerias econômicas consideradas fundamentais. E desde o começo da guerra o país tem tentado manter-se neutro, mesmo com as pressões internacionais por apoio diplomático à Ucrânia.

No ano passado, o então presidente Jair Bolsonaro evitou condenar diretamente a invasão russa. Seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que embarca para a China amanhã (11), promete tocar no tema guerra com Xi Jiping e já pediu à China para ser “mediadora da paz”.

Brasil e China

Além disso, há a possibilidade de o Brasil aderir ao plano “Belt & Road”, do governo chinês, durante a ida do presidente Lula a Pequim.

Trata-se de um acordo para investimentos globais na área de infraestrutura e os chineses tentam incluir o Brasil no plano há uma década. Ao jornal Valor Econômico, o chefe da Assessoria Especial da Presidência da República e ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que “não vê razões” para o país não aderir ao pacto.

Fora da macroeconomia, a China é também uma parceira para empresas brasileiras, como a Vale (VALE3), que tem no país asiático um de seus principais clientes na venda de minério de ferro; além de companhias do setor de alimentação, notadamente ao frigoríficos como JBS (JBSS3), Minerva (BEEF3) e BRF (BRFS3), que vendem carne para o país.

No ano passado, foram vendidas 2,2 milhões de toneladas de carne para a China, movimentando US$ 10,4 bilhões em exportação, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.

E não é apenas no setor das commodities. A China também ganhou relevância para o Brasil do lado energético. No começo de março, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, recebeu representantes do grupo chinês State Grid, considerado o maior player mundial no setor de transmissão de energia elétrica, para discutir sobre o plano de investimentos da empresa no Brasil.

“Conversamos com os representantes do State Grid, sobre o plano de investimentos das empresas do grupo no nosso país para os próximos anos, alinhado a uma pauta de desenvolvimento econômico e de segurança energética, bem como uma forte visão socioambiental”, afirmou o ministro na ocasião.

Entre outros assuntos destacados estavam a busca de soluções mais modernas e eficazes na área de segurança de linhas e torres de transmissão, incluindo o monitoramento destes equipamentos e a parceria entre China e Brasil para o desenvolvimento do setor elétrico nacional.

Brasil e Rússia

Com relação aos russos, o Brasil mantém uma forte parceria comercial. No ano passado, em pleno ano da guerra, o país está no top 4 das exportações russas. E as importações brasileiras de lá cresceram 28% no ano passado.

Os russos são um dos principais fornecedores de insumos agrícolas ao país, como adubos e fertilizantes. Segundo dados da Agrivalle, o Brasil importa 85% do montante de fertilizantes que consome. O primeiro vendedor ao país é a Rússia. E a China também é um grande exportador de fertilizantes para o Brasil.

Putin, à esquerda, aperta a mão do então presidente Jair Bolsonaro
Encontro com o Presidente da Federação da Rússia, Vladmir Putin, ao Brasil, em 2019. Foto: Marcos Corrêa/PR

De acordo com dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), o Brasil traz da Rússia 2 milhões de toneladas de fertilizantes e mais 2 milhões da Bielorrúsia. Além disso, o país consome uma fatia de 24% de toda a produção russa. Daí porque o então presidente Bolsonaro foi a Moscou um pouco antes da guerra: buscar garantias que o suprimento nacional não seria ameaçado pela guerra.

Importação de fertilizantes por país. Fonte: Governo Federal

Ao que tudo indica, a China parece querer tomar uma parte importante e buscar uma mudança na hierarquia da ordem mundial. O precedente foi aberto com a guerra na Ucrânia e a parceria China e Rússia pode dar outro rumo a esse evento. Portanto, o Brasil precisará de toda a diplomacia para não ter perdas econômicas.

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